Crítica | Meu Nome é Sara – Ótimas atuações na tentativa de fugir da mesmice

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Existem alguns temas cujo cinema não é capaz de se desvencilhar e, talvez o maior de todos, seja retratar o período nazista vivido pelo mundo, que completa 75 anos do seu fim agora em 2020. Não que seja um assunto batido, pelo contrário, mesmo após uma infinidade de obras sobre os diferentes aspectos da 2ª Guerra Mundial e as atrocidades cometidas pela ditadura de Adolf Hitler, é importante tocar nesse tema por quanto tempo for necessário, afim de informar e, consequentemente, a história não se repetir. Porém, o maior desafio desse tipo de projeto é se destacar ao mesmo tempo em que agrega novidade, mesmo que minimamente. E é nesse quesito que o drama ‘Meu Nome é Sara’ (My Name is Sara) não consegue ser bem sucedido, ainda que tenha uma trama instigante, o que é fácil ao se apoiar no contexto da época, não foge de ser mais do mesmo por centralizar sua premissa em mostrar, não a guerra em si, mas a fuga de uma judia e sua luta para sobreviver. Importante? Sim. Crucial? Talvez. Original? Nem um pouco.

O problema em si é que todo o roteiro do longa parece estar preso demais ao modelo já estabelecido por tantos outros filmes. A trama percorre os mesmos caminhos, quase que replicando escolhas dramáticas e referências de outras obras. Essa limitação pesa após algum tempo, quando nenhuma novidade narrativa é apresentada e a jornada se torna cruelmente previsível ao contar a história, baseada em fatos, de Sara Góralnik, uma polonesa, judia, cuja família foi morta por nazistas quanto ela tinha apenas 13 anos. Depois de fugir para a Ucrânia, usando a identidade roubada de uma amiga, ela é acolhida por um casal de fazendeiros em uma pequena vila. Até aí, tudo parece correr bem, mas ela descobre que seus novos amigos possuem seus próprios segredos sombrios.

Mesmo tendo uma trama instigante em mãos, que poderia se assumir um suspense intenso ao mergulhar nos segredos da família, a direção de Steven Oritt (American Native) acaba se apegando mais fortemente aos elementos dramáticos e nunca alcança todo o potencial de sua história. Há um desequilíbrio na narrativa, que não consegue encontrar um norte ao misturar o drama biográfico, feito para emocionar a qualquer custo, com o suspense extraído dos mistérios de personagens descompensados. A própria mudança de ponto de vista, que coloca, em certos momentos, os judeus como vilões, é inapropriada, ao mesmo tempo que explora caminhos controversos, como o assédio sofrido pela jovem, interessante se a obra sustentasse a intensidade do assunto, mas que destoa aqui, por ser apenas mais um elemento inserido sem o devido cuidado e que não leva a lugar algum e nem passa a mensagem correta, que deveria passar.

Se por um lado, a trama segue com altos e baixos, a atuação de Zuzanna Surowy (seu primeiro trabalho como atriz em um longa-metragem) é impecável e consegue contornar essas lacunas do roteiro com bastante intensidade, fruto talvez de uma boa direção de Oritt, que conduz bem seus personagens. O casal, vivido por Eryk Lubos e Michalina Olszanska, também atinge um nível excelente de interpretação. O estranho e quase existente triângulo amoroso entre eles se torna a chama que mantém a história viva por mais tempo e o elenco possui uma ótima química em cena, algo que, mais uma vez, poderia ter sido mais bem aproveitado. Além das boas atuações, a direção de arte, sempre complicada em um filme de época, cumpre a função de imergir o espectador na ambientação da trama, ainda que o seu orçamento seja bem abaixo comparado a outros filmes do gênero, porém, infelizmente falta uma trilha mais acentuada, que trabalhe melhor as emoções.

Dessa forma, mesmo com um roteiro desconjuntado, que se perde ao tentar trabalhar o suspense dentro de um drama biográfico arrastado, as ótimas atuações se sobressaem, felizmente. ‘Meu Nome é Sara’, ainda que lide com um assunto de extrema relevância, é apenas mais um filme que tem muito a dizer e pouco a acrescentar, se perdendo com facilidade dentro de seu próprio objetivo e sendo esquecido na mesma proporção. Não é ruim, nem mal executado (em sua grande maioria), apenas não é forte o suficiente para ultrapassar a barreira da mesmice. E a competição é grande.

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