Crítica | Pobres Criaturas – Banquete visual único em comédia sombria

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O cinema tem essa habilidade incrível de nos pegar pela mão e nos conduzir a mundos tão fascinantes e singulares que o nosso mundo real e cinzento parece ofuscar-se por completo. Yorgos Lanthimos, um mestre nessa arte, sempre nos presenteia com experiências cinematográficas que são verdadeiros deslumbres para os olhos e para a mente e em Pobres Criaturas (Poor Things), ele e a produtora Emma Stone elevam a arte a um novo patamar.

Trata-se de uma narrativa gótica steampunk inspirada no conto Frankenstein com uma dose de despertar sexual – uma dramédia feminista que é ao mesmo tempo perversamente sexual e maravilhosamente criativa, fixando-se em nossa psique de forma permanente.

A trama e o elenco de Pobres Criaturas

Ao apresentar uma narrativa que flerta com o absurdo, Pobres Criaturas explora a trajetória de Bella Baxter (interpretada com profundidade por Emma Stone). Ela é uma mulher reanimada pelo excêntrico Dr. Godwin Baxter (um convincente Willem Dafoe). Desperta para um mundo cheio de possibilidades, Bella encontra-se sob a proteção do doutor, mas anseia por mais. Ela é, afinal, uma alma curiosa e recém-ressuscitada. Então, movida por essa fome de vida, ela embarca numa jornada junto ao charmoso advogado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), explorando continentes e descobrindo-se uma mulher no processo.

Pode-se dizer que o enredo busca, claro, inspiração no conto de Mary Shelley, mas Lanthimos transforma o conceito original, impregnando-o com sua assinatura única. Temos aqui uma Bella que é ao mesmo tempo mãe e filha, uma entidade reanimada que busca significado no mundo. Essa busca é visualmente representada através de cidades como Lisboa, Alexandria e Paris, que são reimaginadas em estilos que lembram obras de Jean-Pierre Jeunet (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) com cenários criados por inteligência artificial. Quadros de cor vívida e ardida que ganham vida na tela. É de cair o queixo!

Lanthimos, com seu olhar visionário, nos serve um verdadeiro banquete visual. Seus cenários vibrantes e as escolhas estilísticas nos remetem a um mundo que é ao mesmo tempo familiar e completamente novo aos nossos olhos. Juntamente com Stone, ele cria um universo cinematográfico repleto de encantamento, cor e emoção. A jornada de Bella, desde suas lágrimas em Lisboa até sua estadia em um bordel em Paris, nada mais é do que uma metáfora de autodescoberta e desafio às normas sociais. A protagonista passa por uma jornada extensa de amadurecimento que vai de bebê chorona para uma mulher dona de si.

A performance de Emma Stone (La La Land) é, sem dúvida, o coração pulsante do filme. Ela entrega uma Bella Baxter que é vulnerável, curiosa e empoderada. O elenco de apoio, com Dafoe e Ruffalo à frente, enriquece ainda mais o tapeçado da trama, proporcionando momentos de tensão, comédia e introspecção. Pobres Criaturas é uma odisséia de autodescoberta e libertação que desafia as convenções do que esperamos do cinema, deixando-nos atordoados e maravilhados durante suas mais de 2 horas de duração.

Veredito

Cumprindo a sua pretensão, Pobres Criaturas é uma experiência cinematográfica que redefine o que o cinema pode ser. Um festim visual que explora a libertação, o despertar e as imperfeições do ser humano. Uma obra que, por sua vez, é um híbrido de drama, fantasia e comédia, mas que nunca perde sua alma caótica.

De fato, é o filme mais original e esteticamente ímpar dos últimos anos. Emma Stone está em sua melhor forma, e não seria surpresa vê-la dominar a temporada de premiações. Acima de tudo, Pobres Criaturas é um lembrete do poder do cinema: ser profundamente artístico, enquanto oferece puro entretenimento. Como o título ironicamente sugere, não há nada de “pobre” aqui. Em vez disso, é uma riqueza de imaginação, emoção e talento. Um verdadeiro tour de force.

Este filme foi assistido no Festival do Rio 2023.

NOTA: 10/10

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