Crítica | Argylle – Comédia de espionagem sem qualquer charme

Se achando o espertão, Argylle – O Superespião utiliza de forma desconcertante a fórmula clássica dos filmes de espionagem acreditando inovar por meio da paródia. Matthew Vaughn, com sua mente distorcida, se afasta consideravelmente das expectativas habituais. Apesar das promessas de um filme divertido e maduro no estilo de Kingsman no material de marketing, a realidade revela que Vaughn nos presenteia com sua obra mais romântica e cafona da carreira.

O roteiro é um verdadeiro exercício repleto de reviravoltas frouxas na tentativa de amarrar pontas soltas fracas e carregado de surpresas óbvias. Até o charme característico do gênero cede lugar a uma inundação de piadas de baixo calibre e um senso de humor digno de uma criança, mesmo quando o próprio filme não se leva tão a sério assim. O resultado: uma comédia de ação que disputa se é o CGI de qualidade duvidosa ou a atuação de Dua Lipa o seu ponto mais fraco.

A trama e o elenco de Argylle – O Superespião

De fato, Bryce Dallas Howard (Jurassic World) tem consolidado sua habilidade nos últimos anos, mantendo firme seu carisma e cinismo. No entanto, sua presença destaca-se menos em um filme de ação como este. A atriz parece se divertir no papel de Elly Conway, a reclusa autora de best-sellers de romances de espionagem. Sua protagonista, embora rodeada por coadjuvantes moldados pela fórmula do gênero, não representa o maior desafio do filme, embora também não seja o ápice de sua carreira.

Na trama – super complicada e confusa -, Howard interpreta uma escritora que leva uma vida reclusa, desfrutando da companhia de seu computador e seu gato, Alfie. Contudo, quando os enredos fictícios de seus romances, centrados no agente secreto Argylle e sua missão contra um sindicato global de espionagem, começam a refletir as ações de uma organização de espionagem real, a tranquilidade de Elly é deixada para trás.

Acompanhada por Aidan (Sam Rockwell, que rouba a cena, junto com o gato em computação gráfica), um espião old school, Elly embarca em uma jornada global para escapar de assassinos, enquanto a linha entre seu mundo fictício e a realidade se desvanece.

O diretor Matthew Vaughn se apropria da narrativa dos filmes de James Bond para preencher sua trama, mas fica aquém em termos de qualidade, valores de produção e até mesmo a inteligência de algumas narrativas mais complexas.

A falta de elegância e estilo, somada à presença de astros com pouco carisma em tela, como Henry Cavill (Homem de Aço) e a cantora Dua Lipa, contribuem para tornar a obra mais rasa e superficial, mesmo quando mantém um ritmo satisfatório durante boa parte da projeção.

São muitos rostos conhecidos para uma entrega limitada do elenco, e até o talentoso Bryan Cranston (Breaking Bad) é subutilizado no papel do vilão estereotipado que não acrescenta nenhum elemento de graça à narrativa.

Apesar das falhas, a sequência de luta com Rockwell dentro de um vagão de trem, mesmo não sendo inovadora (se pegar a cena de Missão: Impossível – Acerto De Contas é de humilhar qualquer um, ou mesmo a de Trem-Bala), se destaca como super divertida e engenhosa, reminiscente das melhores lutas de Kingsman.

Alternando entre flashes do personagem fictício de Cavill, a cena se destaca como o ponto alto do filme e mostra como boas ideias foram subutilizadas devido ao excesso de computação gráfica de baixa qualidade e reviravoltas previsíveis.

Isso reflete, obviamente, uma indústria cinematográfica que parece estar perdendo a habilidade de criar boas ideias em ambientes reais. Infelizmente, Vaughn não parece ter ambições além disso, e a dependência excessiva de CGI compromete nossa suspensão de descrença, nos retirando constantemente da emoção. E para completar, ainda há uma cena pós-créditos que deixa tudo ainda mais bagunçado.

Veredito

Argylle – O Superespião é uma confusão narrativa completa e um desastre visual, que se perde na tentativa de ser uma paródia bem-humorada de filmes de espionagem. O resultado é uma obra caótica, mal editada e previsível, agravada pela abundância de CGI de qualidade inferior que apenas intensifica a artificialidade. A mente criativa de Matthew Vaughn afunda no desespero e cria um filme que, talvez, devesse ter sido lançado diretamente em plataformas de streaming.

O filme até apresenta algumas sequências de ação interessantes, embora não inovadoras. Também ganha força ao abraçar a excentricidade e estranheza do gênero, mas infelizmente, isso ocorre tarde demais. A bagunça já está estabelecida quando a história finalmente ganha impulso. A dupla formada por Bryce Dallas Howard e Sam Rockwell é cativante, mas a comédia carece de carisma, elegância e uma justificativa convincente para adicionar charme à trama.

NOTA: 4/10

Leia também: Argylle – O Superespião faz parte do mesmo UNIVERSO de outro filme de ação; entenda


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