Crítica | Transformers: O Despertar das Feras (e da necessidade urgente de um bom roteiro)

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Enquanto algumas franquias se reinventam, outras parecem eternamente presas no filme original, como é o caso da saga Transformers nos cinemas. É aquele filme que você paga para assistir a mesmíssima premissa por 16 anos, agora com o agravante de que tanto o público quanto a tecnologia evoluiram, mas os robôs inteligentes parecem ter ficados preso no tempo – ou no bolso de algum executivo de Hollywood sedento por replicar o sucesso sem fugir da fórmula. Transformers: O Despertar das Feras, sétima incursão nesse mundo, até resgata a diversão dos melhores episódios, mas enfraquece pela ausência de comprometimento em inovar.

De fato, após o ótimo spin-off Bumblebee, a franquia parece estar lentamente voltando aos trilhos e investindo em histórias menores, mais contidas e com bem menos efeitos megalomaníacos do pai da saga, Michael Bay. Uma correção de curso válida, que apresenta personagens humanos decentes e destaca a ação monumental. Ainda assim, essa escala emocional ainda engatinha e precisa de mais ânimo e substância para fazer valer o ingresso, uma vez que não estamos mais em 2007.

A trama e o elenco

Pegando a história depois do filme solo do Bumblebee, O Despertar das Feras é situado em 1994 – se afastando das maluquices dos últimos filmes – e acompanha o ex-soldado Noah Diaz (vivido pelo excelente Anthony Ramos) prestes a entrar para o mundo sigiloso dos alienígenas transformadores da Terra. O protagonista, assim como o jovem Sam Witwicky no filme original, atua como o correspondente humano dos Autobots, e enquanto ele luta para sobreviver, salvar seu irmão mais novo e defender o planeta das ameaças colossais, também precisa vivenciar sua típica jornada do herói.

Dessa vez – não que seja uma novidade – há um artefato milenar na Terra capaz de levar os robôs de volta para casa, mas se cair em mãos erradas pode significar o fim de diversos mundos, ou seja, o clássico dispositivo do enredo, na forma de algum objetivo, que o protagonista persegue sem nenhuma justificativa cabível, mas que serve para mover toda a trama pra frente. É exatamente o enredo padrão que você esperaria de um filme como este. Conhecemos então os Maximals – uma mistura bizarra de animais com androides – e finalmente há a primeira boa adição à franquia que não seja Autobots ou Decepticons.

Do gorila Optimus Primal (Ron Perlman) ao falcão Airazor (Michelle Yeoh), as novas criaturas são divertidas, empolgantes e representam realmente uma camada extra de fantasia e inventividade que faz bem para a franquia, já que estamos cansados da mesma ladainha de sempre vinda de Optimus Prime (Peter Cullen) e convidados, até mesmo Bumblebee parece perder o charme quando está em um filme conjunto. Os Maximals têm a oportunidade de brilhar porque não somos bombardeados com as sequências de ação típicas de Bay que induzem a dor de cabeça nos filmes anteriores. E por falar em personalidade, Mirage (Pete Davidson) é o Autobot com as melhores piadinhas infames e juvenis.

No entanto, nem tudo pode ser comemorado com o mesmo entusiasmo. Enquanto Diaz e Dominique Fishback (que vive a inteligente pesquisadora de artefatos do museu, Elena Wallace) fornecem performances sustentáveis ​​o suficiente como aliados dos robôs, seus personagens parecem engrenagens em uma máquina. Atitudes engessadas e com pouca naturalidade impedem que eles assumam o brilho pra si. Há uma dose boa de diversidade, que abrange novas narrativas, mas também há um mar de estereótipos que o roteiro nunca consegue superar. Por falar nele, o roteiro é vazio na essência, mas carrega alguns bons momentos de coração que nos faz lembrar o começo de tudo.

Tudo no filme soa menor e menos trabalhado, por vezes isso é bom, por vezes parece precário demais. A parte técnica faz o básico e se sustenta mesmo pelos quilos de efeitos especais e CGI tradicional, um pouco menos primoroso dessa vez. Por fim, há um cyborg inorgânico na vibe terrível de Liga da Justiça ou Robocop que parece um tanto infeliz e mal realizado, assim como a última e amarga cena do filme – que o conecta com algo ainda maior – totalmente ineficaz para a trama. Felizmente, na ação o filme cresce e entrega o que se propôs fazer, uma vez que Steven Caple Jr. (Creed 2) conduz com maestria e um equilíbrio sólido entre o lado humano e o caos alienígena.

Veredito

Não ser o pior filme da franquia após 16 anos já é uma vitória para Transformers: O Despertar das Feras, mas passa longe de ter o coração e engenhosidade do original. Sem desejar atingir o nível épico do caos sensacionalista de Michael Bay, há uma adição de humanidade que salva a história e descomplica sua narrativa cínica. Uma sequência que – felizmente – retorna ao básico dos Transformers em uma escala maior do que Bumblebee, mas nunca fica grande demais para dar conta do recado. Mesmo com sua carência narrativa, deve agradar os fãs mais entusiasmados, mas não transforma a mesmice em combustível – ainda não.

NOTA: 6/10

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