Crítica | A Morte do Demônio: A Ascensão – Uma descida de elevador ao inferno

Se tem uma franquia que o público sempre compreendeu é Evil Dead. Nunca foi um fracasso, nunca esgotou suas energias e, a cada novo filme, parece saber brincar com sua fórmula ainda melhor que o anterior. Uma verdadeira joia do cinema de horror. No entanto, escrever e dirigir uma sequência de uma amada saga não é moleza, apesar de quão fácil Lee Cronin (O Bosque Maldito) faz parecer com A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise).

Sua espécie de spin-off da série icônica é tão cruel quanto o remake/sequência abusadamente malévolo de Fede Alvarez, de 2013, respeita a essência de Sam Raimi e abre um leque de possibilidades para explorar a tradição de maneiras empolgantes e independentes. Além de dar uma assinatura própria, o que desperta este novo filme é o quão bem ele domina sua atmosfera de horror e a nova ambientação sinistra – agora fora das cabanas na floresta. É agressivamente assustador e doentiamente hilário. Um assassino frio que o cinema de terror estava precisando faz tempo.

A trama e o elenco

Sem assumir ser sequência ou remake, A Morte do Demônio: A Ascensão funciona independente, mas encontra um meio-termo confortável entre o filme sanguinolento de 2013 e a trilogia de sequências bem-humorada de Sam Raimi. Apesar de desempenhar uma trama mais contida, a equipe de efeitos especiais entrega as melhores cenas de mutilação de toda a franquia, com efeitos práticos absurdamente bem realizados através de novos galões de sangue falso pelo set. Ainda empenhado com o senso de humor dark da série, faz rir pelo absurdo, mas arrepia os pêlos da nuca quando necessário. O mergulho sombrio está presente, talvez até mais do que antes.

No enredo inventivo – agora situado no subúrbio de Los Angeles – explora um cenário urbano interessante ao se passar quase por completo dentro de um complexo de apartamentos prestes a ser demolido. Um viés Inferno na Torre (1974) com [REC] que inesperadamente funciona. Alyssa Sutherland (Vikings) provoca maniacamente as vítimas como a mãe solteira Ellie, nossa nova paciente zero.

Depois de sua brilhante transformação no demônio central da trama, ela manipula sua voz maternal de brincadeira como um truque doentio para zombar de quaisquer lampejos da alma de Ellie que ainda existam. Sutherland – em uma performance estelar de horror corporal – vomita um punhado de falas engraçadas e esquisitas, como “Mamãe está com os vermes agora!”, que choca ainda mais quando seguidas por um sorriso maleficamente doce de uma mãe em desespero.

A Morte do Demônio: A Ascensão talvez não seja o capítulo mais cômico, porém, a configuração é genuinamente perturbadora. O novo Necronomicon, que é travado por dentes irregulares como uma armadilha para moscas – ou o Livro Monstruoso dos Monstros, de Harry Potter – desencadeia o mais puro mal sobre os três filhos de Ellie e sua irmã visitante Beth (Lily Sullivan) durante uma noite chuvosa.

Desde raladores de queijo até cajados afiados com cabeças de bonecas, absolutamente tudo no apartamento vira arma na guerra contra os chamados Deadites invocados do livro satânico pelo filho mais velho Danny (Morgan Davies), após um terremoto que abriu o covil do caos no subsolo do lugar. Enquanto Sutherland vive a vilã imbatível, Sullivan é a final girl necessária.

Através do cenário levemente limitado pelo contexto urbano, longe das florestas sinistras dos anteriores, Cronin conduz a direção de forma impiedosa e caminha veementemente por todo o ambiente e suas peculiaridades – com ângulos de câmera sensacionais e estranhos, provando toda sua maestria no gênero. Assim como no recente Pânico VI, essa mudança de ares para um lugar metropolitano agrega ainda mais solidão e brutalidade, um crescente sentimento de medo e isolamento que se conecta com todos nós.

Em vez de estradas ou pontes se tornarem inutilizáveis, o prédio danificado se torna uma armadilha mortal de escadas desmoronadas, elevadores quebrados e fios expostos que parecem trepadeiras. Uma genial selva urbana cercada de horrores. O diretor domina muito bem a arte e claramente se diverte com os easter eggs que presta homenagem, sem cair na temida repetição da fórmula como tantos filmes atuais.

E também, sem desperdiçar seu precioso tempo de tela, o ritmo acelerado garante que nenhuma cena nos permita recuperar o fôlego por completo. Cronin mantém o pedal pressionado com força enquanto os corpos ejetam todos os tipos de fluidos coloridos ou galões e mais galões de sangue derramados como um bom terror gore tem que ser. Conforme a trama avança, a violência se torna cada vez mais feroz e gráfica.

Apesar disso, há deslizes na narrativa e muito se deve às pequenas escolhas de tentar dar mais profundidade aos personagens, como o fato de Beth estar grávida, uma tensão de maternidade que até é bem-vinda, mas mal aproveitada. Alguns simbolismos religiosos também soam rasos demais. O terror ganha mais espaço e qualquer complexidade das personagens fica em segundo plano.

Deixando de lado esses detalhes nada sérios, o filme felizmente oferece tudo o que os fãs de A Morte do Demônio desejam e muito mais. O que você espera de um filme desse nível é entregue por meio de carnificina mastigada, pedaços de carne cuspidos e excesso de possessão demoníaca que impulsiona a franquia para o futuro de uma maneira inesperadamente criativa.

Veredito

Ao oferecer uma descida vertiginosa de elevador rumo aos nossos piores pesadelos, A Morte do Demônio: A Ascensão é, quem diria, o capítulo mais inventivo da franquia e uma reinvenção que não derrama sangue criativo em vão. Puro entretenimento de terror visceral e acelerado, com abundância de violência gráfica e que domina plenamente a arte de aterrorizar sem fazer muito esforço. Sem dúvida, um presente ardilosamente repugnante para os fãs da série e uma adição digna ao legado deixado pela genialidade de Sam Raimi no gênero.

Definitivamente, é difícil manter uma franquia viva e pulsante por tanto tempo no cinema de horror sem que caia na terrível repetição da fórmula, mas A Morte do Demônio: A Ascensão é reconhecível como um filme de Evil Dead, ainda que satisfatoriamente moderno, fresco e original, como uma ferida aberta que se recusa a fechar. E, para a nossa satisfação, ainda possui muitos litros de sangue para despejar. Brilhante nas performances, artístico na direção, um casamento perfeito de estilo, técnica e gêneros. A ascensão do terror desse ano.

NOTA: 9/10

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