Crítica | Conclave – Os bastidores do mundo maquiavélico do Vaticano

É inegável que Edward Berger demonstra, como poucos, a habilidade surpreendente de sustentar uma narrativa em um ritmo intenso, sem perder o fôlego, tal como fez tão bem o mestre Alfred Hitchcock. Em Conclave (que chega ao Brasil pela Diamond Films), sua obra mais marcante apesar do ótimo Nada de Novo no Front, ele eleva o significado de espetáculo cinematográfico a novos patamares, mostrando como transformar o mínimo em algo realmente épico.

Baseado no best-seller igualmente sólido de Robert Harris, o que inicialmente parece ser apenas um drama religioso se revela um thriller político eletrizante, repleto de reviravoltas que prendem o espectador à tela. Com um roteiro que serpenteia de forma magistral, a trama combina a intensidade corporativa de Succession com o mistério instigante de O Código Da Vinci. O resultado é uma experiência que nos oferece uma espiadinha sagaz por trás da cortina de veludo no mundo maquiavélico do Vaticano, onde cada cena nos deixa em suspense até o desfecho da caótica e atmosférica cerimônia de escolha do novo líder da Igreja Católica.

Os acertos e erros do filme

E voltando a Hitchcock, Conclave evoca lindamente o estilo do mestre do suspense, com sua narrativa habilmente controlada e ao mesmo tempo repleta de explosões dramáticas. A premissa parte de um ponto banal: a morte de um Papa e a eleição de seu sucessor. No entanto, as bases da Igreja Católica já não são as mesmas desde que essa cerimônia foi criada. Hoje, a ambição humana disputa espaço com o desejo de modernizar a instituição e atrair novos fiéis, especialmente entre os jovens, em um cenário onde a religião enfrenta uma constante perda de seguidores.

A trama expõe com brilhantismo a difícil pergunta: quem seria o homem ideal para assumir esse papel monumental? Mas será que a perfeição realmente existe? Ou até os santos carregam seus pecados? Nesta narrativa eletrizante, o público se vê envolvido no tenso processo de sucessão, mergulhando em reviravoltas imprevisíveis e um desfecho de ficar boquiaberto. O elenco de peso é fundamental para dar vida a essa história repleta de diálogos afiados, e Ralph Fiennes se destaca em um papel raro de mocinho.

Sua química com Stanley Tucci constrói uma relação tensa e moralmente ambígua, que reforça o principal ponto do filme: entre os homens, não há santos. Representando visões opostas, com um cardeal mais progressista e outro mais conservador, ambos revelam como as escolhas no Vaticano são guiadas por interesses pessoais. Conclave não hesita em abordar temas densos como pautas LGBTQIA+ e racismo — questões que a Igreja Católica historicamente evita explorar. Por meio dessa obra ficcional, o filme mergulha nos mistérios sombrios e nos bastidores sigilosos do processo de escolha do próximo líder religioso, revelando (supostamente!) um lado do Vaticano raramente exposto.

Embora o roteiro seja ácido e cínico, é na parte técnica que o filme realmente brilha. A fotografia fria e austera das salas do Vaticano, aliada a uma trilha sonora constante e envolvente, colabora para construir uma atmosfera cativante. Cada personagem é cuidadosamente desenhado, com personalidades distintas, inclinações políticas claras e, muitas vezes, segredos sombrios que os tornam ainda mais intrigantes.

Sob a direção minuciosa de Berger, cada quadro é meticulosamente composto, refletindo um olhar atento aos detalhes que amplifica a intensidade do filme. Os visuais sóbrios e quase minimalistas criam uma sensação palpável de tensão e presságio de que algo ruim vai acontecer a qualquer momento. E apesar de seu desfecho ousado, o final infelizmente compromete parte do realismo construído ao longo da trama, soando bem mais como uma escolha planejada para causar impacto do que como uma conclusão natural.

Veredito

Quase impecável, Conclave é uma bomba-relógio, um triunfo cinematográfico que flerta com a perfeição. Imersivo, tenso e eletrizante, um thriller político capaz de conquistar até a mais cética das audiências. Ralph Fiennes entrega o que pode ser sua melhor atuação até agora, trazendo profundidade e ânimo a cada cena. Dentro dos muros confinados da misteriosa Cidade do Vaticano e por trás das cortinas de veludo vermelho, os segredos mais obscuros dos homens servem de cenário para uma narrativa explosiva, carregada de drama e inquietação, que mantém o espectador hipnotizado do início ao fim. Edward Berger, o sucessor de Hitchcock, mais uma vez cria um suspense envolvente e divertido que nos faz querer agradecer de joelhos. Amém!

Nota: 9

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você vai querer ler isto: