Crítica | Renfield – Nicolas Cage dá o sangue em comédia alegremente ridícula

Depois de inúmeras abordagens da lenda do Conde Drácula nos cinemas é cada vez mais difícil se surpreender com algo dentro dessa premissa. Mas Renfield consegue um feito inédito: provar que Nicolas Cage nasceu para o papel de vampirão egocêntrico e sem alma. Sua atuação é primorosa, hilária e totalmente coerente com o que faz de melhor, algo que compensa o roteiro desleixado e frustrante do longa.

Renfield é uma comédia de ação e terror sobre relacionamentos tóxicos e codependência, que ressignifica a história do Drácula e seu fiel ajudante, trazendo-a para os dias de hoje, com as problemáticas atuais. Pode parecer chato, mas esse upgrade ainda carrega a essência dos clássicos da Universal, só que agora por um olhar cômico que sempre esteve presente e nunca antes havia sido explorado com tanto vigor. O problema é que o filme tem dificuldade de unificar seus gêneros, que lutam por espaço na tela, mas que diverte por conta de seu ótimo e bem selecionado elenco.

A trama e o elenco

É uma delícia quando encontram comédia em Drácula e o roteiro de Renfield faz um trabalho divertido sobre o relacionamento insanamente doentio entre o Mestre dos Mortos e seu assistente que dá título ao filme, vivido pelo cômico Nicholas Hoult (O Menu), que interpreta um protagonista esquisito e cativante, um sujeito deprimido em um acordo profissional abusivo com seu mestre sugador de sangue. Ainda que Cage roube a cena em cada segundo que está presente, o filme não é sobre ele.

Antes de qualquer coisa, é importante entender que essa história opera com uma mentalidade do início dos anos 2000; não se trata de encontrar uma razão lógica para Renfield ganhar superpoderes ao comer insetos ou outras mudanças mitológicas do material de origem, mas sim apreciar a loucura que fica fora de controle. Renfield e Drácula acabam na Nova Orleans moderna, presos entre uma máfia do crime organizado e uma honesta policial (Awkwafina). Apesar das atualizações, ainda há muito apreço pelo clássico com Béla Lugosi, pois recria – de forma hilária – sequências em preto e branco retiradas diretamente do filme de 1931.

O diretor Chris McKay (A Guerra do Amanhã) não fez um filme de terror sobrenatural, mas inclinou-se fortemente para a estética gótica de vampiros, como o traje de cartola e capa de Drácula, seu trono de bolsas de sangue e a natureza suja do esconderijo sem luz do vilão. Por sua vez, a pele pálida e fantasmagórica de Renfield evoca o lado charmoso do galã misterioso que vemos em filmes como A Saga Crepúsculo e Entrevista com o Vampiro. Passa longe de ser assustador, mas McKay faz bem em injetar ricas vibrações de terror em todo o seu DNA, como a transformação nojenta de Drácula e o excesso de sangue para todos os lados.

Como mencionado, Nicolas Cage (Mandy – Sede de Vingança), ainda decidido em mostrar o peso de todo o seu talento, hipnotiza com uma performance espirituosa e teatral do monstro sanguessuga, sem dúvida um dos trabalhos mais comprometidos do astro. Mesmo modernizado, seu Drácula possui traços de personalidade de tantos outros vampiros cruéis e insanos que marcaram a história do cinema e da literatura.

Porém, o que não funciona tão bem assim são as subtramas confusas e descartáveis, que se chocam ao plot central, como por exemplo a busca por vingança da policial Rebecca – que vive para defender a reputação imaculada de seu pai. Sempre hilária Awkwafina (Podres de Ricos), se vê limitada em um humor mais contido, que não se encaixa na galhofada que é a trama.

O próprio Hoult, apesar de entregar o necessário, se esforça para encontrar alguma estabilidade nesta jornada dispersa que é a luta para ser protagonista de um filme cujos coadjuvantes são bem mais interessantes. O romance também briga pela sobrevivência, já que não há química alguma. Às vezes a dinâmica entre o elenco é tão ruim e desequilibrada que lembra o Sombras da Noite, do Tim Burton. Por outro lado, funciona terrivelmente bem na violência gráfica exagerada, no banho de sangue em cada divertida sequência de luta digna de filmes da Marvel. Talvez o mais divertido filme de ação com vampiros desde o Anjos da Noite original.

Veredito

Como uma boa comédia de terror, Renfield funciona por ser um tributo divertido aos monstros clássicos da Universal e acerta em trazer a lenda do Drácula para um contexto criativamente atual. Mas não foge de ser uma brincadeira boba, que se torna um verdadeiro espetáculo quando Nicolas Cage está em cena. Sua performance hipnotizante entrega um ícone do terror absolutamente exagerado, egocêntrico e megalomaníaco como deveria ser.

Com uma ótima duração curta, o filme apresenta subtramas demais para seu pouco tempo de resolução, mas a jornada hilária do protagonista para sair do relacionamento tóxico com seu chefe é o mais puro suco do passatempo escapista que o cinema anda precisando. Para quem está sedento por sangue de entretenimento, essa besteira de 90 minutos deve saciar a vontade, no entanto, a mordida vem recheada de esquecimento. Todavia, felizmente não esconde ser uma comédia ferozmente violenta e alegremente ridícula.

NOTA: 7/10

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