Crítica | Lobisomem na Noite – A transformação experimental da Marvel

Está cada vez mais difícil dizer que todas as produções da Marvel são iguais. E, ainda que tenha plena consciência de sua fórmula de sucesso com público, o estúdio demostra a cada novo projeto o desejo de subverter as expectativas e se reinventar. Junto com Doutor Estranho no Multiverso da Loucura no início deste ano, Lobisomem na Noite (Werewolf by Night) é um dos primeiros passos da Marvel nos cantos mais sombrios de seu universo cinematográfico.

O especial de Halloween feito para o Disney+ mescla o que há de melhor dos clássicos da Universal Pictures com o mundo dos super-heróis já conhecido e proporciona uma aventura curta, mas atmosférica dentro dessa premissa obscura, uma vez que tem o claro intuito de prestar uma homenagem estilosa aos adorados filmes de monstros dos anos 1930 e 40. Se por um lado o outro estúdio está encontrando dificuldade em sintonizar essas criaturas para o cinema de hoje, a Disney – astuta e destemida com a cafonice – usa sua obra para celebrar o parque de diversões que esses filmes foram no passado e acerta em cheio.

A trama e o elenco

Vale destacar, antes de mais nada, que Lobisomem na Noite não é um filme de terror. Tampouco assusta. Trata-se de uma aventura dark pelos personagens periféricos das HQ’s. Além disso, àqueles que esperam uma história repleta de conexões com o MCU e easter eggs, sairá decepcionado. Aqui, os efeitos especiais são muitas vezes propositalmente estranhos, usando fumaça e espelhos no estilo retrô, enquanto a coisa toda é filmada em preto e branco com pequenos toques de vermelho (a última vez que vimos algo assim tão experimental foi em WandaVision). Definitivamente não é um filme habitual da Marvel, e isso é uma coisa fantástica.

O especial conta a história de Jack Russell (vivido pelo carismático Gael García Bernal), um homem bem vestido entre um grupo de caçadores de monstros que se reuniram para uma caçada ritual após a morte de seu líder. Não deve ser surpresa que nem tudo seja o que parece, e como o evento se torna uma luta até a morte pelo controle do poder, descobrimos que os caçadores têm a tarefa de derrubar um monstro para recuperar a tal Bloodstone – um poderoso artefato que também dá poder e respeito ao seu portador.

Dentro deste enredo simples, a história de Lobisomem na Noite mergulha sem medo em clichês de filmes de terror antigos e brinca com as referências à Drácula e Frankenstein, seja pela ótima ambientação da mansão assombrada e assustadora ou mesmo pela fotografia escura e expressionista da antiga Hollywood. Vemos uma forte e independente heroína, Elsa Bloodstone (Laura Donnelly rouba a cena), que logo se conecta com o protagonista e juntos eles precisam libertar a tal criatura ameaçadora – que descobrimos ser o doce Homem-Coisa – e recuperar a pedra escarlate antes que caia nas mãos erradas.

E, por mais divertido que seja a experiência de retornar ao que o cinema de horror era no passado, o especial infelizmente se torna dependente demais de sua estética, algo que reduz toda a trama à previsibilidade. Sem grandes surpresas ou mesmo reviravoltas, resta apenas curtir as sequências de ação banhadas de sangue e violência gráfica – até demais para um filme da Marvel. O diretor (e compositor) Michael Giacchino é claramente um fã dessas aventuras, algo que se prova através de atenção aos detalhes como, por exemplo, o Lobisomem ser feito com maquiagem prática no lugar de CGI exagerado. Isso por si só já dá o clima de autenticidade da narrativa.

Com a direção repleta de técnicas de iluminação, truques de câmera e planos que realçam as expressões aterradoras das personagens diante do homem-lobo, fica fácil entrar na tensão da história e sentir o ambiente pulsante. Ainda sobrando espaço para nos conectarmos com Jack e seu lado humano mais gentil e bondoso. Como você pode esperar de um compositor como Giacchino, a trilha sonora é especialmente elegante, que mistura elementos antigos com tambores para criar seu ótimo suspense, plenamente desenvolvido em apenas 50 minutos, ou seja, melhor do que muitas séries recentes de seis capítulos da Marvel.

Conclusão

Divertido, estiloso e retrô, Lobisomem na Noite mostra o desejo da Marvel Studios de experimentar novas formas de se reinventar, ao prestar uma eficiente homenagem aos clássicos filmes de monstros do começo de Hollywood. Ainda que este especial de Halloween seja carregado de clichês e previsibilidades do gênero, a produção embarca na nostalgia e percorre os cantos mais sombrios do MCU até então.

Pode não ser tão assustador em sua essência, mas trata-se de uma completa e bem-intencionada transformação para um estúdio já desgastado de tanto seguir a fórmula de sempre. Um filme atmosférico, charmoso, protagonizado por um ator que é puro carisma e perfeito para uma noite de filmes de horror com os amigos.

NOTA: 8/10

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