Crítica | Moneyboys – Corajoso drama sobre o amor moderno

Se tem algo que o diretor novato C.B. Yi faz no corajoso drama Moneyboys é mostrar o lado mais arriscado e solitário do amor moderno. O filme chinês, que chega aos cinemas brasileiros pela Pandora Filmes, explora a difícil vida dos garotos de programa em países ainda bastante conservadores e tradicionalistas, nesse caso, a parte rural da China.

Sem cair em coitadismos, o roteiro mergulha no universo LGBTQIAP+ com um olhar aguçado, sincero e bastante cru, que nos corta como navalha e depois parece jogar uma pá de sal em cima, tudo para mostrar que nem todos nascem com o privilégio do acolhimento. Apesar de comover, Moneyboys é, acima de tudo, um belo filme que reflete assuntos pertinentes sem perder a sua picância essencial.

A trama e o elenco de Moneyboys

Ao transcender o cenário norte-americano, o filme, à semelhança da excepcional obra Holy Spider, se sustenta por meio de uma trama que aborda as intricadas nuances do sexo descompromissado, destacando como essa profissão ainda é estigmatizada em nações onde o conservadorismo predomina.

Filmado em Taiwan (apesar da trama se passar na China continental), a narrativa acompanha Fei (vivido pelo ótimo Kai Ko), que atua clandestinamente como traficante para prover o sustento de sua família. No entanto, ao perceber que sua família está disposta a aceitar seu dinheiro, mas não seu estilo de vida, desencadeia um profundo colapso nas relações familiares.

Através do seu relacionamento com o obstinado Long (Yufan Bai), Fei aparenta encontrar uma nova perspectiva de vida. Contudo, o reencontro com Xiaolai (J.C. Lin), seu amor de juventude, confronta-o com a culpa de um passado reprimido. Assim, o filme explora de maneira magistral o contraste entre a vida urbana e rural, assim como a evolução de mentalidades em relação a diferentes formas de amor.

Entre uma cena de intimidade intensa e envolvente, o roteiro se destaca especialmente ao explorar minuciosamente os novos estilos de vida, que por vezes desumanizam as pessoas, contrastando com a vida no campo, que reflete tradição, conservadorismo e, ao mesmo tempo, a hipocrisia em relação à homossexualidade.

Apesar da presença do erotismo (em cenas bastante quentes!), nada parece gratuito, e a nudez é incorporada de maneira significativa, contribuindo para um contexto mais amplo que confere bastante autenticidade à narrativa. Essa autenticidade se revela crucial quando o drama assume uma tonalidade mais densa e sombria, que toca profundamente nossos sentimentos e brinca com a nossa capacidade de sentir empatia.

C.B. Yi guia seus personagens de maneira deliberadamente lenta, permitindo que a realidade do ambiente os molde gradualmente. A lentidão, por vezes, pode flertar com o tédio, mas não ao ponto de desviar nossa atenção da rica história que está sendo narrada. Apesar de evocar elementos clássicos de filmes de amadurecimento, o longa se destaca como um drama adulto com nuances sensuais, habilmente utilizando o sexo na construção de cada um dos personagens masculinos.

Apesar da repressão familiar, o protagonista busca o amor incompreendido e a libertação das amarras que ainda o mantêm ligado ao mundo heteronormativo. Fei enfrenta um constante conflito interno, uma jornada emocional que é tocante e, por vezes, dilacerante, amplificada por uma trilha sonora envolvente. Cada quadro, meticulosamente enquadrado pela fotografia, evidencia uma utilização eficaz do orçamento e da criatividade, ressaltando o valor de produção do filme.

A cinematografia, por sua vez, brilha com uma beleza deslumbrante em cada cena composta. A perspectiva da câmera geralmente está afastada, o que aumenta ainda mais a sensação de distanciamento. Essa atmosfera se harmoniza perfeitamente com o estado emocional do personagem principal ao longo da história, interpretado com habilidade, moderação e humanidade por Kai Ko.

Veredito

Comovente e cortante com seu realismo doloroso, o chinês Moneyboys é um drama que aborda a busca pelo amor no mundo moderno, mesmo quando há uma infinidade de pessoas que fazem você se sentir errado. Ao lado do excelente drama japonês Monster, são ótimos exemplos de obras asiáticas corajosas e poderosas. Um notável exercício de representação e visibilidade da comunidade gay.

Uma produção repleta de coragem, afeto e melancolia que nos deixa reflexivos por horas, e transmite uma mensagem sinceramente profunda sobre relações humanas nos cantos mais complexos do mundo – aspectos que nem mesmo o dinheiro pode comprar.

Nota: 9/10

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