Crítica | Estranha Forma de Vida – Almodóvar nos deixa cair em tentação

A curta duração de Estranha Forma de Vida (Strange Way of Life), assinada pelo icônico cineasta Pedro Almodóvar (Mães Paralelas) e que chega aos cinemas brasileiros através da vindoura parceria da MUBI com a O2 Filmes, não significa, de modo algum, uma carência de substância. Em somente 30 minutos, esse curta-metragem – o segundo de Almodóvar em língua inglesa – tece narrativas complexas que brilham com nuances homoeróticas, posicionando-se como uma resposta sutil ao aclamado O Segredo de Brokeback Mountain. A despeito de sua natureza sexy e caliente, há em Almodóvar uma maturidade que, ao contrário de cineastas como Wes Anderson – cujo estilo por vezes se torna repetitivo -, consegue surpreender com uma novidade sensual e deliciosa.

A trama e o elenco de Estranha Forma de Vida

Almodóvar, mesmo com um acervo cinematográfico repleto de histórias intensas, surpreende mais uma vez ao nos apresentar uma visão única sobre relações humanas. Subvertendo o que conhecemos de seu trabalho em estúdio, o cineasta nos leva ao coração do deserto, imergindo-nos em um Western gay onde os limites entre desejo e disputa se entrelaçam.

A história centra-se no rancheiro Silva (Pedro Pascal leva os fãs à loucura), que, depois de um quarto de século de separação, viaja pelo deserto para reencontrar Jake (Ethan Hawke), o xerife de Bitter Creek. As próximas horas são marcadas por uma profunda intimidade, resgate de memórias e tensões. Mas o sol da manhã seguinte revela que este encontro não é apenas uma viagem nostálgica, mas está profundamente ligado a um crime local.

Filmado no resplandecente deserto de Tabernas, em Almeria, Espanha, cada fotograma transpira a calorosa e solitária vastidão, com um toque das cores clássicas de Almodóvar. Surpreendentemente, vemos no curta uma fuga dos personagens femininos fortes, frequentemente presentes nas obras do diretor. No entanto, a química entre Pascal e Hawke é palpável. Mesmo que seus desempenhos não sejam o pico de suas carreiras, eles trazem uma sinceridade comovedora.

E, embora o filme por vezes caia na tentação de prolongar seus monólogos, quando opta pela sensualidade, é simplesmente brilhante. Uma cena, em particular, envolvendo um banho de vinho, é de tirar o fôlego. Com a harmonia de uma trilha sonora cativante de Alberto Iglesias e figurinos impecáveis da Saint Laurent, Almodóvar prova que a essência de sua arte reside na exploração de diálogos profundos e relações humanas, independentemente da duração.

Veredito

Na silhueta de dois homens contra o horizonte, Estranha Forma de Vida é a reinvenção do faroeste pelo olhar sensível de um visionário. Almodóvar não apenas reimagina, mas também questiona a rigidez da masculinidade, revelando sua fragilidade. Enquanto somos imersos nesta ardente dança entre Silva e Jake, o curta nos deixa ansiando por mais, terminando abruptamente, tal qual uma paixão de verão. Mais exploração e ousadia poderiam ter intensificado o clima, mas não se pode negar o poder de sua narrativa.

Ao final, o curta não apenas reverencia o gênero faroeste, mas redefine-o, oferecendo performances dignas de nota. Estranha Forma de Vida é ardente e vibrante, mas seu maior pecado pode ser a corrida contra o tempo. O diretor nos convida para uma dança, mas a canção acaba cedo demais. Entretanto, Almodóvar confirma sua posição no panteão do cinema: um narrador insuperável de histórias humanas. A única estranheza aqui é a pressa de contar uma história tão envolvente.

NOTA: 8/10

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