Crítica | Code 8: Renegados – Mais realista e violento que os X-Men

Não tem nada mais doloroso no cinema do que ver uma boa história sendo desperdiçada. Ainda mais quando essa ideia, original e diferente, tem potencial de se tornar uma franquia de sucesso. Essa é a exata sensação que dá ao assistir ‘Code 8 – Renegados’, ficção científica que acabou de entrar para o catálogo da Netflix. Mas, antes de lamentar o desperdício, vale ressaltar que o filme tem seus pontos fortes e que funciona muito bem dentro do que se propõe, deixando a desejar apenas em detalhes, infelizmente, cruciais para tornar o projeto uma ideia singular em meio a tantas outras semelhantes, como ‘Poder Sem Limites’ e o ótimo ‘Distrito 9’, filmes que certamente serviram de inspiração. O lado positivo é que, mesmo se parecendo com muitas coisas, até mesmo com a premissa idealista dos X-Men, o roteiro de ‘Code 8’ soube aproveitar essas similaridades em benefício próprio, ou invés de fazer apenas um copie e cole.  

A trama, criativa, nasceu em um curta-metragem que, após fazer sucesso na internet, ganhou sua versão para os cinemas e se passa em um futuro cyberpunk, onde a humanidade convive com pessoas com poderes, muito semelhante aos mutantes da Marvel, porém, mais realista e violento. Nesse contexto, conhecemos o protagonista e seus dilemas sociais, em uma sociedade cujos humanos com poderes são caçados e presos por serem consideramos aberrações e uma ameaças para a população. Nessa mensagem submersa, a trama propõe ótimas reflexões sobre as diferenças, preconceitos e exclusões que muitas vezes fazemos com pessoas diferentes de nós. Esses dilemas morais, alegorias e metáforas, assim como acontece em filmes de super-heróis, são ricos, valiosos e envolventes. Porém, se acerta em sua criação e desenvolvimento de mundo, erra na narrativa lenta e repetitiva.

A direção de Jeff Chan (O Mistério de Grace) é sensível, ao dedicar tempo além do habitual para desenvolvermos empatia pelos personagens, mas começa a se repetir e dar voltas em torno de nada da metade para o final, sem contar que acaba deixando de lado um elemento crucial para esse tipo de filme funcionar: a ação. Não que não tenha boas cenas de ação, até há algumas envolvendo robôs, mas são isoladas e acabam se perdendo no meio de tanto drama dos personagens e suas vidas pessoais. O protagonista, vivido pelo ator Robbie Amell (Flash), que é primo do colega de elenco, o Stephen Amell (Arrow), entrega emoção para desenvolver um personagem que, desde do início, se autodeclara ser um “tomate”, por conseguir esconder seus poderes e se disfarçar entre dois mundos, como o tomate, que é um legume e uma fruta ao mesmo tempo. Seus poderes envolvendo a eletricidade o faz ser um super-humano poderosíssimo e, com isso, cobiçado por gangues que usam seus dons para ganhar dinheiro. O ator entrega a intensidade ideal, sem altos e baixos.

Mesmo com poucas cenas de ação, o ritmo é bom e a trama caminha para frente até boa parte da história, quando começa a circular em torno de nada para encher linguiça e conseguir mais alguns minutos de duração. Outro ponto positivo é, sem dúvida, os efeitos especiais, surpreendentemente bons para um projeto pequeno como este. Os poderes são bem realizados e, seja a jovem com as mãos que pegam fogo ou o menino com telecinese, a parte técnica é impecável, assim como os robôs policiais, que lembram coisas que veríamos em um filme futurista, ao melhor estilo RoboCop, até mesmo a ambientação urbana é conveniente com esse tipo de história, vista também em filmes como ‘Chappie’.

Dessa forma, mesmo com a ausência de cenas interessantes de ação, ‘Code 8: Renegados’ opta por trabalhar as camadas de seus personagens e os dilemas morais em uma sociedade doente de preconceito. A pegada “videogame futurista” agrada, entretém e não faz feio dentro desse gênero de filmes cyberpunk. O problema é que sua premissa é boa demais, rica demais, para uma obra tão limitada como esta, sendo que renderia uma ótima série de TV. É um triste desperdício de potencial, muito mais notável por sua ambição de desenvolver um mundo singular, do que por sua execução.

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