Crítica | King Richard: Criando Campeãs – Will Smith dá seu melhor em forte drama esportivo

Com bastante equilíbrio entre o retrato de figuras reais com a dose açucarada da convencional emoção cinematográfica, de fato, King Richard: Criando Campeãs (King Richard) é um filme escasso em Hollywood atualmente. Uma obra que é puro entretenimento tocante – contada através de uma seriedade revigorante – mas que se esforça ao máximo para abranger da pobreza à riqueza enquanto constrói sua forte mensagem sobre nunca desistir dos sonhos, por mais inalcançáveis que eles possam parecer inicialmente.

Embora tenha a leveza de um filtro cor de rosa para suavizar seus conflitos e dar aquela acalmada nos dilemas mais densos – que talvez não encontrem encaixe aqui – a experiência, como um todo, é arrebatadora.

O filme facilmente subverte os previsíveis e entediantes dramas esportivos biográficos. E para coroar o rei, nada melhor do que uma das melhores performances de Will Smith (À Procura da Felicidade) em um bom tempo, algo que certamente o levará a receber uma digna indicação ao Oscar ano que vem.

A trama e o elenco

Uma vez que o roteiro e a direção sabem da grandeza (e nível de fama) das Irmãs Williams (dupla premiadíssima do tênis, formada pelas irmãs estadunidenses Serena Williams e Venus Williams), se torna fácil a jornada simples e direta de apresentação ao público – mesmo para quem não está familiarizado com as personalidades do esporte.

Essa liberdade criativa faz com que a produção possa se desvencilhar de convencionais clichês e, com isso, proporcionar uma diversão maior, sem as amarras de seguir um checklist de tudo que esse tipo de gênero precisa conter. Mas não se engane, as trivialidades estão presentes e ajudam na construção do clima, mesmo que cuidadosamente disfarçadas e diluídas pela trama.

Como grande parte do objetivo da trama é mostrar como uma família superou as dificuldades e criou um ambiente acolhedor e frutífero, o foco central está no pai, Richard Williams (Smith), um homem determinado, batalhador e honesto, que vê em suas filhas a possibilidade de, quem sabe um dia, sair da vida difícil que leva. Para isso, utiliza métodos intensos de treinamento com duas de suas cinco meninas – prodígios do esporte – fielmente confiante de que está diante das maiores estrelas do tênis. E, de fato, estava certo.

O enredo explora a relação de afeto, confiança e amor paterno, ao mesmo tempo que mostra a batalha densa e a responsabilidade que paira sobre os ombros de alguém que está destinado à algo grandioso. Will Smith convence do início ao fim de que este papel está sendo um abraço em seu coração e se entrega com todo seu carisma.

Sua performance é impecavelmente matizada, o que permite ao espectador questionar as verdadeiras intenções de Richard. O filme, felizmente, não teme mostrar os defeitos do protagonista. Ele é um pai amoroso, mas também um homem de negócios astuto. Ele pode ser um treinador inventivo, mas aí nos perguntamos se ele vê suas filhas apenas como uma forma de sustentar sua família, o que o torna um gênio do marketing. Ele pode ser desarmado, então uma fração de segundo depois, alarmantemente brutal. Mas você nunca o culpa porque ele está zelando por seu reino, como um leão na selva que é viver no mundo dos homens brancos poderosos.

Fora isso, o personagem também possui ótimas características de alívio cômico, um proveito astuto do magnetismo de Smith e sua facilidade natural com o humor. Saniyya Sidney e Demi Singleton, por sua vez, estão bem, mas acabam sendo ofuscadas pelo astro e pelo talento de Aunjanue Ellis (Lovecraft Country), que dá vida à mãe das jovens.

A direção

O que torna o roteiro de King Richard: Criando Campeãs tão diferente dos demais é o tema central ser de Richard protegendo suas filhas de atingir o auge muito cedo e, gradativamente, cair no lado mais sombrio das celebridades adolescentes. Como bem sabemos, um mundo perverso, repleto de drogas, álcool e degradação da saúde mental. Por mais que seus ensinamentos sejam intensos, o pai quer que as meninas tenham uma infância repleta de sabedoria, diversão e amor próprio.

Além do mais, outra grande relevância do roteiro está na capacidade de provocar reflexão sobre o racismo estruturado e o preconceito, uma vez que mostra que aquela família negra precisa se esforçar duas vezes mais para ter seu devido sucesso.

Convenhamos que tênis não é um esporte fácil de se criar tensão no cinema, no entanto, o diretor Reinaldo Marcus Green (Monstros e Homens) possui uma direção tecnicamente polida e encontra boas soluções para o desenvolvimento das cenas de ação, centralizando a emoção na reação do público e do pai das jovens. Funciona, intriga e nos imerge no sentimento de frustração pela perda e euforia pelos ganhos. Ainda assim, seu maior problema está mesmo na duração exacerbada, que deixa a trama uma vez ou outra lenta e maçante, como se não caminhasse para frente. Com algumas gordurinhas à menos, o resultado teria sido plenamente satisfatório.

Conclusão

Coberto por uma camada emotiva e açucarada – que sustenta sua poderosa e comovente mensagem de superação – King Richard: Criando Campeãs ultrapassa a fórmula previsível do gênero e se mostra um filme repleto de valores indispensáveis, reflexões inspiradoras e atuações de alto nível, especialmente do rei Will Smith, que – merecidamente – pode levar seu primeiro Oscar da carreira.

O drama oculta as partes mais intensas da realidade? Talvez! Mas o impacto emocional é forte ainda assim, uma vez que mostra como uma família desafiou as probabilidades e o racismo para alcançar uma grandeza genuína e honesta, afinal, o amor e o apoio familiar são sempre o melhor caminho para atingir os sonhos mais surreais. Richard cria suas campeãs, mas somos nós, espectadores, que ganhamos um conto potente sobre o porquê nunca devemos desistir.

Nota: 9/10


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