Diante dos Meus Olhos | Documentário sobre Os Mamíferos chega em dezembro nos cinemas

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Com uma mistura de jazz, rock e irreverência, na esteira dos movimentos de contracultura da década de 60, o trio Os Mamíferos marcou época na cena musical capixaba, agregando compositores, cantores e artistas da vanguarda cultural daquele momento. Mas 50 anos após a formação do grupo, pouco se conhece sobre a banda e aquela cena cultural que culminou com o famigerado Guarapastock, ou Guaraparistock, o maior festival de música do Brasil até então, realizado em Guarapari (ES) em 1971, no auge da repressão da Ditadura Militar, e que terminou de forma tumultuada.

O cineasta André Félix toma essas histórias como o ponto de partida de seu primeiro longa, DIANTE DOS MEUS OLHOS, que estreia nos cinemas brasileiros no dia 5 de dezembro após ser exibido no Festival Internacional do Uruguai, no Festival Internacional de Curitiba (Olhar de Cinema), Pirenópolis Doc, forumdoc.bh, Festival de Cinema de Vitória e Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul.

Para contar essa história a partir de um olhar não saudosista, André documentou os encontros com Afonso Abreu, Mario Ruy e Marco Antônio Grijó, os integrantes “oficiais” do grupo. Como a banda teve apenas quatro anos de duração, entre 66 e 70, e nunca lançou um álbum ou fez qualquer registro fonográfico oficial, o documentário se vale dos depoimentos dos músicos, imagens de arquivo, registros caseiros de ensaios e shows da época, além da criatividade do diretor.

“O que mais me chamou atenção na história não era o que a tornava grandiosa, mas a questão do fracasso deles. Eu acho que esse é o elemento político, exatamente no momento em que nos permitimos documentar o nosso fracasso. E mexer na história da música brasileira, que é, em todos os sentidos, nosso maior bem, falar da geração dos anos 60 e 70, me encantava. Eu acredito que, quando existe uma falha, é muito mais interessante documentar do que quando tem um sucesso”, revela o diretor.

Em uma abordagem autoral, o filme apresenta os personagens, seus corpos já idosos, aparentemente em rotinas diárias e banais, criando um jogo entre a ilusão da imagem e aquilo que vemos, o que estaria diante dos nossos olhos. Questiona, assim, também a mitologia que se criou ao redor da banda com o passar dos anos e o aparente anonimato.

“A potência do filme pra mim não está em se a história foi ou não foi; se o Ney Matogrosso pintou a cara por influência deles ou não, por exemplo. Mas o que esse lance todo fez no corpo desses caras. E é por isso que o filme é “Diante dos meus olhos”, porque essa frase é talvez uma das mais conhecidas frases do Godard, que está no Salve-se quem puder (a vida): ‘Eu ainda não posso morrer, porque o filme da minha vida não passou diante dos meus olhos’”, reflete o diretor.

Fãs do poeta Allen Ginsberg e do movimento beat americano, do escritor Aldous Huxley e do intelectual Marshall McLuhan, Os Mamíferos levavam aos palcos uma performance insana, psicodélica, com rostos pintados e maquiagem carregada. “Em suas várias e diversas manifestações, em diferentes linguagens, atividades e setores da vida, a contracultura chegou aos holofotes em 1968, com seus ‘maios’ e suas ‘primaveras’, mas o fato é que suas bases já vinham sendo fomentadas desde muito antes. Em 1966, Os Mamíferos já estavam bem atentos a todo este “zeitgeist”. Como eles, toda uma rede de artistas e pensadores capixabas buscavam traduzir em âmbito local as urgências que agitavam as transformações em curso. Eles produziram em alta voltagem um conjunto de canções absolutamente “à altura do presente”, junto com figuras que foram se aproximando em torno do grupo por magnetismo ou afinidade eletiva, caso do cantor Aprígio Lyrio, dos compositores Sérgio Regis e Rogério Coimbra, e do músico e compositor Arlindo Castro, por exemplo”, conta o também músico e um dos produtores do filme, Carlos Dalla.

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