Quando o primeiro filme de Pokémon chegou aos cinemas, lá em 1998, a febre pelos monstrinhos estava no auge e a produção elevava ainda mais o nível de empolgação pelo universo criado pelo designer de jogos eletrônicos Satoshi Tajiri. Acontece que muito tempo se passou desde o grande ápice da franquia e hoje, com toda a tecnologia disponível, a história precisou se reinventar, já que somente a nostalgia não é capaz de justificar projetos como o live-action ‘Detetive Pikachu’ e a animação da Netflix ‘Pokémon: Mewtwo Contra-Ataca – Evolução’, um remake extremamente idêntico, feito em 3D, do primeiro e mais importante filme da franquia. Enquanto um funciona por ser fiel ao material de origem, mas servir como uma homenagem, o outro replica a mesma fórmula do clássico, sem tirar nem pôr, porém, com a metade do carisma.
De fato, a procura do público infantil por animações em 2D reduziu a quase zero após a popularização de filmes como ‘Frozen’ e ‘Toy Story’, obras essas que tiveram tanto impacto na geração, que determinaram que o futuro seria em 3D, e que fazer projetos em 2D seria um total desperdício de tempo e dinheiro. Isso explica o fato de Pokémon, finalmente, ter uma releitura para esse formato, já que estamos em uma nova geração de crianças nascidas após o fenômeno que a franquia foi no final dos anos 1990 e começo dos anos 2000 e, apenas por conta disso, esse remake genérico se justifica. Os fãs, já adultos, podem ter sido fisgados pela nostalgia de rever momentos marcantes da infância, mas é preciso ter em mente que essa animação não foi desenvolvida e nem pensada para agradar esse público. Se tirar isso do caminho, é aceitável que esse filme seja uma porta de entrada das crianças para o universo fantástico dos Pokémon. E isso é bom e faz sentido que sua plataforma de distribuição seja a Netflix.
Ainda que siga à risca todo o roteiro (e até mesmo os enquadramentos) da animação original, dessa vez o foco é (ou finge ser) o lendário Pokémon Mewtwo, que decide revidar após ter sido criado em laboratório por experimentos científicos. O prólogo, que mostra esse nascimento, é mais longo que o anterior, apesar de não trazer nenhuma novidade, serve apenas para preencher tempo e disfarçar lacunas. Após isso, a trama engata o acelerador e segue a jornada de Ash, Misty e Brock rumo a ilha New Island, para participar de um campeonato, com a chance de enfrentarem o treinador Pokémon mais forte do mundo. Porém, no lugar, descobrem que esse tal treinador é Mewtwo, com um exército de Pokémon clonados. Sendo as únicas novidades os cenários deslumbrantes, desenvolvidos com bastante sofisticação pela computação gráfica, ao melhor estilo “cutscene” de games, a animação é apenas isso e nada mais.
Ainda assim, o interessante dessa nova versão, é enxergar os erros que a original possui, mas que são disfarçados por ser uma história realmente divertida, com ápices de ficção científica, suspense e momentos emotivos. O charme do 2D, os traços clássicos do anime e sua estética dissipam, com facilidade, os eventuais defeitos, algo que tem o efeito completamente contrário agora. O excesso de tecnologia e realismo nos cenários e nas criaturinhas acabam evidenciando os pontos fracos da trama, dos personagens e até mesmo dificultando o envolvimento emocional em cenas como a batalha dos clones e a suposta morte de Ash, passagens extremamente marcantes dentro da franquia de filmes, mas que possuem menos impacto nesse formato. Tudo é igual, porém, menos interessante e infinitamente menos tocante. Até mesmo na dublagem nacional, que troca todo o seu elenco de vozes, causa estranheza e ainda esquece de trabalhar o som ambiente, algo que só prova, mais uma vez, que esse filme foi feito para um novo público.
Com isso, similar ao remake de ‘O Rei Leão’, ‘Pokémon: Mewtwo Contra-Ataca’ até tem elementos feitos para conquistar os fãs através da nostalgia de rever algo que fez parte da infância, mas é frio, simplório e sem alma em relação a animação original. Passa longe da carismática aventura que fez Pokémon ser tão adorado e apenas reflete a mudança de geração, que consome um formato completamente diferente. Como filme introdutório dessa nova leva de pequenos fãs ao mundo maravilhoso dos Pokémon, a animação cumpre bem sua função e certamente irá divertir, mas como uma releitura de uma das melhores histórias da franquia, é desnecessário e sem a menor inspiração.