O peso colossal de carregar o título de um dos filmes mais notáveis do século XXI cai sob os ombros do clássico de Park Chan-wook, Oldboy. Ao nos encontrarmos no 20º aniversário deste ícone, os cinemas nos presenteiam com sua versão restaurada e remasterizada, permitindo que uma nova geração e veteranos se deliciem novamente com sua magistralidade. Mesmo após duas décadas e em meio à constante evolução do cinema moderno, este thriller sul-coreano resiste firme, influenciando uma legião de cineastas.
Com traços que nos lembram um Tarantino oriental, nos conduz por um intricado labirinto de vingança, violência e travessuras humanas. No entanto, diante de tantas novas ofertas cinematográficas, surgem as dúvidas: vale a pena revisitar este clássico? Assim como a recente nova versão de Titanic, a resposta é simples: esta é uma viagem que vale cada centavo do ingresso.
A trama e o elenco de Oldboy
Oldboy, uma engenhosa reinterpretação do mangá de Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi, estabeleceu-se como uma joia do cinema, mesmo diante de uma tentativa de adaptação hollywoodiana que mais merece ser esquecida que lembrada. Choi Min-sik brilha intensamente como Oh Dae-su, uma alma desesperada presa no caos de um cativeiro de 15 anos.
Liberto de suas correntes físicas, mas ainda algemado à sua angústia, ele é assombrado pelo assassinato de sua esposa, sendo ele próprio o principal suspeito. Com o tic-tac do relógio ecoando em seus ouvidos, ele tem cinco dias, não apenas para decifrar o enigma de sua prisão, mas para enfrentar seus próprios demônios internos e desenrolar sua trama de vingança.
Sob a direção meticulosa de Park Chan-wook, o longa é um ballet visual onde a estética se funde com a brutalidade. Cada cena é uma pintura, seja nas cores saturadas que quase pulam da tela, ou nas sequências de ação, que incluem a memorável cena de luta no corredor, filmada em um plano-sequência ininterrupto. Essa dança entre a beleza e o grotesco faz com que o espectador fique em constante tensão, em um equilíbrio perfeito entre admiração e desconforto.
A influência de Oldboy pode ser vista não apenas na explosão do cinema sul-coreano no cenário mundial, mas também no modo como cineastas contemporâneos abordam a narrativa. O longa não é apenas uma história de vingança, mas um mergulho nas profundezas da psique humana, explorando temas de memória, identidade e as consequências duradouras de nossas ações. A obra levanta mais questões do que respostas, convidando o espectador a uma introspecção e reflexão.
Além da direção firme e da narrativa envolvente, a trilha sonora composta por Jo Yeong-wook é magistral, conduzindo-nos através das montanhas russas emocionais de Oh Dae-su, intensificando cada reviravolta e revelação. E embora o filme tenha suas raízes firmemente plantadas no mangá e na cultura coreana, seu apelo é universal, falando da condição humana, de desejos reprimidos e da natureza volátil da vingança.
Veredito
Se o tempo é o juiz supremo de todos os filmes, Oldboy desafia sua autoridade, envelhecendo com a graça e complexidade de um vinho raro. A remasterização presente nesta edição se limita a realçar cores e aprimorar nuances técnicas, mantendo a essência original do filme. E, curiosamente, a experiência de se submergir nesta obra hoje se torna ainda mais claustrofóbica, mais perturbadora, se é que isso é possível.
Seus dilemas filosóficos e suas habilidosas referências cinematográficas apenas intensificam sua potência. Oldboy é mais do que cinema – é uma epifania, uma experiência que raramente se repete na história do cinema. Assim, ver na tela grande não é apenas entretenimento, é um privilégio; uma ode ao poder narrativo e visceral do cinema asiático.
Em um mundo repleto de remakes e sequências, esta obra de ação permanece em seu trono, desafiando cada espectador a mergulhar em seu universo perturbador e magnífico. E, como diria o próprio Oh Dae-su: “Ria e o mundo rirá contigo. Chore e chorarás sozinho”. Em Oldboy, nós fazemos os dois.
NOTA: 9/10
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