Algo que tem sido comum em boa parte das cinebiografias recentes é a despreocupação que seus criadores aparentam ter em relação aos personagens de suas histórias reais. A confiança em tramas comoventes e inspiradora é tamanha que acaba por submeter histórias reais a fantasias prontas para serem resumidas em short videos de redes sociais. Veja o caso de Uma Vida, filme do diretor James Hawes que coloca Anthony Hopkins (Meu Pai) na pele de Sir Nicholas Winton.
Ex-corretor da bolsa britânica, Winton também foi responsável por salvar mais de 600 crianças durante a Segunda Guerra Mundial. Seu trabalho burocrático foi decisivo para transportar refugiados da Tchecoslováquia para a Inglaterra antes da ocupação nazista no país.
A produção é baseada no livro homônimo escrito por Bárbara Winton (a filha do ex-corretor) e a história é dividida em dois grandes núcleos: o primeiro se passa no começo da Segunda Guerra Mundial, mostrando um Winton jovem e seus esforços para salvar crianças de nazistas. Já no segundo somos apresentados a uma versão envelhecida do homem que precisa lidar com seu passado a medidas que velhas lembranças vêm à tona. Nesta última, Winton é interpretado por Anthony Hopkins.
Seu trabalho, inclusive, soa grande demais para o restante do filme. Com idade avançada, o ator parece se encontrar cada vez mais nos papéis de anciões indefesos que carregam no olhar anos e anos de história. Pode parecer óbvio que um idoso saiba interpretar outros idosos, mas basta ver Hopkins fora dos sets de gravação para saber se tratar de um homem altivo e de mente lúcida.
Infelizmente, o roteiro faz pouco esforço para acompanhar o trabalho de atuação de sua principal estrela. O texto do filme não se preocupa em dissecar seus personagens, dos principais aos coadjuvantes. Com isso, a história de Winton parece ser afetada pela típica dose de fantasia hollywoodiana.
A história de Nicholas Winton mexe com o emocional do espectador, fazendo com que o mesmo reflita sobre seu próprio papel humanitário perante a sociedade. No entanto, isso não é mérito do filme, e sim da história de um corretor que decidiu fazer a diferença. Forma e conteúdo são extremamente óbvios, se destacando minimamente do ponto de vista cinematográfico.
O longa, inclusive, não foi meu primeiro contato com a trama de Winton. As redes sociais e seus short videos já haviam me preparado para a história do homem que salvou 669 crianças na Segunda Guerra Mundial — e que depois viria a se reencontrar com elas em um programa de televisão. Por mais rápidos que esses conteúdos sejam, posso dizer que me despertaram tanto interesse e emoção quanto o filme de James Hawes.
Anthony Hopkins é sim um adicional de luxo em um filme que relata fatos reais impressionantes e comoventes. A história de Sir Nicholas Winton consegue emocionar com facilidade e certamente será bem recebida pelo público. Uma Vida, porém, não faz mais que entregar o feijão com arroz básico que faz tanto sucesso nos principais palcos da Internet.
Nota: 7/10
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