Algumas histórias são simplesmente necessárias, sejam elas reais ou não. Muitas vezes, elas aparecem disfarçadas de filmes singelos, que poderiam ser facilmente exibidos em uma “Sessão da Tarde” ou em qualquer outra programação de TV aberta. Essas obras não são grandes referências em bilheteria ou sequer dão as caras em premiações. Por um lado, essa “discrição” é positiva e torna a relação do espectador com o longa muito mais pessoal. No entanto, é triste pensar que mensagens tão importantes quanto a de Uma Família Extraordinária talvez não toquem o grande público.
A história de Bambi (Kiernan Shipka) certamente é bastante incomum. Filha de pais neurodivergentes, a garota precisou aprender a cuidar de si mesma (e de seus progenitores) quando ainda era apenas uma criança. Com a vida adulta se aproximando, no entanto, Bea precisa decidir entre entrar em uma faculdade ou ficar em casa para tomar conta de sua família. A decisão é interrompida, porém, quando a jovem sofre um acidente e entra em coma.
Por mais improvável que pareça, a história de Bambi/Bea não é totalmente fictícia. Uma Família Extraordinária é inspirado na família do diretor Matt Smukler. Os personagens reais por trás do filme já haviam sido apresentados em um documentário de 2020 chamado Wildflower (também comandado por Smukler, no qual ele explora a relação entre sua sobrinha e os pais com deficiência intelectual).
Dessa vez, porém, o diretor permitiu-se utilizar de recursos fantasiosos para entregar uma narrativa que consegue emocionar e disseminar uma importante mensagem anti-capacitista — tudo isso, porém, de forma leve e com muito humor envolvido.
O longa se enquadra totalmente no gênero da comédia. Por mais que a vida de Bea e seus pais não seja sempre tão simples, o roteiro nos surpreende com muitas cenas cômicas que são essenciais para que possamos simpatizar logo de cara com a família apresentada. Inclusive, um dos maiores desperdícios do longa é não explorar certos personagens de forma aprofundada. É o caso, por exemplo, da avó materna de Bambi, interpretada pela excelente Jean Smart.
Vale dizer que a natureza divertida do longa não ofusca em nada a importante mensagem que está sendo passada para o espectador. Muito pelo contrário, isso faz com que quem esteja assistindo absorva despretensiosamente algumas lições e possa refletir sobre elas ao longo da narrativa sem precisar se preocupar com melodramas exagerados e gratuitos.
A ideia de transitar entre a realidade e o fictício é muito interessante neste caso. Mesmo sabendo que a história de Bea e sua família é real, nos pegamos em muitas cenas pensando coisas como “isso é forçar demais a barra” ou “com certeza não deve ter acontecido dessa forma”. Quando menos esperamos, percebemos o quão capacitistas podemos ser e entramos em conflito interno com nossos próprios preconceitos.
Essa característica provocativa talvez nem tenha sido inteiramente planejada por Smukler (que assina o roteiro ao lado de Jana Savage). No entanto, o diretor tinha uma história para contar e sabia que outras pessoas deveriam ouvi-la. Isso foi o suficiente para que fossemos agraciados por um divertido e delicado filme sobre uma família bastante especial.
Nota: 8/10
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