Zorro – Charme de telenovela que resiste ao teste do tempo

Tão antiga quanto a cultura pop em si, a lenda do Zorro é uma daquelas histórias que nunca saem do imaginário do público, cujo cinema e TV não se cansam de readaptar para cada nova geração. Assim como Rei Arthur e Os Três Mosqueteiros, histórias boas sempre voltam a se repetir e resistem ao teste do tempo. Mas claro, se não houver novidade é impossível afastar a sensação de estar vendo sempre o mesmo conto de fadas previsível.

Agora, o Zorro retorna em uma nova produção do Prime Video, apresentando efeitos especiais de primeira e uma abordagem mais épica em comparação com a versão clássica do justiceiro mascarado, mas mantendo a envolvente aura de telenovela que adiciona charme ao personagem criado lá em 1919.

Com base nos dois primeiros episódios apresentados ao Pipocas Club, a série semanal do streaming realiza um trabalho minucioso ao transmitir o legado do Zorro, não apenas para a nova geração, mas também dentro da própria trama. É uma jogada segura, repleta de entretenimento, que acerta ao preservar a essência nostálgica da história.

A trama e o elenco de Zorro

De fato, mesmo após mais de 100 anos desde sua primeira aparição, Zorro permanece relevante, oferecendo uma perspectiva única, apesar das complexas questões raciais que refletem uma era passada. A produção espanhola do Prime Video não busca modernizar o personagem, mas sim transportá-lo de volta à era da Califórnia espanhola, entre 1769 e 1821.

Nesse contexto histórico, a série mantém uma fidelidade cuidadosa à época, ao mesmo tempo em que estabelece uma conexão mais íntima e respeitosa com os povos indígenas. O roteiro ainda tece críticas perspicazes aos colonizadores, embora reconhecendo as limitações impostas pelo protagonista, um homem branco que, em certa medida, não escapa totalmente da síndrome do herói salvador.

Mesmo assim, a produção introduz iniciativas positivas que exploram a ideia de que ser o Zorro não necessariamente implica ser do sexo masculino, tampouco ser um homem branco espanhol. Essas nuances adicionam complexidade à narrativa, que desafia estereótipos preexistentes e contribui para uma abordagem mais inclusiva e diversificada da icônica figura do personagem. Ou seja, a modernização sem sair do contexto, brilhante.

Na encruzilhada entre ser o herói clássico e um galã charmoso de novela das 6, o protagonista da vez é o astro Miguel Bernandeau (o Guzmán de Elite), que possui o carisma de um típico mocinho quando liga a TV numa tarde em dia de semana. Embora não seja exuberantemente belo, suas feições confiáveis preservam a sedução característica do Zorro.

Uma adição intrigante à série de 2024 é a abordagem única em relação ao manto do justiceiro, que é transmitido de pessoa para pessoa, destinado àqueles que demonstram merecer o peso dessa responsabilidade. Os herdeiros espirituais são escolhidos com base em sua bondade e determinação, independentemente de raça, cor ou etnia.

Essa energia mítica confere à série uma atmosfera reminiscente de obras como O Corvo, adicionando um toque de super-herói que adquire seus poderes em uma autêntica história de origem. De fato, os dois primeiros capítulos exploram a jornada de Diego de la Vega ao assumir a máscara deixada por seu pai, proporcionando uma base sólida para a trama e estabelece as raízes do protagonista como o novo Zorro.

Apesar das evidentes limitações orçamentárias da produção, a falta de recursos adiciona uma camada caricata e novelesca ao cenário. A narrativa, própria de quadrinhos, proporciona um tom divertido à série. Nos primeiros episódios, a direção de Javier Quintas (conhecido por seu trabalho em La Casa de Papel) faz o melhor possível com os recursos disponíveis, e entrega sequências de ação notavelmente engenhosas, que supera as expectativas dadas as restrições financeiras.

No entanto, é um tanto decepcionante perceber que a escala da produção é consideravelmente inferior ao que é promovido. Alguns cenários são simples e carecem de refinamento, e nem todas as ambientações atingem o impacto desejado, uma falha que é habilmente mascarada pelo recurso frequente de cenas noturnas de ação.

Veredito

Mesmo diante das limitações de orçamento, o Prime Video resgata de maneira encantadora a essência do Zorro, apresentando uma série cativante, divertida e dedicada a introduzir o mascarado a uma nova geração de fãs. Os dois primeiros episódios proporcionam uma história de origem digna de super-herói, mas mantém a aura enigmática que essa figura icônica sempre desempenhou nas telas da TV e do cinema.

A abordagem não busca uma modernização radical nem uma versão totalmente inédita, mas sim uma narrativa sólida, ciente de seus desafios clássicos em relação às questões raciais e imersa na elegância peculiar das telenovelas espanholas, se destacando, claro, pela presença agradável de Miguel Bernandeau como o galã sedutor.

Zorro se mostra promissora, embora seja evidente que um investimento adicional seria benéfico para manter o fôlego inicial ao longo da temporada. Com um impulso financeiro adequado, há potencial para que a produção alcance seu pleno brilho e satisfaça as expectativas até o desfecho, já que ao teste do tempo ela parece sobreviver muito bem.

Nota: 7/10

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