Crítica | Os Observadores – Uma cópia tímida dos filmes de M. Night Shyamalan

Para o bem e para o mal, a genialidade de M. Night Shyamalan parece ser hereditária. A estreia na direção de Ishana Shyamalan, filha do mestre do suspense, captura como ninguém o estilo do pai, oscilando rapidamente entre o intrigante e o tedioso. Com um arsenal de boas ideias e um conceito envolvente, Os Observadores (The Watchers) tropeça ao revelar demais e se explicar em demasia, obscurecendo o terror meticulosamente construído pela diretora.

Este primeiro longa-metragem de Ishana é sinistro e ocasionalmente assustador, demonstrando, apesar de suas falhas, uma construção relativamente clássica de um thriller sobrenatural que prova que a maçã não caiu longe da árvore. No entanto, a obra desperdiça sua alegoria em uma trama vazia, sem lógica e desprovida de qualquer emoção, presa demais no material de base do livro homônimo de A.M. Shine.

Os acertos e erros de Os Observadores

Como adaptação de um livro, esta história certamente se beneficia do tempo e profundidade que a literatura oferece, algo que nas telas se torna escasso, especialmente devido à sua protagonista pouco cativante. A trama emana a energia de obras como Bird Box e Um Lugar Silencioso, que dependem do mistério para impulsionar a narrativa, tentando também tecer críticas à obsessão humana por observar a vida alheia, refletindo a febre dos reality shows, o voyeurismo e a sociedade do espetáculo.

Há boas camadas escondidas na história, repletas de pistas e conceitos visuais que antecipam a reviravolta antes do clímax. Embora pareça um enredo inteligente e elaborado, no fim das contas, revela-se um conceito vazio.

A trama se desenrola em uma vasta floresta natural na Irlanda, um tipo de Triângulo das Bermudas onde aqueles que entram nunca mais conseguem sair e, pior ainda, se tornam personagens de um bizarro e realista zoológico com show de TV protagonizado por criaturas inexplicáveis que, todas as noites, aparecem para assistir e aplaudir o espetáculo. Mina, interpretada pela sempre brilhante Dakota Fanning, é uma dessas pessoas perdidas no local e, junto com outros três desconhecidos, luta para sobreviver e escapar desse inferno na Terra.

Até certo ponto, tudo bem: o tom sobrenatural e as criaturas noturnas são assustadoras e a atmosfera do lugar é aterrorizante. No entanto, a grande reviravolta assume um tom de fantasia controverso, e o terceiro ato, completamente sem ritmo, faz com que toda a construção meticulosa do terror se desfaça. Ao mirar em A Vila, filme icônico do seu pai, Ishana acerta mesmo é no terrível A Dama na Água.

O elenco de apoio, embora competente, com nomes como Georgina Campbell (Noites Brutais) e a cobiçada Olwen Fouéré (O Tarô da Morte), não atrapalha, mas também não acrescenta muito à jornada da protagonista. Os monstros, por outro lado, são incrivelmente criativos, e a direção da cineasta mantém-nos no escuro durante boa parte do tempo, o que é excelente para a construção do medo.

A sensação de que algo está à espreita na noite é envolvente, apesar de os primeiros cinco minutos do filme revelarem demais. A eventual revelação é bem executada, contornando alguns efeitos visuais imperfeitos com truques analógicos de composição engenhosos, mas não convence nem por um minuto sequer.

Veredito

Repleto de boas ideias, mas carente de um suspense genuíno, Os Observadores acaba caindo na própria armadilha ao expor demais seus monstros, desperdiçando uma atmosfera de medo que poderia ser deliciosamente aterradora. A história de mistério é muito mais cativante do que suas respostas. O primeiro longa-metragem escrito e dirigido por Ishana Shyamalan revela que tanto a genialidade quanto a falta de criatividade podem ser hereditárias.

Infelizmente, o filme apresenta uma alegoria interessante sobre a sociedade do espetáculo, mas se perde em um terror superficial típico de lançamentos diretos na Netflix. A trama não sustenta seu mistério por muito tempo. Seus prazeres estão no adiamento das revelações, não na sua descoberta.

À medida que aprendemos mais, tudo faz menos sentido e a narrativa se torna ainda mais questionável. No fim, é um thriller psicológico atmosférico que prende a atenção por um tempo, mas, ao ser observado de perto, não passa de uma réplica do cinema mediano de Shyamalan.

NOTA: 6/10

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