Crítica | O Dilema das Redes – Documentário da Netflix é fundamental para a Era da desinformação

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Uma mistura criativa de realidade com ficção cria a identidade perfeita para ‘O Dilema das Redes’ (The Social Dilemma), premiado documentário da Netflix sobre o avanço desenfreado do mundo digital e a obscura Era da desinformação, que nasce desse imenso universo de opções e opiniões online. Construído através de inúmeros depoimentos de ex-funcionários de empresas grandiosas como Facebook, Twitter, Pinterest e Google, a narrativa, completamente envolvente e imersiva, expõe todas as fragilidades e manipulações das redes sociais através do ponto de vista de trás da cortina, de pessoas que foram contratadas para desenvolver ferramentas potentes, que servem para fisgar os usuários e nunca mais deixa-los partir.

Realidade vs ficção

Sem medo de abordar todos os temas possíveis dentro dessa gama de reflexões sobre o consumo viciante da internet, O Dilema das Redes toma o cuidado para não ser algo conspiratório ou mesmo contra a tecnologia, mas sim, convida o espectador para um passeio pelos bastidores, com informações que nós, usuários comuns, não deveríamos saber. Até mesmo do uso de técnicas da psicologia na forma como os aplicativos são desenvolvidos. Dentro desses depoimentos pertinentes e poderosos, vemos uma encenação fictícia de uma família cuja internet provoca todos os tipos de problemas. Essas cenas mostram como as redes sociais podem ser prejudiciais para as gerações mais novas, como afeta a autoestima e pode causar ansiedade, além do óbvio: mostrar que ninguém consegue viver sem seu smartphone do lado.

A narrativa é tão atual, que ainda sobra espaço para abordar o avanço das fake news no mundo, especialmente durante a pandemia da COVID-19, que vivenciamos nesse exato momento, e como a desinformação, propagada pelas redes sociais, tais como WhatsApp e grupos do Facebook, é tão danosa e perigosa, que elege líderes mundiais e põe em risco a democracia. Até mesmo o Brasil é mostrado como um exemplo absurdo de como um presidente, sem a menor experiência para o cargo, pode ganhar uma eleição com o uso sombrio e perverso de notícias falsas e manipulação digital.

Como um estudo em andamento, é muito cedo para dizer com certeza todas as consequências do avanço da internet, especialmente para o modelo de sociedade estabelecido pelas leis e regras naturais. Porém, vemos revoluções, guerras e mudanças significativas na busca por um mundo melhor e mais igualitário, mas, a internet também pode ser uma vilã na pele de cordeiro e desperta o lado mais obscuro e assustador do ser humano, já que provoca linchamentos digitais, limita diálogos e serve de máscara para que todo tipo de crime de ódio possa ser cometido, como vemos em outro bom filme da Netflix, Rede de Ódio. No documentário, que tem direção de Jeff Orlowski (Perseguindo o Gelo), esse debate é preciso e perspicaz, afinal, é difícil apontar o dedo para algo que está em constante modificação, como nada que já houve na história da humanidade.

Qualidade técnica

A montagem é divertida e funciona para expressar, em imagens, os exemplos que os entrevistados dão, já que o roteiro é extremamente completo e permeia diversos assuntos que, visualmente, de uma forma gráfica, penetra mais profundamente no espectador. Assim como o tema que aborda, o longa utiliza a tecnologia para expor o uso da tecnologia. Essa “hipocrisia” cinematográfica é divertida e curiosa, além da forma como o diretor encontra para mostrar como nós somos “zumbis” de grandes corporações sem nem ao menos nos darmos conta de que estamos fazendo, desde o primeiro minuto que acordamos até irmos dormir, tudo que foi premeditado. Ou seja, somos mesmo livres? Esse dilema sobre livre arbítrio é a cereja do bolo, que torna a produção muito mais essencial do que aparenta.

Conclusão

Extremamente atual, ‘O Dilema das Redes’ é um documentário poderoso e honesto sobre o rumo da humanidade em um mundo governado pela ausência de regras e limites das redes sociais. Muito mais do que essencial, o projeto da Netflix é obrigatório e deveria ser exibido nas escolas. Talvez, dessa forma, num futuro próximo, presidentes não seriam eleitos através de propagação de fake news e padrões de beleza não existiriam mais. Sem medo de mostrar que somos fruto de manipulação e com cuidado para não vilanizar a tecnologia, o longa é um verdadeiro soco no estômago sobre o quão prejudicial pode ser viver nesse universo de aparências que é a internet. É impossível usar seu celular da mesma forma depois de assistir esse filme.

Nota: 9

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