Crítica | O Melhor Está Por Vir consegue ser comovente e caloroso ao mesmo tempo

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É seguro afirmar que a dramédia francesa ‘O Melhor Está Por Vir’ (Le Meilleur reste à venir), é uma vertente criativa e muito bem-vinda da típica comédia romântica americana e, por conta disso, subverte inúmeros clichês do gênero ao dar espaço para que um outro tipo de amor possa ser explorado: o amor da amizade. Dessa forma, o roteiro abraça, com vigor, todas as passagens importantes de uma convencional comédia romântica e, plenamente consciente disso, desenvolve uma dinâmica divertidíssima entre dois amigos que cresceram juntos e agora precisam aprender a conviver com a dor da despedida. Até aí, tudo bem, mas para as comédias francesa, cujo humor geralmente é sofisticado e pé no chão, há uma carga emocional muito presente, que aproxima o longa de outras obras dramáticas, como do ótimo ‘Intocáveis’ (2012) e também o afasta da previsibilidade de outras, como ‘Antes de Partir’ (2007).

O roteiro, apesar de não ser um exemplo de originalidade, bebe da fonte de outras narrativas e funciona, com muita perfeição, dentro do que se propõe, além de sabe dosar o drama com o sentimentalismo de forma natural e fluida. O humor, quase pastelão, por outro lado, acaba sendo o elo mais fraco da corrente, por conta de algumas piadas exageradas e de momentos desnecessários, mas nada que possa atrapalhar o divertimento de um modo geral. Se por um lado há excessos, por outro, a relação entre os dois personagens principais flui que é uma beleza, com tamanha química que os atores possuem em cena. E põe química nisso. Fabrice Luchini (Dentro da Casa) e Patrick Bruel (Paris-Manhattan) são, definitivamente, os alicerces da trama e esbanjam carisma como se vê em poucas duplas no cinema. Ambos conseguem ir do drama à comédia com muita facilidade e as personalidades opostas dos seus personagens se complementam. Enquanto Arthur (Luchini) é caseiro, contido e sério, César (Bruel) é folgado, solto e debochado. Um equilíbrio coerente, para instigar a abordagem espirituosa sobre doença e morte.

Já a trama, é puramente uma confusão cômica, que se constrói em torno da dificuldade que Arthur tem em contar para César que o mesmo está com câncer em estado terminal. Esse fato permite desventuras em busca de realizar os últimos desejos antes de, de fato, morrer. Com isso, a premissa, como de costume, vem carregada de aprendizado e mensagens positivas sobre aproveitar a vida antes que seja tarde demais. O problema, muitas das vezes nesse tipo de obra, é não saber construir e trabalhar a emoção no espectador sem apelar para artimanhas, como trilha sonora, por exemplo, algo que a dupla de diretores Matthieu Delaporte e Alexandre De La Patellière (de ‘Qual É o Nome do Bebê?’) consegue com facilidade, por conta do ótimo desenvolvimento da amizade dos protagonistas e por escolhas narrativas, ritmo dinâmico e planos aproximados, que buscam fugir do convencional, ainda que seja um trabalho contido e relativamente simples de direção.

Ainda sobre o ritmo, como já citado, é dinâmico e instigante, mas se alonga pela duração desnecessária do filme. A história, de quase 2 horas, seria ainda mais envolvente caso houvesse alguns cortes para tirar sobras, subtramas e repetições que acabam pesando no resultado. Com isso, ótimas cenas, como a do jantar no restaurante, em que, inclusive, passa uma mensagem contra o preconceito sem forçar a barra, poderiam se estender, assim como alguns momentos emotivos do desfecho que, por sinal, consegue ser comovente e caloroso ao mesmo tempo. Até mesmo o uso da trilha e de frases de efeito funcionam, por serem bem colocadas e condizentes com os determinados ápices de melancolia.

Com isso, ‘O Melhor Está Por Vir’ subverte, de forma inteligente e prática, a típica comédia romântica ao colocar um casal de amigos como o foco de sua narrativa e trocar o romance por uma amizade palpável. A performance dos atores protagonistas, que visivelmente se divertem juntos em cena, exala química e fascínio, além de um roteiro que equilibra o drama com a comédia sem permitir que um possa ofuscar o outro. Ainda que possua alguns exageros e excessos, consegue ser uma comovente mensagem sobre aproveitar a vida sem medo, fora que a reflexão proposta pelo desfecho sensível perpetua em nossa mente por um bom tempo após o filme acabar. O humor francês, como sempre, é primoroso.

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