Crítica | Bronx – Romantiza a violência policial como forma de fazer justiça

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O maior problema de ‘Bronx’ (também conhecido como ‘Rogue City’), apesar de ser difícil pontuar apenas um, está em sua ausência de ritmo e dificuldade de sair da caixa de ser um filme genérico de ação com policiais corruptos semelhantes a tantos outros. O novo Original francês da Netflix extrai a fórmula desse subgênero com maestria e replica em uma história repetitiva e vazia, cuja própria ação em si é feita de forma isolada e precária nas lacunas da trama, ou seja, as quase duas horas de projeção acabam sendo um verdadeiro teste de paciência no espectador. Mas a ladeira começa a descer já logo no começo, após uma enigmática cena de suicídio e violência animal (alguém chama o John Wick aqui!), que é claramente o roteirista sorrindo ao escrever e tentando dizer ao público que esse filme será “violento” e “implacável”, porém, na prática, a realidade é outra bem diferente.

A trama

A trama de Bronx, incialmente confusa e sem muito nexo, começa nos distritos do norte de Marselha, quando um massacre orquestrado pelo clã Bastiani ocorre. Dois rivais são encarregados da investigação: Vronski, policial do esquadrão anti-gangue, e Costa, líder de grupo que usa de práticas bastante questionáveis. A situação se agrava quando uma testemunha-chave é assassinada sob custódia policial. No meio da guerra entre gangues, Vronski e seus homens são forçados a fazerem escolhas que podem desencadear graves consequências. Ou pelo menos deveria, já que a narrativa apresenta seus personagens carrancudos (sem o menor carisma e empatia), não define exatamente quem será seu protagonista e ainda cai na breguice de usar a falsa sensação de estar fazendo “o certo” para justificar atos covardes e impetuosos vindo de quem deveria, na teoria, proteger a população e ser contra essa ideologia de “justiça com as próprias mãos”. Entre os rostos mais conhecidos, Jean Reno (O Profissional) vive o novo chefe da polícia local e não faz nada além de soltar algumas frases de efeito e impor sua personalidade robótica.

Os personagens, por sua vez, são todos a pura personificação do macho durão e implacável, sem sentimentos ou camadas a serem exploradas por um roteiro com o total de zero preocupação e fazer aquelas pessoas serem mais humanas, mais reais e menos robotizadas. Não há conexão com ninguém e isso afasta o espectador de uma maior imersão. As cenas de ação são isoladas, grande maioria escuras e mal enquadradas e culminam em um desfecho catatônico de tão horrível que, literalmente, destrói toda e qualquer afeição ou empatia que havia sido construída, tudo em prol de apenas chocar o espectador com uma violência gratuita exagerada e de mal gosto. Um prato cheio até as bordas para quem acredita que a solução para todos os problemas da humanidade está em exterminar “bandidos”, passando por cima da única coisa que ainda nos mantém íntegros: a própria justiça. Por exemplo, é uma comparação dolorosa, mas se pegarmos filmes como ‘Os Infiltrados’, de Martin Scorsese, fica mais claro como se deve fazer uma obra responsável e com sensibilidade dentro do aspecto da corrupção policial.

Direção

Vemos cenas de funeral, cenas de interrogatório, cenas de perseguição, tiroteio, mas nada realmente permite um mergulho mais sensível, nada conversa entre si. A sensação é de que o roteiro precisava encaixar esses momentos, típicos do gênero, para situar o espectador no tipo de filme que está assistindo, sem que haja qualquer qualidade, seja técnica ou narrativa, que o faça ser um legítimo thriller envolvente. O trabalho de condução de Olivier Marchal, famoso diretor de filmes de ação, é uma tragédia por si só, já que perde o controle de sua própria narrativa.

O ritmo de Bronx é demasiadamente arrastado e, quando a trama finalmente começa a tomar um rumo minimamente interessante, o diretor dá voltas e mais voltas em torno de nada e peca na construção de atmosfera de suspense. Marchal utiliza cortes excessivos nas cenas escuras de tiroteio e ainda falha no desenvolvimento de seus inúmeros personagens, que brigam o tempo inteiro por espaço em tela. Veja bem, a premissa, ainda que fora de sintonia com os tempos atuais, é boa e um pouco mais de trabalho no roteiro teria deixado a ação mais sólida e envolvente, mas, infelizmente, segue pelo caminho oposto e joga no lixo o pouco de potencial que poderia ter.

Conclusão

Dessa forma, ‘Bronx’ desperdiça boas ideias sendo um thriller policial tão genérico e sem graça que, se colocar água e tempero, vira um filme instantâneo, feito para consumir sem nenhum critério e que esfria antes de chegar na mesa do espectador. Além do mais, essa produção da Netflix vai contra o contexto atual e, com muito mal gosto, dá protagonismo e romantiza a violência e corrupção policial como formas de fazer justiça. Se as quase duas horas de puro tédio não te fazer desistir na metade, aguarde que o desfecho certamente vai deixar aquele sabor amargo de perda de tempo.

Nota: 3

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