Crítica | Ingresso Para o Paraíso – Um passeio charmoso pelas comédias dos anos 90

Dizem que os icônicos e nostálgicos anos 1990 estão de volta e com Ingresso Para o Paraíso (Ticket to Paradise) – nova produção da Universal Pictures – isso fica difícil de ser negado. A energia simples e envolvente das comédias românticas daquela época parece servir de base para sustentar o filme estrelado por George Clooney e Julia Roberts, dois dos maiores nomes do cinema.

E muito além de ser apenas uma obra que fisga o público pelo nível de fama de suas estrelas no pôster, a nova comédia romântica surpreende pelo excesso de charme e pela rara química do casal protagonista, talvez a melhor que tivemos este ano. É um brilho que, por si só, já vale sair de casa para ver.

A trama e o elenco

Sem prometer muito e entregando exatamente o que se espera, o enredo segue o modelo de outras obras divertidas, como Podres de Ricos, e faz o clássico desse tipo de gênero: coloca seus protagonistas em situações inusitadas em um país exótico (ao ponto de vista ocidental, claro) e busca ressignificar as noções de família.

Desde os primeiros minutos, vemos que o pilar da trama se deve pela dinâmica azeda entre os pais de Lily (vivida pela ótima Kaitlyn Dever), uma jovem recém-formada em direito que acompanha sua melhor amiga Wren (Billie Lourd) em uma viagem de formatura para Bali.

No entanto, como podemos esperar, Lily se apaixona abruptamente por um local balinês e decide se casar de forma impulsiva. A decisão inesperada da jovem faz com que seus pais, um casal divorciado, decida viajar às pressas para a ilha, para tentar impedir que a filha cometa o mesmo erro que eles cometeram, quando se casaram 25 anos atrás.

Entre sabotagens e planos nem tão bem-sucedidos, o ex-casal fará de tudo para parar o casamento da filha, e esse empenho acaba por aproximá-los novamente e os faz repensar seus próprios erros. Ou seja, Clooney e Roberts dão um verdadeiro espetáculo de carisma, improviso e senso de humor que contagia e preenche as falhas do roteiro.

Mas isso não significa que não haja uma tonelada de clichês e tropos típicos do gênero, muito pelo contrário, por vezes a trama abraça sua previsibilidade e se diverte em não perder tempo reinventando a roda, por vezes se perde dentro de sua própria falta de visão. Toda a história é presumível e segue o curso que esperamos dela. Essa falta de surpresas certamente deve desanimar quem espera um pouco mais. Porém, o filme cresce no humor – que não é lá tão inteligente assim – mas que funciona na proposta de criar situações cômicas, muito por conta da química do elenco e da naturalidade de suas relações. Julia Roberts, em especial, exala carisma e simpatia com seu icônico sorriso de Monalisa.

A direção

Sem fugir do óbvio, o diretor Ol Parker (Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo!), sabe que para fazer sua história simplista funcionar, precisa centralizar todas as energias na força do elenco e no impacto das estrelas em cena. E, neste quesito, sua condução é bem sucedida, ainda que enfraquecida por um ritmo lento que se arrasta, principalmente nos primeiros trinta minutos de filme.

Há algumas piadas que são hilárias e outras nem tanto assim, mas a parte técnica ajuda na imersão. A ambientação quente e úmida, junto com os cenários deslumbrantes e paisagens paradisíacas colocam o espectador dentro dessa viagem, assim como a direção de arte, especialmente na criação das belas cerimônias e costumes da Indonésia. O visual é sedutor e fascinante aos olhos. Sem dúvida, a presença de uma trilha sonora mais marcante teria feito total diferença na emoção que, apesar de se esforçar, o roteiro nunca alcança.

Conclusão

Julia Roberts e George Clooney resgatam o que há de melhor das comédias românticas dos anos 90 em Ingresso Para o Paraíso, onde dão um estupendo espetáculo de química e carisma como poucos este ano. A dupla sustenta uma trama descomplicada e previsível, carregada de um senso de humor espontâneo, mas que funciona exatamente por abraçar todos os seus clichês.

Uma vez que embarcamos nessa viagem inusitada e cômica, o riso é fácil e, ainda que não nos leve ao paraíso de fato – muito por conta da falta de emoção e ambição do roteiro – certamente é um conto sobre as segundas chances que a vida nos dá que vale seu ingresso. Ou vá só para ver a química absurda de Roberts e Clooney. É pura sedução.

NOTA: 7/10

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