Crítica | Quase Uma Rockstar – O ‘Nasce Uma Estrela’ da Netflix

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Na contra mão das comédias românticas da Netflix, o intenso e doce ‘Quase Uma Rockstar’ (All Together Now) segue por um viés muito mais dramático e trágico que o habitual, especialmente pelo título nacional sugerir que esse seria apenas mais um filme pautado pela música, como Feel The Beat e ‘Dançarina Imperfeita, quando, na realidade, esse drama teen, baseado no livro best-seller do autor Matthew Quick (de ‘O Lado Bom da Vida’), tem muito mais a oferecer e utiliza a música não como elemento narrativo, mas sim como ponto de partida para algo mais profundo e interessante, porém, a maior qualidade que a produção possui é saber manipular os sentimentos do espectador durante toda a jornada de provação da protagonista. E põe provação nisso, já que todo o roteiro é um amontoado de tragédia que, uma após a outra, guia a trama por caminhos até mesmo exagerados, porém, tocantes.

A trama e o elenco

Quick, assim como outros autores, como o John Green (A Culpa é das Estrelas) tem como objetivo criar tramas jovens profundamente reflexivas e doloridas, que atingem seus leitores como um carro em alta velocidade, direto no coração. Desse texto rico em lágrimas e metáforas, é que brota a história de ‘Quase Uma Rockstar’, com a subversão que o filme faz na expectativa de quem começa a assistir acreditando ser apenas mais um filme de música convencional. Ainda que tenha umas poucas canções marcantes, o foco da narrativa está na relação da jovem Amber (vivida pela absolutamente carismática Auli’i Cravalho) com o mundo e com as pessoas a sua volta. A história é sobre saber receber ajuda e aceitar que ninguém está sozinho. Enquanto tem uma vida difícil ao lado de sua mãe, seu otimismo contagia e seu sonho de se tornar uma cantora a mantém forte, mesmo com os baques da vida. Porém, conflitos inesperados e grandes perdas surgem para que ela possa aceitar que precisa lutar ainda mais para ser feliz em um mundo realista e difícil, que passa longe de ser uma escola alegre da ‘Glee’ ou ‘High School Musical’.

A performance da jovem Auli’i Cravalho (dubladora de ‘Moana’) mantém a emoção nas nuvens, seja por seu enorme carisma ou pela forma como mergulha na dor da Amber, logo de início ela já conquista sem precisar de muito esforço. A personagem tem nuances interessantes, fora a ótima interação com a atriz Justina Machado (One Day at a Time), que vive sua mãe, e se sobressai entre tantas outras personagens centrais, feitas sob medida para agradar jovens que buscam filmes genéricos. Já o roteiro, todo trabalhado no intuito de fazer o público chorar até a última lágrima, é certeiro em desenvolver uma trama comovente, que cresce de forma gradativa, uma vez que mergulhamos na sua proposta e, ainda que use e abuse de estereótipos e clichês do gênero, como típico cachorro doente que cedo ou tarde vai sofrer, ao menos tem coragem de realmente provocar perdas significativas na vida dos personagens e, através disso, apresenta dilemas humanos sensíveis e reflexões que vão muito além de um romance teen. O mundo lá fora é cruel e frio e o roteiro sabe trabalhar, de forma bem didática, a empatia por quem está ao nosso lado.

A veterana Carol Burnett (Toy Story 4) também desempenha um papel doce e cativante, que eleva a protagonista e diverte com toda sua naturalidade ao viver uma senhora, já amargurada com a vida, que passa suas tardes assistindo ‘Breaking Bad’ no asilo. A relação materna entre as duas enriquece o roteiro de uma forma perfeita e propõe ainda mais discussão sobre as pedras que a vida coloca em nossos caminhos. O diretor Brett Haley (Por Lugares Incríveis) tem um olhar sensível e delicado sobre temas como luto e depressão que cai como uma luva para esse projeto, especialmente por conduzir as cenas mais melancólicas com momentos de silêncio e uma câmera que dá espaço para a personagem sofrer sem que seja interrompida.

Roteiro

Como um livro, com suas eventuais pausas na leitura, certamente a trama funciona melhor do que em um filme de quase duas horas. Na tela, os dramas em excesso se sobrepõem e o exagero pode afastar parte do público, principalmente por haver pouca entrega, já que, quando tudo se encaminha para melhorar naquele universo de tristeza construído, a história termina e o gosto agridoce pode ser amargo demais para alguns. Porém, a narrativa tem um ritmo tão bom e envolvente, que deixa a rara sensação de que viríamos mais um pouco. O crescimento da história é gradual e, cada minuto que passa, se torna ainda mais emocionante e deliciosamente interessante de ser acompanhada, mesma que isso signifique ter que relevar a enxurrada de tragédias que ocorrem ao mesmo tempo na vida da menina.

Conclusão

‘Quase Uma Rockstar’ é um drama teen avassalador, que atinge com força o coração e se destaca dos demais filmes vazios da Netflix. Sua montanha-russa de sentimentos conquista o espectador com bastante facilidade. Quando percebemos, já caímos em todas as armadilhas da comovente jornada de amadurecimento e perda da protagonista, vivida com muito carisma pela doce e talentosa Auli’i Cravalho. Sem dúvida, um daqueles filmes sutis, que passa por cima da gente com a intensidade de um ônibus e que deixa nossos sentimentos espalhados em cacos pelo chão. Não é maravilhoso quando o cinema proporciona isso?

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