Crítica | A Sociedade da Neve – Avalanche de emoções no melhor drama de sobrevivência da Netflix

Existem histórias que, por mais inexplicáveis que pareçam, congelam nossas almas de assombro por serem reais. Embora o cinema já tenha nos apresentado diversos dramas de sobrevivência que bagunçam nosso termômetro emocional, poucos possuem o realismo e a produção magistral do fantástico A Sociedade da Neve (La sociedad de la nieve), novidade da Netflix para janeiro de 2024. Após vaguear pelo mundo hollywoodiano em blockbusters como Jurassic World: Reino Ameaçado, o diretor espanhol J. A. Bayona se aconchega em um refúgio mais intimista, sem, contudo, abdicar da grandiosidade que lhe rendeu um lugar ao sol.

A trama e o elenco de A Sociedade da Neve

Mergulhando no abismo terrível de uma tragédia, a trama se inspira no livro Tenía que Sobrevivir, onde o sobrevivente Dr. Roberto Canessa e o jornalista Pablo Vierci narram a espantosa saga de uma equipe de rúgbi uruguaia que, em 1972, se viu nas garras geladas da morte após um acidente aéreo na Cordilheira dos Andes. Desses intrépidos, apenas 29 dos 45 passageiros se agarraram à vida em meio à vastidão branca e à ameaça constante da fome e do frio.

O longa não é apenas uma crônica de sobrevivência impactante, mas uma aula sobre as relações humanas e convivência, as quais, sob o olhar preciso de Bayona, se tornam tão grandiosas quanto a própria Cordilheira – que aqui, além de cenário, ascende ao posto de antagonista da trama. O diretor, como um maestro habilidoso, orquestra uma avalanche de emoções, desafiando nossa moralidade ao trazer à tela decisões cruciais para a sobrevivência desses jovens personagens que são levados ao seu limite.

Apesar disso, o roteiro realista felizmente não foge dos temas polêmicos, mergulhando no debate sobre o canibalismo praticado por eles na montanha. Mas, por trás dessa fria realidade, acolhe o espectador com um manto de respeito e compaixão pelos sobreviventes.

Destaque do elenco fica mesmo para Enzo Vogrincic, interpretando o jogador Numa, que brilha tanto quanto a neve do lugar, tornando-se a voz e a alma dessa luta. Seu desempenho é tão autêntico que nos faz questionar: o que faríamos se estivéssemos em seus sapatos gelados? Fora isso, todo o vasto elenco funciona e tem seu momento de glória, ainda que possamos confundí-los algumas vezes.

Visualmente, o filme é de tirar o fôlego. A sequência da queda, por exemplo, é um estudo magistral de realismo e angústia. Já havia indícios do talento de Bayona em O Impossível, mas aqui, ele eleva seu jogo, mostrando o desastre em toda a sua brutalidade. O diretor nos transporta diretamente para aquele cenário desolador, fazendo-nos sentir cada segundo da lenta e agonizante espera por resgate. E ao lado das atuações intensas, os aspectos técnicos – especialmente o som – amplificam o drama.

Veredito

Em A Sociedade da Neve, somos confrontados com a irrefutável capacidade de J. A. Bayona em esculpir uma narrativa deslumbrante de sobrevivência. Cada plano, cada cena, reverbera uma magnitude que exige ser testemunhada nas telas de um cinema. Esta é uma criação que não apenas estabelece novos padrões para a Netflix, mas nos instiga a refletir sobre os limites humanos diante do inimaginável.

Nesta obra-prima, cada minuto é um convite à introspecção, levando-nos por um turbilhão de sentimentos tão intensos quanto uma tempestade na cordilheira. As performances dos atores, habilmente orquestradas pela direção, são um testemunho do amor, do companheirismo e da resistência humana, mesmo quando envoltos pelo gelo implacável. Se no filme o frio é onipresente, nas emoções evocadas, a única coisa gelada é, de fato, a neve que encerra a tragédia.

Este filme foi assistido no Festival do Rio 2023.

NOTA: 10/10

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