Crítica | O Urso do Pó Branco – A overdose de humor e insanidade que o cinema merece

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Sim, O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear) é um filme muito estúpido. Mas isso você já deve ter adivinhado por conta de sua trama, digamos, exótica. Parte da experiência coletiva de cinema consiste em adentrar em mundos absolutamente absurdos e viver por algumas horas nesses universos malucos onde cada loucura pode render uma boa história. Nesse caso, rende uma matança desenfreada de um urso chapado de cocaína. Se a história do cinema não nos leva à isso, o que mais levaria?

Antes de qualquer coisa, é importante salientar que “estúpido” não significa medíocre. Muito pelo contrário. Filmes de animais assassinos costumam provocar essa sensação estranhamente satisfatória no público e seguram o suspense na tela como poucos dentro do gênero, mesmo com incoerências e uma dose extra de liberdade criativa para que possam funcionar. De fato, a gente gosta de ver gente arrogante morrer para criaturas predatórias. E O Urso do Pó Branco possui de sobra todos aqueles prazeres baratos e culposos, sendo até convincente o suficiente para ser assustador quando destrói tudo o que encontra pela frente na tentativa de alimentar seu vício aleatório.

A trama e o elenco

A história, que tem como base eventos absurdamente reais, segue o ponto de vista de um urso negro americano que ingere uma quantidade insana de cocaína em 1985, depois que uma operação de contrabando de drogas fracassa. Com todo esse nível de adrenalina pelo seu corpo, o animal sai pela floresta em busca de saciar seu vício e destroçando qualquer um que cruze seu caminho. No mundo real, o bicho, obviamente, morreu de overdose em poucas horas, mas esse contexto hilário e violentíssimo criado pela diretora Elizabeth Banks (As Panteras) imagina como seria se aquele tal urso infeliz e faminto tivesse sobrevivido e começasse uma caçada por mais cocaína, algo que rende sangue, tripas e boas piadas.

Apesar de sua premissa um tanto quanto ridícula (afinal, olha esse título!), é surpreendente, porém, é o quão bem o filme funciona dentro dos limites que estabelece, seja no grau elevado de violência gráfica que corajosamente explora ou no senso de humor besta que se banha. Cada detalhe na história, assim como seus múltiplos personagens, eleva o nível de “ok, esse urso está drogado e descontrolado”, para criar uma sensação de perigo fantástica e bastante convincente. Até mesmo o temido conflito da comédia com o horror parece não existir aqui, ambos os gêneros se completam que é uma maravilha.

Isso não é apenas porque todo o conceito do filme é ilógico, mas também porque cada pessoa na tela está total e completamente comprometida com a trama. Há uma sensação contagiante de que eles estavam claramente se divertindo muito ao fazê-lo. Personagens e figurinos são exageradíssimos, desde o desprezível avô traficante de drogas de Ray Liotta (em seu último papel nos cinemas) até a guarda-florestal egocêntrica e despreparada de Margo Martindale, cada coadjuvante serve tanto como alívio cômico, quanto um pedaço de carne para ser devorada pelo caminho do urso chapado. O jovem Christian Convery (Sweet Tooth) rouba a cena e favorece as melhores gracinhas.

O roteiro, por sua vez, não é inovador e nem tenta reinventar a roda. Repleto de piadas cafonas e previsíveis, tem êxito na grande palhaçada que abraça e no quão forte não se leva a sério. A duração, aliás, de 1 hora e 30 minutos é deliciosamente bem aproveitada com sequências de ação que revezam entre os personagens e suas mortes hilárias. Já o aspecto de terror existe por conta da sensação crescente de perigo e pela ótima condução de Banks, que brinca com a expectativa do público e proporciona sustos afiados.

Desde o começo o filme estabelece que o urso titular é uma máquina de matar imparável. É enorme, rápido e capaz de subir em árvores, derrubar portas ou saltar dezenas de metros no ar para conseguir o que quer. Isso, por si só, já nos deixa na ponta da poltrona, mesmo com alguns deslizes dos efeitos digitais do animal. As mortes aqui funcionam principalmente porque são sangrentas, maníacas e, muitas vezes, simplesmente hilárias.

Não há realmente uma mensagem aqui porque o longa não romantiza a cocaína ou a denuncia severamente. Em vez disso, usa a droga como um ingrediente que, quando despejado liberalmente em uma cena, faz com que todos que interajam com ela se tornem frenéticos e insanos. Banks também toma o devido cuidado de não vilanizar o animal além do essencial para se temê-lo. Há cenas fofas, dóceis e gentis que nos faz lembrar que esse “monstro sanguinário” é apenas uma mãe ursa atiçada pela ação humana em seu território.

Veredito

Com isso, longe de ser “um filme tão ruim que fica bom”, O Urso do Pó Branco destemidamente celebra as histórias absurdas com muito senso de humor, dá aos seus personagens o que mastigar em cena e entrega piadas matadoras, enquanto acompanha uma ursa chapada de cocaína e sem paciência para os seres humanos. Tem como a história do cinema proporcionar algo melhor que isso? Se desligar o cérebro por 1 hora e meia, o filme funciona e diverte como poucos recentemente.

Uma comédia de terror sangrenta, hilária, consciente de sua premissa inerentemente ridícula e que entrega exatamente tudo aquilo que promete. Numa escala de Tubarão de Steven Spielberg à Sharknado, O Urso do Pó Branco ainda é o filme mais insano de animais revoltados que você precisa desesperadamente assistir.

NOTA: 8/10

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