Crítica | Código para o Inferno – Thriller dos anos 90 encontra seu público na Netflix

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No auge de sua carreira, Bruce Willis vive um agente do FBI que precisa proteger uma criança autista após a mesma conseguir desvendar um código secreto do governo por acidente. Essa é a premissa de ‘Código para o Inferno’ (Mercury Rising), lançado em 1998 mas que está fazendo grande sucesso na Netflix, certamente por ser um thriller policial que se inspira na clássica história de “filmes de uma babá quase perfeita” e subverte os conceitos para ser uma trama de ação, com clima sério e intenso. O roteiro, por sua vez, tenta desenvolver algo elaborado e complexo, mas resulta em escolhas burocráticas, que deixam o filme carregado demais, sendo que o seu ponto mais forte está na dinâmica entre o protagonista e a criança, vivida pelo ator Miko Hughes (que, aliás, é muito conhecido nos dias de hoje por ter virado meme na internet após uma participação em Full House).

Um fato é certo, além da ótima atuação do menino, outro elemento que engrandece o filme é a condução enérgica do diretor Harold Becker (Uma História de Vingança), especialmente na introdução intrigante da história, com o personagem dentro de um assalto à banco. Porém, essa energia começa a perder força no desenrolar da trama e volta se reerguer quando o universo do menino autista colide com o do personagem de Willis. Nessa montanha-russa, o roteiro segue com altos e baixos. Entrega boas sequências de ação, construídas através do suspense, mas não deixa de ser mais do mesmo. Ainda que tenha algumas cenas realmente destemidas, como a morte dos pais do menino, o clima sombrio se torna cada vez mais intenso e é visível a tentativa do diretor de desenvolver um perigo crescente, que envolve e abraça o espectador, mas essa sensação só se mantém nas cenas de perseguição.

Enquanto a trama faz o possível para aumentar a intensidade do perigo que cerca os personagens, a duração acaba não ajudando. Certamente, a redução do tempo encurtaria subtramas desnecessárias, que só servem para reforçar o papel dos vilões estereotipados, e deixaria a história com menos voltas e mais dinâmica, algo que funcionaria melhor, já que, apesar de boas, as cenas de ação e perseguição são saltitadas e distantes umas das outras. Esse buraco que sobra no meio delas, que deveria ser para desenvolvimento de personagens e para amarrar as pontas soltas, acaba sendo tedioso e cansativo demais de se acompanhar, especialmente pelo protagonista ser o sempre durão Bruce Willis, cujo forte não é a atuação, mas sim, a ação corporal. O ator constantemente vive o mesmo personagem e a direção aproveita seu carisma para justificar a escolha dele para o elenco. Bem, carisma não é tudo e nessa obra definitivamente falta mais entusiasmo.

A ambientação urbana e as sequências de ação pela cidade, em linhas de trens e no topo de edifícios, até são interessantes e remetem a outros filmes clássicos do gênero, que estava firme e forte nos anos 1990. Porém, ao beber demais da fonte, acaba se embriagando e não entregando um resultado à altura, já que se deixa levar por clichês e previsibilidades, algo que torna o clímax um completo caos. Toda a sequência do helicóptero é extremamente fraca e rasa, sendo que a promessa era grande. Ainda que o roteiro consiga (apressadamente) dar um desfecho para todos os inúmeros coadjuvantes inúteis que cria, a resolução da tensão entre o mocinho e vilão é típica de novela mexicana.

Com isso, ‘Código para o Inferno’ tem a nostálgica vibe dos filmes policiais do final dos anos 90 ao ser visto pelos olhos de hoje, mas se tirar o saudosismo, é um desperdício de elenco e de potencial. Na tentativa de desenvolver uma trama enigmática e intrigante, cai na burocracia e deixa a boa e velha ação em segundo plano. O roteiro está fora de sintonia com a direção e, se não fosse pela performance do jovem Miko Hughes, seria completamente esquecido, já que a atuação de Bruce Willis é a mesma desde que estreou nos cinemas, porém, aqui ele é uma babá imperfeita.

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