Crítica | Ricos de Amor – Comédia romântica com cara gringa e raiz nacional

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O estilo shakespeariano é uma das características mais presentes nas comédias românticas, em especial, as da Netflix. O gênero, que se mostra extremamente eficiente em streaming, segue algumas convenções clássicas, que constrói sua trama e seus dilemas em torno de opostos, como o do rico e do pobre, por exemplo. O convencional modelo “Romeu e Julieta”, por si só, é desejado pelos roteiristas por apresentar diversas vertentes que podem gerar conflitos interessantes. Porém, esse estilo precisa ser bem utilizado para que funcione sem ser apenas uma grande enxurrada de clichês. Por sorte (ou de tanto ver outras obras iguais), ‘Ricos de Amor’, nova comédia romântica nacional da Netflix, segue fielmente o manual de como criar uma trama tendo como base um casal que vive em mundos diferentes, mas faz com bastante entusiasmo e diversão.

Essa sensação de ser uma réplica de comédias estrangeiras obviamente existe, mas o roteiro consegue contornar a estrutura “feijão com arroz” com elementos interessantes, tocando em temas diversos e até mesmo surpreendendo em algumas ocasiões, já que a premissa mostra um jovem podre de rico, playboy e irresponsável, que não tem a menor noção de como funciona o mundo, no entanto, ao conhecer uma menina, pela qual se apaixona, decide sair da fazenda de seu pai, no interior do Rio de Janeiro, e ir morar na cidade grande, enquanto luta por uma vaga na empresa da família. Como podemos prever, ele começa a mudar seu ponto de vista conforme descobre que existe vida além de si próprio. Essa mudança de caráter e personalidade é também o centro da trama, especialmente pelo fato do jovem trocar de identidade com seu amigo, filho dos funcionários da fazenda, para que ele possa passar perrengues que trarão a comédia para a história.

Comédia essa muito boa por sinal, ainda que pastelão. O humor é criado através de inúmeras situações cômicas, geradas por essa presepada de rico vivendo como pobre. Nada de muito original ou inovador, mas que, como citado, funciona pelo tom da proposta e pelo trabalho dedicado do elenco, especialmente Danilo Mesquita, que consegue sobrepor algumas camadas ao personagem, que passa de galã escroto, ao melhor estilo psicopata Joe (da série ‘Você’), para alguém que só não conhece o mundo por ter sido criado em cativeiro. Já Giovanna Lancellotti vive a “mocinha”, mas não se engane, se ela é a Julieta dessa história, sem dúvida é uma Julieta empoderada, dona de si e que precisa lidar com situações de assédio no trabalho. A atriz está espetacular, sem dúvida, uma performance que se destaca por ser natural. Mas quem rouba mesmo a cena é a atriz Lellê, completamente divertida, inclusive, sua subtrama na favela é o ponto alto do filme.

A direção da dupla Bruno Garotti e Anita Barbosa é ágil e funciona na proposta novelesca. O investimento em drones faz tomadas bonitas, fora algumas cenas que possuem boa composição. A narrativa é dinâmica, não perde muito tempo em apresentar os personagens e já caminha desenfreada rumo aos conflitos. Além disso, há temas interessantes e indispensáveis sendo trabalhados nas camadas mais profundas, ainda que superficialmente, há debates sobre privilégios, assédio e preconceito, basta sintonizar na mesma frequência para absorvê-los, e não só prestar atenção nos beijos e na comédia pastelão que, aliás, é puramente isso. Com o selo ‘Turma do Didi’ de piadas clichês e bobas.

Dessa forma, ‘Ricos de Amor’ é sim uma piscina funda de clichês e situações que forçam o humor e o romance, mas se salva pela química boa do casal protagonista e por se esforçar para mostrar diferentes realidades, de diferentes jovens, dentro de uma mesma cidade. Quando gasta seu precioso tempo fazendo pontuais críticas sociais, é uma comédia inteligente e consciente de suas presepadas, mas quando usa o humor para distrair seus clichês, é mais do mesmo. E para ser mais do mesmo entre tantas, é um bom sinal de que, de fato, cumpre todos os requisitos para ser uma comédia romântica da Netflix. E, ainda que tenha defeitos irreparáveis, é melhor que muitas outras estrangeiras disponíveis no catálogo.

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