Seja pela enorme expectativa que agora recai sobre os ombros de Moana, que desde seu estrondoso sucesso em 2016 se tornou o conteúdo mais assistido no catálogo do Disney+, ou pela visão fragmentada trazida pelos três novos diretores, o fato é que Moana 2 tropeça catastroficamente onde o original brilhou.
A sequência, embora mantenha o mínimo do padrão visual impecável, carece do frescor e da originalidade que fizeram do primeiro filme um marco. O que deveria ser uma evolução da história soa mais como um spin-off barato para o streaming, com uma narrativa apressada e sem grandes momentos memoráveis — especialmente no quesito musical, onde nenhuma canção se destaca para aliviar o ritmo morno. A sensação é de que Moana, como personagem e como legado, merecia e merece algo muito maior.
Índice
Os acertos e erros de Moana 2
Embora pareça muito mais tempo, apenas oito anos separam os dois filmes da franquia. Nesse intervalo, claro que a pandemia transformou radicalmente a maneira como consumimos filmes e deixou marcas profundas na criatividade da Disney, que até 2019 reinava absoluta no topo do mercado. Paradoxalmente, foi esse contexto que fez Moana explodir no streaming, ampliando ainda mais seu sucesso. Uma continuação era inevitável, e, ao contrário de franquias como Toy Story, parecia haver espaço legítimo para aprofundar a história.
Voltar às terras havaianas era um desejo compartilhado por muitos, especialmente considerando o vasto potencial ainda inexplorado da mitologia de Moana: sua ancestralidade, sua conexão com a natureza e sua luta para romper com o molde de princesa tradicional. No entanto, em vez de se aprofundar nesses temas, a sequência opta por um tom mais raso, exagerando no alívio cômico e infantilizando a narrativa, que resulta em um retrocesso que passa longe da força emocional e da autenticidade esperada.
Na pior das hipóteses, Moana 2 poderia ser apenas um derivado competente, mas nem isso o filme consegue entregar por completo. Desta vez, a jovem Moana (Auli’i Cravalho) — agora mais velha e madura — continua com o desejo de explorar além de sua zona de conforto, buscando conhecer outros povos e culturas pelo mundo. Após receber uma visão divina, ela reúne uma equipe disfuncional e parte para uma nova aventura, cruzando com antigos conhecidos e revisitando locais familiares – até aí tudo certo.
Enquanto isso, Maui (Dwayne Johnson) enfrenta seus próprios dilemas e inimigos, até que seus caminhos inevitavelmente se cruzam novamente, resultando em mais uma divertida parceria inseparável. Porém, a narrativa soa apressada e genérica. Se o primeiro filme já apresentava uma motivação simples para impulsionar a jornada dos personagens, essa sequência exagera ao tornar tudo forçado e conveniente.
A essência de Moana — o desejo de romper com o papel de princesa tradicional, sua ligação com a família e sua conexão com o meio ambiente — ainda está presente, mas a jornada desta vez é cansativa, previsível e repetitiva. Nem mesmo as músicas, tão marcantes no original, conseguem salvar o filme, já que nenhum número musical se destaca ou permanece na memória.
Apesar disso, as performances de Auli’i Cravalho (Meninas Malvadas) no original e de Any Gabrielly na versão brasileira continuam arrebatadoras, mostrando que o talento vocal segue sendo um dos poucos pontos altos da produção. Mas é alívio cômico em excesso para piadas que pouco funcionam. As cenas com o galo Hei Hei, embora fofas, dominam 3 a cada 5 momentos do filme e rapidamente se tornam cansativas, especialmente após os primeiros 30 minutos. Muito insignificante.
O roteiro é, no mínimo, péssimo. Além da já mencionada falta de motivação clara para a história, nada parece se conectar de forma orgânica. A vilã clichê Matangi (Awhimai Fraser), por exemplo, é tão dispensável que sua subtrama poderia ser eliminada sem causar qualquer impacto no resultado final, assim como praticamente todos os coadjuvantes.
É um Frankenstein narrativo de fazer Mary Shelley sentir inveja, com ideias desconexas e decisões dramáticas forçadas que deixam evidente o efeito colateral de ter três diretores conduzindo o projeto. A falta de unidade é visível e prejudica demais o fluxo da história. Apesar disso, o clímax traz momentos pontuais de impacto, como Maui erguendo uma ilha do fundo do mar e Moana enfrentando uma provação que ressalta sua essência de heroína. No entanto, essas cenas isoladas não conseguem sustentar o interesse ou compensar a repetição do que já foi visto — e melhor executado — no primeiro filme.
Como era de se esperar, a qualidade visual continua a ser um dos grandes trunfos da franquia. Assim como o primeiro filme impressionou com sua inovação para as animações da época — em um impacto comparável ao de Frozen —, Moana 2, felizmente, mantém o padrão com cores vibrantes, visuais deslumbrantes e uma exploração ainda mais detalhada das maravilhas do Oceano Pacífico e suas paisagens solares. Assistir a algo tão bonito assim na tela grande é sempre um prazer.
E claro, uma novidade é a introdução da irmã mais nova de Moana, Simea, uma personagem adorável com sua vozinha fofa de criança que claramente tenta conquistar o coração do público. Embora até funcione em alguns momentos, a insistência do roteiro em criar um vínculo emocional acaba se tornando repetitiva ao longo da trama.
A missão de Moana não é salvar a irmã, mas simplesmente retornar para ela, e talvez o filme tivesse muito mais força narrativa se essa relação fosse o foco principal, colocando ambas como protagonistas centrais. Essa abordagem poderia, quem sabe, render uma sequência realmente digna de seguir os passos do original.
Veredito
Em uma era em que animações de alto nível, como o recente Robô Selvagem, elevam o padrão do gênero, a Disney parece mais uma vez retroceder na qualidade e criatividade que uma vez definiram seu império nas telas. Moana 2 é apenas uma sombra do brilho e da inovação que tornaram o original um fenômeno nos cinemas. Claramente apressada, a sequência tropeça em uma visão criativa fragmentada, com canções esquecíveis e excesso de alívio cômico. Oceanos de distância de ser tão memorável quanto costumava ser.
Embora não pareça ter a intenção de superar o original (o que é uma pena!), o filme ainda assim decepciona por ser meramente morno, mal desenvolvido e excessivamente derivativo. Se o primeiro Moana foi como um dia revigorante na praia, esta sequência se assemelha ao terrível pós-praia: cansativo, sem energia e até desconfortável. Nem mesmo os cenários deslumbrantes do Pacífico conseguem salvar uma narrativa que se afoga na falta de propósito.
No final, Moana e seu legado merecem muito mais do que esta continuação oferece, e sabemos muito bem que a Disney é capaz de entregar algo além disso.
NOTA: 5/10
Clique aqui e compre seu ingresso para o filme
LEIA TAMBÉM:
- Crítica | Wicked: Parte 1 – Uma experiência cinematográfica poderosa e inesquecível
- Crítica | Gladiador II – É assim que uma sequência deve ser feita
- Crítica | Herege – Hugh Grant é nossa religião em filme descrente
Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News.
Quer comentar filmes e séries com a gente? Entre para o nosso canal no Instagram.