Crítica | As Múmias e o Anel Perdido – Animação soterrada pelas areias da mesmice

O mercado de animação tem vivenciado um ciclo eterno de repetição da fórmula que nos leva a exaustão. E depois do tal “padrão Pixar” de como fazer aventuras infantis para crianças e adultos acompanhantes, fica cada vez mais enjoativo ter que assistir algo que não considera os pais e apenas tenta encontrar diálogo forçado com os pequenos da sala. Com As Múmias e o Anel Perdido (Mummies) – nova animação da Warner Bros – essa chatice é testada ao extremo, uma vez que o filme usa e abusa de todos os clichês possíveis para tentar ser tudo, menos uma história que se preservaria no tempo, já que soa totalmente esquecível.

O principal problema deste filme – ainda que haja vários outros evidentes – está na sua falta de identidade e no desespero para preencher o checklist de tudo que um filme deveria ter para fazer sucesso com as crianças, esquecendo pelo caminho que essa mistureba de artefatos não tem valor algum quando não há uma história cativante e original por trás de tudo. Com isso, resta apenas uma produção genérica, inconsistente e que não faz jus ao legado egípcio no mundo, afinal, seu único intuito é explorar estereótipos e gerar humor com isso. Uma piada anacrônica até é divertida, mas anacronismo em abundância torna-se chato e preguiçoso.

A trama e o elenco

Apesar do esforço do roteiro de explorar metodicamente os estereótipos de cada indivíduo em tela – temos o vilão megalomaníaco, a princesa rebelde e independente, a criança esperta e seu pet fofinho e o protagonista frouxo, que encontra sua coragem pelo caminho – nenhum dos personagens abrasivos desse filme são interessantes ou nos passam algum valor especial além do óbvio de sempre. Portanto, não há nada envolvente, tudo se resume a correr para a próxima tarefa para nossos pequenos heróis.

O enredo de As Múmias e o Anel Perdido, por sua vez, segue três múmias egípcias que vivem em uma imensa cidade secreta subterrânea, escondida no antigo Egito. O trio inclui uma princesa, um ex-cocheiro e seu irmão mais novo, junto com seu bebê crocodilo de estimação. Através de uma série de eventos infelizes, as múmias acabam na Londres atual e embarcam em uma viagem absurda em busca de um antigo anel pertencente à Família Real, que foi roubado pelo ambicioso arqueólogo Lord Carnaby.

Entre uma piada sem graça e outra sem ânimo, o ritmo frenético da direção de Juan Jesús García Galocha e da montagem faz o filme parecer acelerado, sem que sua emoção ande para frente na mesma sintonia. A aventura deixa a desejar em diversos pontos cruciais, mas se perde numa construção clichê de romance entre dois indivíduos opostos que chega a ser maçante de acompanhar – e embalado por uma canção cafona do Nickelback totalmente desconexa do momento.

A mesma ladainha de sempre, só que agora com roupas egípcias luxuosas e um pouco menos engenhosidade do roteiro de fugir do senso comum. Para as crianças pequenas, o humor com o crocodilo pet deve funcionar, mas não vai além disso, já que parte de sua narrativa é “adulta” demais para elas e infantil demais para qualquer adulto. Não há múmias de fato (desperdício de alguns bons elementos de terror), apenas referências preguiçosas. O vilão, movido pela ganância, passa apenas a lição habitual de que toda civilização antiga deve ser respeitada e preservada.

Se o começo é repleto de ação em uma corrida de bigas eletrizante, parte dessa energia se perde pelo caminho e as próximas sequências de ação são fracas, bobas e sem empolgação. O protagonista Thut carrega consigo um trauma do passado e entra nessa jornada do herói para superar suas barreiras, porém, seu desenvolvimento é raso, assim como seu carisma. Mesmo sendo um desenho animado, falta conexão emocional do personagem com o público. Além disso, não há esforço do roteiro para mostrar aos pequenos temas interessantes sobre o Egito Antigo, como vemos em filmes como O Príncipe do Egito, por exemplo, aqui a cultura serve apenas de ponto de partida e fascínio ocidental.

Veredito

Soterrado pelas areias da mesmice e preso no sarcófago dos clichês mais preguiçosos sobre o Egito Antigo e suas peculiaridades, falta múmia em As Múmias e o Anel Perdido e sobra uma aventura bobinha e efêmera, que nem se fosse mumificada seria preservada na memória das crianças. Uma animação bem realizada e enérgica, que deve encantar especialmente os bem mais novos, mas que dispensa qualquer originalidade e mal aproveita sua rica temática em prol de fazer o superficial.

NOTA: 4/10

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