Crítica | Oferenda ao Demônio – Horror sobrenatural à moda antiga para te assombrar

Em um filme de terror cujo primeiríssimo susto consiste no jump scare de uma galinha pulando na frente da tela, é realmente difícil de acreditar que coisa boa possa sair disso. No entanto, Oferenda ao Demônio (The Offering) – que chega ao Brasil pela Paris Filmes – não parece querer ganhar pontos pela sua inventividade, algo que de fato não possui, mas sim pela diversão à moda antiga que proporciona com sua trama carregada de clichês e tropos clássicos do gênero, preenchidos um a um a cada nova sequência de terror. E sem ter a capacidade (ou interesse) de criar sua própria identidade, o longa reutiliza descaradamente fórmulas convencionais, mas pelo menos faz isso com maestria e com uma direção elegante.

A trama e o elenco

Um dos (senão o) maiores acertos do filme está exatamente nessa aceitação de não querer reinventar a roda e alinhar as expectativas do público com a sua habilidade de entregar precisamente o que se espera desse tipo de obra. Muitas vezes vemos filmes se esforçando desesperadamente para ser algo fora de alcance e essa investida quase nunca dá certo. Aqui, o roteiro expositivo peca por mostrar demais, isso é fato, uma vez que as melhores cenas do filme são quando eleva a espera do expectador sem jogar em nossa cara sustos baratos e previsíveis, porém, funciona perfeitamente na atmosfera de medo que constrói lentamente e que culmina em um desfecho afetado pelo CGI precário, mas divertido pela ousadia dos ângulos de câmera inusitados.

Na trama levemente embolada, após o desaparecimento de uma jovem judia, Art (Nick Blood), o filho de um agente funerário, volta para casa com sua esposa grávida (Emily Wiseman) na esperança de se reconciliar com seu rígido pai. Mal sabem eles que logo abaixo deles no necrotério da família, um antigo mal com planos sinistros para o feto se esconde dentro de um cadáver misterioso. E com pinceladas de O Bebê de Rosemary e Invocação do Mal, muito do enredo se sustenta pela ambientação sombria e pela presença do capiroto que habita o local – uma criatura macabra, feita em CGI que, por vezes assusta, por vezes provoca riso involuntário.

E, apesar dos chavões clássicos do gênero, Oferenda ao Demônio possui sim sua parcela de singularidade, uma vez que explora a cultura judaica e as lendas religiosas dentro do horror, semelhante ao que o ótimo The Vigil faz. A sensação de estranheza e particularidades de rituais de uma cultura ainda pouco abordada no gênero instiga nossa curiosidade e, com isso, nosso fascínio para saber até onde aquela história de possessão pode ir. Sem grandes surpresas, funciona na excentricidade das situações, já que os personagens, por sua vez, são meramente ilustrativos e rasos. Falta química entre o elenco e sobra uma overdose de performances inconsistentes.

A direção

O diretor Oliver Park faz sua estreia no cinema após alguns curtas elogiados e prova que sabe conduzir um filme maior, ainda que tenha deslizes no ritmo aqui e ali. Toda a construção dos sustos é boa e alguns até se mostram mais inteligentes do que se poderia esperar, mas, novamente, tropeça por querer mostrar demais e deixa pouco espaço para que a imaginação do público entre em ação.

Enquanto a narrativa ainda depende muito de jump scares para fisgar, o filme encontra um bom equilíbrio entre explicar as regras sobrenaturais do demônio ameaçador e abraçar o desconhecido, essa força poderosa que alimenta nossos medos. Park, consciente do que possui em mãos, sabe exatamente como juntar tudo de uma forma que não pareça forçada ou gratuita, com os males que espreitam na casa funerária, na verdade, servindo a um conto de sacrifício e legado. É uma história previsível, com certeza, mas que foi polida o suficiente para valer a pena entre tantas outras menos atrativas.

Veredito

Mesmo com sua premissa genérica e sustos preguiçosos, Oferenda ao Demônio está possuído de boas ideias e domínio entusiasmado das histórias de horror sobrenatural feitas à moda antiga. Nem todo filme precisa fugir da fórmula convencional, basta entregar destemidamente o mínimo que se compromete fazer e, pelo caminho, provocar o medo mais simples e básico do expectador. No fim das contas, incapaz de ser original, o terror oferece o suficiente para assustar, divertir e intrigar quem busca um derivado de outras obras maiores.

NOTA: 7/10

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