Crítica | Hotel às Margens do Rio – O sensível olhar de Hong Sang-soo sobre a depressão

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Com tantas possibilidades e um cinema cada vez mais temático e grandioso, nosso olhar parece estar perdendo o interesse por obras simples e contemplativas, como ‘Hotel às Margens do Rio’, filme sul-coreano do diretor Hong Sang-soo (Na Praia à Noite Sozinha), que tem como principal objetivo ser um estudo artístico sobre a depressão e a morte, com uma narrativa calma e monótona, que explora os últimos dias de um poeta que está hospedado em um hotel isolado e que acredita plenamente que irá morrer em breve. Nessa jornada fúnebre, ele recebe a visita de seus filhos e começa também a mudar, de forma singela, a vida de uma jovem triste que reside no local.

Para começar a se envolver na premissa, é preciso compreender que a viagem é demasiadamente lenta e apreciativa, algo que pode provocar  tédio em alguns espectadores que talvez estejam esperando por mais conflitos. A trama, em si, assim como a produção, é extremamente simplista. Apenas uma câmera em cena, longas tomadas de longos diálogos e nada muito além de se passar a grande maioria nos arredores do hotel. Dessa maneira, o longa acerta em um ponto interessante: o conteúdo dos diálogos. Com um elenco de apenas cinco personagens, o texto aborda relações amorosas, solidão, morte e poesia, entrelaçando os núcleos e fazendo com que a interação dos personagens seja singela e verossímil. Especialmente do protagonista, vivido pelo ator Ju-bong Gi, com seu filho mais novo, interpretado pelo ator Yoo Jun-sang, em uma cena intensa de conversa em um restaurante.

Porém, se por um lado acerta no roteiro simplista e direto, por outro é insuficiente na intensidade e ritmo. Não há nuances dramáticas na trama, não há conflitos e sua narrativa vence pelo cansaço. Falta uma pitada de tempero para deixar a história mais emocional e marcante, principalmente por conta de seu tom melancólico e pessimista, aliás, tanto a falta de esperança da premissa quanto seu desfecho intenso, são gatilhos perigosos para qualquer um que esteja passando por problemas e, ainda que a arte seja um reflexo da realidade, é preciso assistir com cautela. O diretor coloca toda sua sensibilidade na solidão do protagonista e usa narração em off para que possamos mergulhar em sua mente, mas acaba não trabalhando tanto assim seus personagens, a ponto de não sentirmos suas dores. A simplicidade se transforma em superficialidade.

A atmosfera de isolamento e o clima frio, somado a fotografia pálida, feita em preto e branco, além de dar ao filme o ar cult que o diretor sustenta em suas obras anteriores, também transforma aquele hotel quase que em um purgatório, onde os personagens precisam lidar com seus dilemas para poder seguir em paz (ou não!). Os filhos precisam se reaproximar do pai, a jovem precisa superar a traição do marido, o poeta luta para vencer a depressão. Ou será que luta mesmo? Na verdade, o protagonista aceita seu destino e não quer se ajudado, ele abraça sua melancolia e, em forma de poesia, se despede. Nas camadas mais profundas há também debates existencialistas sobre paternidade, amor verdadeiro e reflexões pontuais sobre o significado da vida.

Dessa forma, há uma estranha beleza no olhar sensível de Hong Sang-soo sobre a depressão em ‘Hotel às Margens do Rio’ e na forma poética como filma longos diálogos, muito semelhante ao estilo Woody Allen. Porém, há também monotonia e falta de ritmo, que acaba não permitindo que a história tenha toda a carga emocional que necessita ter para fisgar o espectador. Uma produção extremamente simples, direta e contemplativa, que peca por seu pessimismo melancólico, mas que tem muito valor nas reflexões que provoca. Sem dúvida, um tipo de cinema que está em extinção, principalmente nas grandes salas de cinema, mas que precisa ser consumido devido ao rico olhar artístico do cinema de arte sul-coreano.

O longa será lançado pela Pandora Filmes na plataforma digital BELAS ARTES À LA CARTE, a partir do dia 28 de maio, a preço promocional de R$ 12,90. Para acessar o site, clique aqui.

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