Crítica | Em Guerra com o Vovô – Robert De Niro em comédia perfeita para toda a família

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De uns tempos para cá, a temática do envelhecimento tem se tornado cada vez mais forte em obras cinematográficas, ou talvez seja nossa sensibilidade com idosos que está mais aguçada após tantas vidas perdidas pela pandemia. Um fato é concreto: o assunto rende boas e deliciosas histórias, como vemos em obras premiadas como Minari: Em Busca da Felicidade e Meu Pai, porém, inserir o conceito em comédias escrachadas e infantis, por um lado nos permite se divertir de situações rotineiras provocadas pela idade avançada, mas por outro, quando a graça é cessada, restam poucas muletas as quais o roteiro pode se apegar para sustentar a emoção, algo que é tão essencial nesses enredos e que necessita de uma condução majestosa para funcionar. Nesse aspecto, Em Guerra com o Vovô (The War with Grandpa), peca pela ausência de substância, ainda que arranque facilmente boas risadas.

A trama e o elenco

Baseado no livro best-seller de Robert Kimmel Smith, o tom infantil certamente confunde o espectador que busca um tipo de humor mais inteligente, muito por conta da presença de astros de peso como Robert De Niro (O Irlandês), Uma Thurman (Kill Bill) e Christopher Walken (A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça) que, apesar de não terem seus talentos desperdiçados, já que a direção explora muito bem suas performances e consegue extrair comédia com facilidade, especialmente de De Niro e seu habitual ar carrancudo, as piadas são, em sua grande maioria, engessadas e ensaiadas demais. Falta naturalidade nas relações, já que a química da família caótica, que precisa abrigar um senhor de idade em casa, mas que, para isso, é preciso colocar o filho mais novo para morar no sótão, funciona e convence. A relação de amor e ódio entre o avô e o jovem Peter (vivido pelo talentoso Oakes Fegley) é pura doçura, algo que até nos dificulta em escolher um lado sobre quem está ou não certo nessa presepada.

Surpreendentemente, a temática “guerra” é bastante presente e serve como a reflexão maior a ser feita – além de, claro, aceitar as diferenças de quem a gente ama. O roteiro bate nessa tecla sobre os efeitos colaterais de confrontos e como uma guerra a gente sabe como começa, mas é impossível prevê como ela vai terminar. Quantas baixas terá e como isso deve afetar a vida do planeta. É interessante, especialmente por se tratar de um filme inocente, porém, ao excluir essa reflexão e focar na tal guerra entre os dois pela disputa do quarto, aí sim a substância vai embora. O plot, simples ao extremo, é estendido ao máximo para preencher mais de 1 hora e meia de filme. Em certo ponto, a trama se torna uma sequência desenfreada de pegadinhas estúpidas e os personagens são deixados de lado no desenvolvimento, que cai na tão temida previsibilidade.

A direção

A condução de Tim Hill (Alvin e Os Esquilos e roteirista da série de TV e dos filmes do Bob Esponja) tem um bom ritmo e dificilmente cai no tédio, já que a ação não para e as cenas mais dramáticas são curtíssimas. O diretor nada em sua zona de conforto por saber lidar com humor pastelão, especialmente com tons infantis, e momentos tão surreais e absurdos, que é necessário ligar a suspensão da descrença para digerir. Mas esse caminho tomado não é um problema gigantesco, afinal, para que o elenco sênior de Em Guerra com Vovô possa, de fato, interagir com as crianças, realmente necessita um empurrãozinho da descrença. Fora isso, os aspectos técnicos, como a trilha sonora brincalhona e as tais armadilhas criativas, estão coerentes com a aventura histérica, que lembra vagamente o espirituoso Esqueceram de Mim.

Conclusão

Com isso, roteiro elaborado e criativo não é o forte de Em Guerra com o Vovô e certamente deve desagradar quem busca uma ida marcante ao cinema, no entanto, ver Robert De Niro como um avô carrancudo e desajeitado é a maior diversão que se pode esperar de uma trama rasa, simples e descompromissada como esta. Com ótimas atuações, mesmo quando poderia ser muito mais, está longe de ser uma frustração e, sem dúvida, guarda uma doçura escondida nas reflexões que deve sobrepor o humor e abraçar corações necessitados por um bom e leve filme de família para assistir nesses dias de caos que vivemos.

Nota: 7/10

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