Crítica | Legado Explosivo – Liam Neeson liga o piloto automático em thriller previsível

É aquela velha história de sempre: “não queira se meter com a família de Liam Neeson”. Após bater ponto nas principais franquias de ação sobre vingança, o ator agora replica a fórmula em mais um desgastante thriller policial sem inspiração, cuja única força está no fato de ter em seu elenco um astro do gênero já marcado pelo público como “badass” implacável, porém, dessa vez, o ator vive um bandido que quer largar a vida do crime e se aposentar após conhecer o grande amor de sua vida. É nessa maré brega que navega a trama de Legado Explosivo (Honest Thief), filme que abre as grandes estreias do cinema no Brasil e inicia o ano com o gostinho amargo da falta de engenhosidade dos roteiristas de Hollywood.

A trama e o elenco

Acidentalmente, enquanto o roteiro “feijão com arroz” de Legado Explosivo explora o robótico e sem emoção protagonista, acaba por fazer uma reflexão (não planejada!) sobre o sistema penal americano e o racismo estrutural presente no mundo todo. O tal herói da história, o “ladrão honesto”, do título original, é um criminoso como qualquer outro, que, apesar do “bom coração” e do senso de justiça que a trama insiste em deixar evidente, trata-se de um homem branco que decide – voluntariamente – sair do mundo do crime e, como tal, consegue até mesmo apoio da polícia local e do FBI, por conta de sua fama e reputação de sucesso.

O fato do público (e os produtores, claro) consumir esse tipo de redenção e torcer o nariz para a comunidade negra, muitas das vezes presa injustamente, mas mantida lá por conta de sua cor da pele, faz perceber como o julgamento da sociedade e as facilidades do código penal tristemente funcionam de formas diferentes para pessoas brancas. Mesmo que a trama não toque em questões raciais, o roteiro falha com a tamanha superficialidade em como lida com os desvios de conduta do falso “Robin Hood” que somos obrigados a acompanhar.

Dito isso, vamos prosseguir, já que o marketing do longa está na presença ilustre de Liam Neeson (Busca Implacável) no elenco de desconhecidos e que, mais uma vez por acidente, deixa evidente as limitações do astro e sua falta de força e carisma para segurar nas costas um filme de quase duas horas. O ator segue tão semelhante aos personagens que costuma viver nos cinemas, que facilmente esse filme poderia se chamar algo como “Busca Implacável: O Legado”, além de, claro, sua personalidade engessada e sem nenhuma entrega emocional.

O piloto automático é ligado e só acaba a bateria quando sobem os créditos finais. Dentro desse emaranhado de superficialidades e facilidades do roteiro preguiçoso, a trama se desenvolve sem muito ânimo e peca no mínimo: falta ação e sobra um romance água com açúcar que não convence nem mesmo quem escreveu essa premissa. Além dos diálogos românticos dolorosos e constrangedores, a química entre o protagonista e sua amada, vivida pela atriz Kate Walsh (The Umbrella Academy), que só cumpre tabela nas lacunas entre uma ou outra cena de ação furreca, é escassa.

A direção

Não é apenas a falta de coragem do roteirista em sair da zona de conforto que aflige o longa, já que sua direção tem grande parcela de culpa nessa ausência de substância. O trabalho de Mark Williams (diretor de alguns episódios de Ozark) é raso, sem ritmo e falha na criatividade, especialmente nas cenas de ação e perseguição. As reviravoltas, por sua vez, são ruins e anticlimáticas demais para que possam surtir algum ânimo do espectador. Porém, enquanto o protagonista não faz nada além do habitual, o núcleo dos policiais corruptos (irônico né?), vividos por Anthony Ramos (Hamilton) e Jai Courtney (Esquadrão Suicida), é o que melhor entretém e, sem dúvida, rouba os holofotes.

Conclusão

Em Legado Explosivo, temos o bom e velho Liam Neeson replicando fórmulas em sua zona de conforto clichê, cuja maior derrota está mesmo em seu roteiro superficial, mal escrito e na ausência de equilíbrio entre o romance artificial e a ação monótona. Sem dúvida, um filme sem inspiração e que não chega aos pés dos melhores thrillers do ator, mas que evidencia o quão limitada é sua performance quando a trama depende apenas dela para decolar. Dizem por aí que não é bom brincar com a família do Liam Neeson, mas, dessa vez, é Liam Neeson quem brinca com a nossa paciência.

Nota: 3/10

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