Crítica | Army of the Dead – Épico de zumbi pretencioso e exagerado

O aguardado retorno de Zack Snyder aos filmes de zumbis após marcar o gênero com a refilmagem de Madrugada dos Mortos, em 2004, finalmente aconteceu e, assim como tudo que envolve o seu nome na indústria do cinema desde então, vem mergulhado na pretensão. O diretor constrói um típico e genérico filme de assalto que segue à risca o manual de instruções e que pode ser definido como uma mistura conveniente entre Zumbilândia, Onze Homens e um Segredo e Esquadrão Suicida, porém, acredita fielmente estar descobrindo a roda e realizando o novo clássico instantâneo com Army of the Dead: Invasão em Las Vegas, novo épico da Netflix.

Se por um lado as longuíssimas duas horas e meia de duração, de fato, proporcionam momentos eletrizantes de diversão escapista, por outro, as alternativas se esgotam depressa, os personagens são rasos e o drama rouba o espaço da ação.

A trama e o elenco

Através de uma longa introdução de mais de 15 minutos, a trama tem um começo bastante promissor ao apresentar, logo de cara e sem firulas, a premissa, os personagens e o contexto em que a história irá se desdobrar. Certamente, a esse ponto o filme já fisgou o espectador, especialmente pelo senso de humor arcaico de Snyder e a o excesso de slow motion para impressionar, sua marca registrada e que, aqui, proporciona uma apresentação criativa do apocalipse zumbi que devastou a cidade de Las Vegas.

Após isso, é aí que a trama começa a mancar. O desenvolvimento dos inúmeros personagens leva mais de uma hora e a grande maioria nem interessante é para que possamos nos envolver emocionalmente e, por consequência, se importar quando sua morte finalmente chega.

No enredo de Army of the Dead, um pai com problemas de relacionamento aceita uma missão suicida de arrombar um cofre dentro de um hotel, no meio de Las Vegas, horas antes do lugar ser explodido por bombas atômicas. Se ele voltar vivo, pode ficar com uma parte significativa do dinheiro. À partir disso, monta uma equipe de pessoas com personalidades diferentes e segue rumo ao centro do apocalipse zumbi.

Dave Bautista (Guardiões da Galáxia) vive o protagonista e, apesar da falta de carisma do ator e a sua atuação engessada, o personagem funciona e possui mais camadas a serem exploradas em relação aos demais. Sua postura carrancuda esconde um bom coração, assim como um pai que deseja se reaproximar de sua filha – mesmo que, para isso, seja oferecendo dinheiro à ela.

Dos demais do gigantesco e desnecessário elenco, destaque apenas para jovem Ella Purnell (O Lar das Crianças Peculiares) e Nora Arnezeder (Protegendo o Inimigo). Apesar de cada personagem possuir suas próprias artimanhas e serem peças fundamentais para o plano – e o enredo – andar pra frente, cada um representa um arquétipo convencional e até mesmo suas mortes servem apenas como forma de intensificar o perigo ao redor do protagonista blindado. A química do elenco em cena também não é boa, fato esse que nos afasta ainda mais de manter uma conexão emocional.

A direção

De fato, após a chuva de críticas negativas que recebeu com Liga de Justiça antes de seu afastamento da produção do filme da DC por conta de uma tragédia pessoal, Snyder realmente prova que possui visão bastante ambiciosa de como transformar histórias simples em algo megalomaníaco. E, infelizmente, mostra que absorveu bem pouco desses conselhos.

Veja bem, sua condução aqui é enérgica nas divertidas cenas de ação, mas perde parte do ritmo por se prolongar demais em momentos desinteressantes e desenvolvidos apenas para parecer que o roteiro, superficial, é mais consciente do que ele de fato é. Já o humor, que deveria ser usado para não se levar assim tão à sério assim, como Zumbilândia faz tão bem, é fraquíssimo e feito apenas pela obrigatoriedade de que precisa haver comédia nesse tipo de obra. Piadas ultrapassadas, óbvias e que parecem terem sido escritas por uma criança entusiasmada com filmes B de terror.

Ainda que maçante e inflado para render uma produção de duração tão longa para os padrões atuais, há inúmeras incoerências e conveniências narrativas – como o tal tigre zumbi que é a “arma de chekhov” da história – fora o fato de diversas regras serem quebradas e/ou ignoradas apenas para ficar “cool” o momento – como quando um personagem sai ileso após uma mega explosão nuclear, sem que haja, pelo menos, uma gama altíssima de radiação no local – entre outros furos errôneos e problemas que beiram o absurdo, mesmo se tratando de uma trama de fantasia com mortos-vivos inteligentes. Aliás, os zumbis são rápidos, sanguinários e vingativos, algo que até funciona em certas histórias contemporâneas, mas, definitivamente, o diretor está muito mais preso no modelo videogame survival horror, carregado de efeitos especiais, do que em fazer um filme de zumbi raiz.

A parte técnica, por sua vez, não entrega seu melhor. A fotografia, típica dos filmes do diretor, está escura demais, especialmente nas cenas de ação noturnas ou internas. A maquiagem dos monstros é absurdamente ruim para uma produção tão cara. Até obras contidas como Invasão Zumbi ou mesmo The Walking Dead fazem um trabalho melhor e mais convincente do que esses zumbis parte digitais, parte maquiados apenas no rosto quando não são os “protagonistas”.

Com exceção da excelente trilha sonora e de alguns efeitos especiais bem realizados, pouca coisa realmente chama a atenção aos olhos. A identidade visual poderia ter sido singular, colorida e divertida, como é nos cartazes do filme. Total desperdício e, pelo teor do desfecho, deve ganhar uma sequência ainda assim.

Conclusão

Como tudo que envolve o nome de Zack Snyder, Army of the Dead: Invasão em Las Vegas é um épico (em duração) de zumbi inflacionado, pretencioso e exagerado, que mistura tropos de filmes de assalto para fisgar o espectador, mas que entrega apenas escapismo barato, mesmo acreditando estar reinventando o gênero. O que acontece em Las Vegas… definitivamente deveria render um filme bem melhor e mais interessante que este.

Nota: 6/10

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