Crítica | Atômica – Charlize Theron está furiosa em filme de ação na Netflix

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Assim como a franquia ‘John Wick’ agregou um gás incrível aos filmes de ação corporal, é possível dizer que ‘Atômica’ (Atomic Blonde), disponível na Netflix, eleva, com bastante excelência, os filmes de ação com mulheres protagonistas. E não é apenas isso que essas duas obras têm em comum, já que são comandadas pelo mesmo diretor, David Leitch, um sujeito criativo e que sabe, como poucos, unir ação desenfreada com humor, em tramas elaboradas e divertidas, como também faz com os dois ‘Deadpool’. Seus filmes são estilosos e não passam despercebidos, principalmente quando a protagonista é o furação Charlize Theron (Mad Max).

A trama, baseada na graphic novel ‘The Coldest City’ (2012), é ambientada em Berlim, no final dos anos 80, durante a Guerra Fria e o contexto da queda do Muro que dividia a nação, e se desenvolve de forma não linear, ao mostrar a protagonista, uma agente disfarçada do MI6, explicando como conseguiu realizar sua missão secreta para recuperar uma tal lista, com nomes importantes para a agência. Através dessa premissa, com muito estilo, a narrativa percorre caminhos intrigantes e misteriosos, sem deixar de lado a boa e velha ação com perseguições, porradaria e tiroteio, tão necessária para esse tipo de obra. Porém, com o adicional de ter lutas acrobáticas inteligentes e uma trilha sonora eclética icônica, com clássicos dos anos 80, que nos transporta, com maestria, para a época e que ainda dá um ritmo frenético à toda a correria.

A história em si segue padrões já pré-estabelecidos e não foge de alguns clichês, típicos desses filmes de espionagem, como ter um objeto (nesse caso, a tal lista) que funciona como uma espécie de “MacGuffin”, ou seja, um dispositivo do enredo que o protagonista persegue e, dessa forma, move a trama para frente. Apesar de aqui ser trabalhada a montagem paralela e algumas linhas do tempo, que podem dar um nó na cabeça do espectador menos atento aos detalhes. Ainda assim, não é tão complexo quanto parece ser, já que os personagens costumam explicar seus planos com frequência, outro elemento típico do gênero e que, infelizmente, acaba empobrecendo o roteiro de certo modo, mesmo que o diretor utilize algumas alegorias e metáforas visuais para o engradecer em outros aspectos, como em um determinado momento, quando os personagens passam por um cinema que está exibindo o filme ‘Stalker’, clássico do diretor Andrei Tarkovski, que dialoga diretamente com esse filme por ser uma obra transgressora, que foi exibida em todo o território da União Soviética, praticamente sem cortes da censura.

E é dessa inspiração ousada, que nasce umas das sequências mais elaboradas e de tirar o fôlego: a cena da luta na escada do prédio e a perseguição de carro. Ambas realizadas através da técnica do falso plano sequência, ou seja, sem cortes visíveis. Os personagens se machucam e ficam inchados durante a luta que, sem a presença de cortes, se torna realmente impressionante. A direção de Leitch é perspicaz e brinca com as possibilidades de forma destemida, assim como a entrega descomunal de Theron ao papel, que caiu como uma luva para a atriz, que está ainda mais badass. Além, claro, da presença marcante e até mesmo divertida de James McAvoy (Fragmentado), uma espécie de vilão/alívio cômico, que esbanja carisma. Dessa forma, com as engrenagens trabalhando intensamente, a direção de arte recria, com vigor, os figurinos da época, na melhor pegada punk rock, e a direção de fotografia é um espetáculo à parte, com tons azuis, cinzas e muito neon para dar estilo. Sem dúvida, a parte técnica é impecável.

E é com um tom violento e sem escrúpulos, que ‘Atômica’ eleva ao nível de excelência os filmes de ação. Ainda que sua trama caia em algumas conveniências típicas do gênero, as sequências de lutas acrobáticas são elaboradas, estilosas e de tirar o fôlego, igualmente impressionantes com a pancadaria desenfreada de ‘John Wick’. Além disso, a atmosfera punk rock do final dos anos 80, a fotografia neon e a trilha sonora repleta de clássicos, transformam esse filme em uma obra enérgica, instigante e feroz, indispensável para os amantes do gênero. Charlize Theron está mais furiosa do que qualquer filme de ‘Velozes e Furiosos’.

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