Se há algo que O Jogo da Invocação (All Fun and Games) promete pelo seu material de divulgação, é uma incursão empolgante no território do terror. Entretanto, o título, sugestivo por si só, acaba sendo irônico, já que o filme se perde em um roteiro raso, sem direção e, por consequência, sem diversão alguma. Por mais que o enredo inicialmente pareça intrigante, é como se a trama estivesse destinada a se afogar em seus próprios clichês, sem encontrar um rumo coeso.
O potencial de um slasher sobrenatural – vibe Rua do Medo – mais inteligente se desvanece, e a experiência se assemelha a tentar cozinhar massa em água gelada: nada funciona, nem os sustos, muito menos os personagens disfuncionais. A persistente sensação é a de que o filme não soube desenvolver a trama que tanto se esforça para impactar.
Tópicos desta crítica
A trama e o elenco de O Jogo da Invocação
A premissa inicial de O Jogo da Invocação tinha potencial para desencadear uma noite de terror eletrizante, mas, infelizmente, o filme se perde na própria escuridão. Ao explorar um grupo de adolescentes que inadvertidamente libertam um demônio malévolo ao encontrarem uma faca amaldiçoada na floresta, a narrativa perde sua força inicial rapidamente.
O que deveria ser envolvente se transforma em uma versão enfraquecida de uma noite de babysitter, onde um espírito vingativo do passado de Salem surge. No entanto, a familiaridade mórbida não consegue compensar a falta de originalidade, transformando o filme em uma brincadeira infantil de terror sem qualquer substância.
A maior frustração do filme reside na falta de entusiasmo em explorar os jogos propostos pela trama. Carrasco, esconde-esconde e pega-lanterna são apenas superficialmente abordados, não ampliando os limites criativos que o gênero de terror permite. A previsibilidade e a inércia do roteiro contribuem para a sensação de tédio, enquanto personagens secundários aparecem apenas para cumprir um destino previsível e desprovido de violência envolvente. A falta de coragem na abordagem dos temas mais sombrios e o problema de ritmo evidenciam a falha na direção da dupla Eren Celeboglu e Ari Costa, que resultam em uma experiência banal e totalmente esquecível.
O elenco, apesar de cheio de rostinhos conhecidos, não consegue salvar o terror do naufrágio. Asa Butterfield (Sex Education) e Natalia Dyer (Stranger Things), embora se esforcem, não conseguem transcender o texto raso, deixando para o jovem Benjamin Evan Ainsworth (A Maldição da Mansão Bly) a tarefa de carregar o peso dramático do filme. Sua atuação convincente se destaca como a melhor coisa em meio à mediocridade geral. À medida que a maldição se desenrola, o filme perde o foco, entregando sustos superficiais, violência gratuita e flashbacks desajeitados que falham em conferir profundidade à maldição, especialmente em um ano em que tivemos o excelente Fale Comigo como exemplo de horror teen.
Quando se trata dos aspectos técnicos, O Jogo da Invocação desce uma escada a mais para dentro do poço e falha em criar um ambiente verdadeiramente assustador. A direção de arte e cinematografia não conseguem explorar efetivamente a atmosfera sombria proposta pela trama. A colaboração de Celeboglu e Costa, embora conjunta, parece desarticulada, incapaz de injetar vida ou dinamismo na narrativa.
Os momentos que deveriam ser impactantes são ofuscados por escolhas de edição questionáveis e uma trilha sonora bastante genérica. A falta de coesão técnica se traduz em um filme que não apenas tropeça em causar arrepios, mas também deixa a desejar em termos de qualidade cinematográfica, uma vez que seu orçamento baixo grita na tela.
Veredito
Em um cenário já saturado por filmes de terror genéricos, O Jogo da Invocação é só mais um. A promessa inicial de uma experiência envolvente se desfaz rapidamente diante de uma história disfuncional que se perde em suas próprias ambições frustradas. O filme, que se vende como um prato principal de qualidade, falha em evocar emoção e acaba sendo apenas um aperitivo que não mata a fome. Nem mesmo o elenco famoso consegue resgatar a imersão perdida.
Curiosamente, O Jogo da Invocação parece não confiar em seu próprio conceito para se destacar. O único jogo que realmente parece ter algum potencial é o jogo de cintura que os diretores precisam fazer para que seus sustos rasos encontrem algum eco em um público cada vez mais exigente, especialmente em um ano que nos presenteou com exemplos notáveis de horror adolescente, como Fale Comigo. Falta criatividade, sobra previsibilidade, resultando em uma obra que, infelizmente, não se eleva acima da massa de produções esquecíveis do gênero.
NOTA: 4/10
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