Crítica | Avatar 2: O Caminho da Água não sai do lugar, mesmo que tente disfarçar

Existe uma beleza no cinema que não pode ser enquadrada. Vai além do framerate escolhido, das tecnologias visuais oferecidas, das cenas mirabolantes e grandiosas, e do realismo visto em tela. É difícil de colocar em palavras, porque este tipo de beleza mora na sensação de um filme, na sua imersão, e especialmente na sua capacidade de fazer com que você saia dele diferente de como entrou. Avatar 2 entende isso e até tenta ir além do seu show visual, mas raramente consegue.

Com uma estrutura simples de história, a continuação explora novos ambientes de Pandora, agora com foco no mundo aquático. Os primeiros 40 minutos introduzem de forma prolixa uma nova ameaça (não tão nova assim) que força com que a família de Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldaña) saia da floresta em busca do Clã da Água, os Metkayina.

Se no primeiro longa o foco era a introdução do mundo de Pandora e dos Na’vi, neste é a exploração deste universo debaixo da água e, felizmente, o desenvolvimento dos personagens. As 3 horas de filme estão longe de ser justificáveis dentro dessa história, mas parte do tempo é realmente dedicada a mostrar não apenas quem Jake e Neytiri se tornaram no salto temporal que é apresentado logo no início, mas também quem eles são como pais. Enquanto isso, os filhos, apesar de algumas burradas gigantescas durante o filme, roubam a cena e são extremamente carismáticos e gostáveis.

Seus filhos, Neteyam (Jamie Flatters), Lo’ak (Britain Dalton), Tuk (Trinity Jo-Li Bliss) e Kiri (que traz o retorno de Sigourney Weaver) são a alma do filme. Seus erros irritam, mas o mesmo acontece com crianças da vida real que estão tentando pertencer a alguma coisa e encontrar o seu lugar. Cada pequeno passo que eles dão, ou melhor, cada pequena braçada debaixo da água é mágica. James Cameron, o diretor, entende como fazer com que você se sinta totalmente parte do que está acontecendo em tela — e confie em mim, vale realmente a pena ir na maior tela possível para esta experiência.

Do mesmo jeito que no primeiro filme ele conseguia fazer todas as pessoas se sentirem conectadas às árvores e raízes da floresta de Pandora, ele garante que cada momento debaixo da água seja tão mágico quanto. O fascínio que o diretor sente pelo oceano é estendido para quem está assistindo. Prova do quão bem o seu trabalho foi neste aspecto é perceber como as cenas debaixo da água parecem tão fluidas quanto as que acontecem fora dela. Isso é fruto de paciência e muito trabalho para o desenvolvimento de tecnologias de câmera e lentes específicas.

Cada criatura que aparece, especialmente as baleias, imprime uma sensação de que Pandora fica só a alguns palmos de distância de algum oceano real. E a vontade de explorar os oceanos vai te acometer totalmente. A magia da imersão que Avatar proporciona é única, do mesmo jeito que foi no primeiro Avatar.

O 3D não é diferente. Foi o próprio James Cameron que deu os primeiros passos com esta tecnologia e a fez tão importante para o cinema. Agora, ele mostra como o 3D ainda pode servir como uma experiência de imersão única. Não são apenas objetos e figuras que saltam para fora das telonas quando você coloca os óculos, mas é um mergulho praticamente físico que você faz para dentro dos mares de Pandora.

James Cameron ama este projeto e isso fica claro a cada segundo ou até mesmo nos créditos. Ele é diretor, roteirista, produtor e até mesmo montador do filme. Cada segundo em tela foi pensado e elaborado por ele, de acordo com sua visão para esta franquia. Entretanto, a magia das cenas — de novo, elas são realmente um espetáculo único na história do cinema — é meramente visual. O que Avatar 2 tem de dimensão com seu 3D e de beleza nos ambientes e personagens que apresenta, lhe falta em todo o resto. Não existe profundidade, não existe camada alguma dentro da história que apenas copia e cola o que já foi feito no primeiro filme.

Desde a estrutura da história (um início de apresentações, os mesmos vilões atacando a floresta, um romance simples entre dois personagens, um clímax infinito e um final com aquela narração em off do protagonista), passando pelos mesmos diálogos superficiais e expositivos e terminando até mesmo com a repetição de vilões. O coronel do primeiro filme, por exemplo, volta à vida de forma mágica logo nos primeiros minutos. A explicação remete bastante ao famoso “de alguma forma, Palpatine voltou” que assombrou tanto os fãs de Star Wars.

A sensação que fica é que estamos assistindo ao mesmo filme visto 13 anos atrás. Claro, os personagens são melhor trabalhados e são muito mais cativantes, mas é o mesmo filme. Até a mensagem é parecida, deixando apenas de lado a floresta e focando nos oceanos. E eu entendo, Avatar tem, de fato, uma premissa simples. Mas quando se fala de uma continuação que teve tanto tempo para ser trabalhada, é impossível se contentar apenas com imagens bonitas. Afinal, não se julga um livro pela capa.

O salto tecnológico é evidente, porque já faz mais de uma década desde que o primeiro filme saiu. Mas é curioso, porque o roteiro parece que foi escrito naquela época também, sem acrescentar muita coisa e sem saber por onde ir. Nem mesmo nas relações emocionais. A mensagem de paternidade e família, por mais bonita que seja, se perde no meio da megalomania da ação e do escopo grandioso que Cameron impõe para um filme que, em essência, é muito menor do que parece.

No fim das contas, além do espetáculo visual e da introdução de personagens interessantes, Avatar 2 não sai do lugar, mesmo que disfarce movimentos ao explorar um novo ambiente e novas criaturas. É lindo, sim. É imersivo, sim. E é grandioso, sim. Mas também é vazio em suas poucas camadas e supérfluo no caminho que faz de não trazer nada verdadeiramente inédito. Pandora nunca esteve tão linda, tão próxima e tão esplêndida. Mas ela também nunca esteve tão amena e perdida nas tramas que apresenta.

Avatar 3 vem aí e a esperança que fica é de que, desta vez, James Cameron seja tão ousado nos diálogos, nos riscos e na história que quer contar quanto é ao falar da grandiosidade desta franquia — a mais linda da história do cinema, mas também uma das que menos têm algo a dizer.

Nota: 7/10

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