Se tem algo que o divertidíssimo Amor e Monstros (Love and Monsters) faz tão bem é proporcionar uma aventura criativa e original dentro de um filme que soa completamente familiar. Pode parecer simples, mas esse fato é raro no cinema atual e isso, por si só, já é um bom aperitivo para quem está na dúvida se dá uma chance para o novo longa da Netflix. O projeto, do novato diretor Michael Matthews, majestosamente sabe caminhar entre gêneros sem errar a mão, ao mesmo tempo que não teme explorar todas as nuances sentimentais de um romance construído com bastante química e que funciona dentro de um filme cujas criaturas possuem mais camadas que os humanos. E se tudo isso ainda não for o bastante, é importante lembrar que a produção está merecidamente indicada ao Oscar 2021, ou seja, uma surpresa agradável após a outra.
A trama e o elenco
Contextualizada em um apocalipse típico dos filmes mais genéricos, a trama se desvincula do óbvio ao deixar claro, desde o começo, que se trata de um romance cuja base é tradicional, mas a estrutura preza pelo senso de humor das situações absurdas e da existência de monstros gigantes após um colapso global que – por muito pouco – não levou a extinção da humanidade.
Dentro desse cenário caótico, a aventura, dos produtores de Stranger Things, assume ares de grandiosidade e lembra obras como Piratas do Caribe, tanto pela atmosfera quanto pela maravilhosa comédia que se arrisca a fazer enquanto mostra a busca solitária e angustiante do jovem Joel Dawson (Dylan O’Brien) por sua antiga namorada Aimee (Jessica Henwick).
Além da ótima interação entre o protagonista e Jessica Henwick (Punho de Ferro), Dylan O’Brien (Maze Runner) empresta todo o seu carisma para construir um personagem bastante humano, divertido e que conduz muito bem o espectador por esse mundo repleto de perigos constantes, fora o arco dramático interessantíssimo do personagem e sua jornada de aprendizado por esse futuro assustador. O ator está ótimo, como nunca esteve antes. Claro que a dupla Ariana Greenblatt (O Grande Ivan) e Michael Rooker (Guardiões da Galáxia) também serve para aliviar o clima denso de momentos repletos de terror ou quando o drama pessoal do protagonista pesa, mas é mesmo a composição do elenco, os laços emocionais, que faz todas as presepadas funcionar, fator muito raro em um filme desse porte.
Se pegarmos Godzilla vs Kong, por exemplo, entre muitos outros filmes de monstros gigantes, o núcleo humano é de longe o que possui menos destaque, algo que, dependendo do caso, é compreensível, porém, nessa obra aqui é o contrário: são os humanos que, no fundo, se transformam nos monstros da trama, enquanto os gigantes, carregados de compaixão e afeto, mexem com o lado emocional do espectador e promove reflexões inesperadas sobre a maneira superior em que os humanos se acham os donos do planeta. E por falar nas criaturas, os efeitos especiais e o CGI são um deleite para quem ama o cinema colossal. Não é à toa que Amor e Monstros conquistou uma indicação ao Oscar. O design de produção, tanto dos animais quanto da ambientação pós-apocalíptica, cria essa atmosfera envolvente, curiosa e entusiasmada de ser explorada.
A direção
A diversão genuína provocada por um roteiro simples, direto e inteligente não precisa de muito esforço para fisgar o público, porém, a condução de Michael Matthews nunca deixa o ritmo cair, muito pelo contrário, o diretor sabe dosar momentos dramáticos com cenas de ação espetaculares sem que um possa prejudicar o outro. Ainda que a trama leve mais tempo que o necessário na introdução, é aceitável que a construção de mundo tenha alguns deslizes e, em boa parte, abra mais perguntas do que entregue respostas, afinal, essa falta de base pode ser facilmente a solução para uma possível – e bem-vinda – sequência, focada em resolver lacunas deixadas nessa primeira história de origem. No entanto, obviamente a trama funciona perfeitamente isolada.
Conclusão
Dessa forma, a união de uma direção entusiasmada, elenco repleto de carisma e um roteiro inventivo torna Amor e Monstros um dos melhores e mais divertidos filmes do ano. Uma deliciosa surpresa agradável na Netflix que funciona tanto para quem ama a base das comédias românticas convencionais quanto para aqueles apaixonados pelo cinema de monstros gigantes. A aventura com Dylan O’Brien é envolvente e faz um gentil paralelo com o mundo real em que vivemos atualmente na pandemia, especialmente sobre encontrar afeto e esperança mesmo dentro do caos. Essa mistura perfeita de ação, humor e drama entrega um road movie pós-apocalíptico no estilo Zumbilândia, com uma história de amor similar às de John Hughes, e que deve se tornar um clássico instantâneo no streaming, pode apostar. E que venha uma sequência.