Crítica | As Primeiras Férias Não se Esquece Jamais! – Comédia espirituosa explora os relacionamentos modernos

Road movies, no geral, funcionam muito bem quando é a comédia o motor que alavanca a história. Com diversos cenários para serem explorados e uma jornada de altos e baixos na vida dos personagens, é difícil ficar com tédio. E é dessa boa energia que a comédia francesa ‘As Primeiras Férias Não se Esquece Jamais!’ (Premières Vacances) embriaga sua trama afim de entregar uma divertida e instigante jornada de um casal que decide passar as férias juntos logo após se conhecerem através de um aplicativo de relacionamento. Tendo os amores líquidos como subtexto, o longa se aprofunda, com muita precisão, no desenvolvimento de seus personagens e conquista pela proposta leve e espirituosa em que lida com as dificuldades do cotidiano.

O roteiro por si só já é teatral e se desdobra através de uma sucessão de pequenos problemas durante a viagem de Marion (Camille Chamoux) e Ben (Jonathan Cohen) para a Bulgária, sempre equilibrando, com muita maestria, o drama com o humor, sem que um possa ofuscar o outro. Aliás, a trama tragicômica diverte sem a necessidade de apelar para piadas forçadas ou um humor escrachado, pelo contrário, as situações divertidas servem também para a construção dramática dos seus protagonistas e, mesmo que as vezes algumas ideias possam extrapolar os limites em busca do riso, ainda assim, conseguem ser hilárias e bem representadas pelo elenco.

Aliás, a dupla, formada por Camille Chamoux e Jonathan Cohen, é o alicerce que segura a história do começo ao fim. A química convence e eles possuem uma excelente vocação para fazer comédia com naturalidade, em especial, Cohen, com suas caras e bocas peculiares diante de situações absurdas. As personalidades opostas e as desavenças dão profundidade e enriquecem a história. Certamente, a direção de Patrick Cassir tem inspirações em filmes como a trilogia ‘Before’, principalmente por conta da busca pela veracidade no amor do casal, que também utiliza o improviso para passar ainda mais credibilidade de que estão se divertindo em seus papeis assim como seus personagens. Dessa forma, o trabalho de Cassir com o elenco é satisfatório, assim como suas escolhas narrativas e os planos mais ritmados em alguns momentos de aventura.

Ainda que seu ápice seja a comédia gerada pelas desventuras do casal, o roteiro encontra espaço para trabalhar o romance e também o drama, sendo esse último um verdadeiro triunfo inesperado, já que consegue até mesmo emocionar, exatamente por conta da construção de carisma dos protagonistas ao longo do filme que, quando estão sofrendo, sofremos juntos. Porém, há desequilíbrios e o principal deles está no excesso de personagens coadjuvantes rasos e mal utilizados, assim como subtramas que, ainda que possam levar à alguns momentos engraçados, tornam a história demasiadamente encharcada, quando é a leveza sua maior dádiva. Fora isso, o ritmo segue bom e a viagem dos pesadelos aborda temas importantes como uso descontrolado da tecnologia, relacionamentos modernos e como o amor nasce da convivência.

Por conta da ótima química entre os protagonistas e o inventivo humor francês, ‘As Primeiras Férias Não se Esquece Jamais!’ é uma surpresa agradável, leve e descontraída que, além de fazer refletir sobre relacionamentos contemporâneos, ainda entrega situações hilárias, que são difíceis de segurar o riso. Certamente o roteiro se inspira em road movies românticos para cumprir a proposta de fazer o espectador ter bons momentos enquanto assiste e, mesmo que seja um grande remendo de diversas histórias já existentes, a jornada do casal é o mais puro e delicioso caos, irresistível de não apreciar.

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