Crítica | Mais Que Especiais – História comovente sobre amor e empatia

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O sistema de saúde, em especial o de saúde mental infantil, é um tema pouco explorado pelo cinema e a obra francesa Mais Que Especiais (Hors Normes) acerta em fazer uma abordagem sensível, porém, incisiva sobre o assunto, sem pesar a mão no melodrama ou na forma como conduz a emoção no público. A comédia dramática explora a rotina caótica e singular das pessoas que se doam para cuidar de crianças e adolescentes autistas, enquanto o sistema do país acredita que a solução está no confinamento desses jovens. Com bom equilíbrio entre o lado emotivo e humor, o longa se destaca pela abordagem leve, doce e honesta, em contradição ao conteúdo denso que aborda.

A trama e o elenco

Ao dividir seu eixo em dois personagens centrais, o roteiro de Mais que Especiais, baseado na história real de um homem chamado Stephane Benhamou, faz ótimos contrapontos e, mesmo com ritmo lento e um desenvolvimento arrastado, acaba por não cair no completo tédio por conta desse vai e vem entre os protagonistas e suas diferentes formas de lidar com os jovens que necessitam de ajuda. Ainda que o enredo não tenha grandes saltos narrativos ou reviravoltas para entreter o público acostumado com a velocidade do cinema ocidental, há bastante qualidade no texto e nos diálogos, assim como a interação dos personagens. Bruno e Malik não poderiam ser mais diferentes. Bruno é judeu, Malik é árabe. Bruno é um solitário. Malik é um homem de família. Mas eles estão unidos por algo maior e suas oposições tornam a trama carregada de ensinamentos.

A outra força está na escolha do elenco: Vincent Cassel (Cisne Negro) e Reda Kateb (O Rio Perdido) possuem uma excelente química em cena. Cassel, em especial, conquista facilmente com seu carisma e sorriso simpático. Por outro lado, há muitos personagens secundários sendo explorados ao mesmo tempo, algo que acaba por deixar a narrativa mais densa, prolongada e que, por vezes, perde seu foco central. Nem todos os personagens são aprofundados como deveriam ter sido e esse desequilíbrio cansa o espectador menos interessado. Mesmo assim, há uma boa e bem-vinda normatização do autismo e o roteiro defende, com maestria, as singularidades de cada indivíduo, assim como deixa a mensagem de que as diferenças entre nós devem ser respeitadas.

A direção

A composição do ambiente, criada pela dupla de diretores Olivier Nakache e Éric Toledano (do ótimo Intocáveis) é simples e eficiente dentro do que a premissa se propõe fazer. No entanto, a virtuosidade está mesmo no trabalho de direção do elenco e na visível liberdade que os atores possuem para improvisar, algo que influencia diretamente a qualidade da emoção captada. Através do uso de câmera na mão, que pode sim trazer um certo caos para as cenas, há também mais profundidade no íntimo, tanto do lugar quanto dos protagonistas. Fora alguns deslizes no ritmo e no desenvolvimento da trama, a condução funciona sem grandes problemas.

Conclusão

Dessa forma, o roteiro de Mais Que Especiais é escrito com honestidade, clareza e humor, que entrega uma comédia dramática bastante comovente sobre respeitar as diferenças e ter empatia pelo próximo. Ainda que a intensidade esteja mesmo em seu talentoso elenco, a trama é uma brilhante representação de uma questão social ainda pouco explorada pelo cinema e que deve repercutir por conta da sensibilidade com a qual é retratada. Uma vez ou outra o ritmo lento incomoda o desenrolar da narrativa, mas a recompensa emocional do desfecho sem dúvida vale o tempo gasto.

Nota: 7/10

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