Crítica | Tipos de Gentileza – O cinema minimalista de um diretor nada mínimo

Às vezes, espera-se muito de um cineasta que sempre entregou o suficiente. É difícil aceitar que nem todas as grandes ideias de alguém tão genial possam se concretizar, especialmente quando falamos de Yorgos Lanthimos, cujo cinema autoral é tão marcante e singular. No entanto, ao contrário da viagem estética fantástica de Pobres Criaturas, seu novo filme é mais “pé no chão”, simples e muito menos envolvente, em todos os sentidos — apesar de manter a habitual estranheza que caracteriza sua obra. Tipos de Gentileza (Kinds of Kindness) é uma produção brilhantemente elaborada, dividida em três fábulas peculiares sobre amor e obsessão, mas que funcionam muito melhor de forma isolada do que interligadas por um tema comum.

Os acertos e erros de Tipos de Gentileza

Ao afastar-se de seu cinema sofisticado mais recente e mergulhar profundamente na psique humana em histórias menos estéticas e mais cruas, Lanthimos revisita o desespero presente em suas primeiras obras, como em Dente Canino (2009) e até o ótimo e incompreendido O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017). Isso revela que, mesmo com o reconhecimento que recebe hoje, seu olhar permanece tão íntimo ao bizarro quanto antes.

Seus filmes são exemplos de entretenimento baseado no choque, mas nem sempre ele acerta na dosagem. Em Tipos de Gentileza, Lanthimos exagera na ideia central e entrega menos do que poderia, com as três histórias oferecendo muito pouco e, na maior parte do tempo, sendo confusas demais para que o público as absorva.

Claro, cada conto traz um texto deliciosamente sombrio e ácido, mas sem a perversidade necessária para transcender o habitual. Apesar de ser uma produção curiosa, vinda de um grande estúdio e estrelada por uma atriz vencedora do Oscar, o filme parece menor e mais contido, como se fossem apenas rascunhos de três histórias que poderiam ter sido desenvolvidas de forma mais rica em outro momento.

Em alguns momentos, soa como uma reunião de amigos que decidiu gravar um filme informalmente, sem grandes expectativas, algo que mais parece um primeiro corte do que um produto final destinado aos estúdios. Até mesmo a câmera de Yorgos se mostra contida, como se, em certos momentos, ele mesmo estivesse ausente, sem seu olhar estético e aguçado que tanto o caracteriza.

Há pontos em que as tramas das três histórias tornam-se tão maçantes e excessivamente verborrágicas que perdem o rumo, funcionando mais como vitrines para um elenco brilhante e experiente declamar monólogos tediosos, talvez em busca de uma chance no próximo Oscar.

Embora seja, em essência, uma comédia temperada com doses leves de horror (com uma trilha constante e assustadora de coral) para chocar, o filme diverte pela sua estranheza — característica marcante do cinema do diretor — mas o humor é tão morno, superficial e previsível que acaba não sendo tão divertido quanto se espera.

Entre as três histórias, a segunda talvez seja a mais divertida em termos de premissa, enquanto a última se destaca pela sua bizarrice e elaboração. Em todas elas, Jesse Plemons é a verdadeira espinha dorsal, com uma atuação que impressiona, como era de se esperar de um ator que nunca decepciona.

Seja interpretando um homem extremamente devoto ao seu chefe ou um marido convencido de que sua esposa foi substituída por uma doppelgänger, Plemons domina completamente as cenas, chegando a ofuscar a presença da já imponente Emma Stone. Presente nas três histórias, Stone desempenha papéis menores e mais contidos, destacando-se apenas na última, onde interpreta uma seguidora devota de uma seita que busca trazer os mortos de volta à vida.

Entre os muitos temas abordados nas entrelinhas, Lanthimos busca, essencialmente, explorar o amor e a submissão. A “gentileza” do título é, na verdade, uma alegoria para ilustrar até que ponto alguém é capaz de ir por amor ao outro. A metáfora aqui é bastante direta — trata-se de uma narrativa sobre como as pessoas são transformadas por circunstâncias difíceis e como essas mudanças abalam seus relacionamentos. No entanto, as reviravoltas são completamente inesperadas, surpreendendo justamente por serem visceralmente perturbadoras.

Veredito

Embora Tipos de Gentileza nos convide a mergulhar nesse universo desconfortável e cru do cinema mais minimalista de Yorgos Lanthimos — marcado pela estranheza, pelo humor sutil e pela subversão do amor — o filme está longe de ser tão memorável quanto suas melhores obras. Apesar de revisitar a estética fria e simples de seus primeiros trabalhos, ele se concentra em personagens desagradáveis e sentimentos conflitantes.

A trama gira em torno da submissão em nome do amor, explorando até onde alguém pode ir e o que seria capaz de fazer, mas são três histórias antológicas excessivamente verborrágicas, longas e cansativas, com poucas reviravoltas e muito menos choque do que se espera de um filme de Lanthimos.

Embora o elenco esteja assustadoramente afiado, como de costume, o projeto como um todo sofre com a falta de direção clara. Não é um filme comercial ou comum — o que, por si só, é positivo para o cinema autoral — mas acaba sendo fraco até mesmo para aqueles que costumam vibrar com o estilo peculiar e estranho de um dos grandes cineastas contemporâneos.

NOTA: 7/10

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