Crítica | Gêmeo Maligno – Dupla perda de tempo com terror requentado

São quase 130 anos da existência do cinema. Uma indústria que já explorou praticamente todos os tipos de histórias repetidas vezes. É óbvio que se torna cada ano mais difícil entregar filmes puramente originais. Estes são raros e acontecem uma vez ou outra. Isso justifica vermos obras absurdamente genéricas, mas algumas se esforçam além do normal, como é o caso de Gêmeo Maligno (The Twin), que chega ao Brasil pela Paris Filmes.

O filme, com o intuito de fisgar o público sedento por algum susto em um ano tão fraco como 2022, emprega vários tropos do gênero em seus esforços para se tornar o mais recente filme de terror “elevado”, que usa o gênero para explorar como as pessoas processam a tragédia e o luto. Infelizmente, a história apresenta tantas desorientações e uma reviravolta tão desastrosa, que fica difícil ter qualquer tipo de apego emocional. E se falha no drama e na construção da ambientação, fracassa ainda mais na tentativa de provocar medo.

A trama e o elenco

A trama é o feijão com arroz de sempre, sem nenhum tipo de tempero adicional. Casal em luto que se muda para uma enorme casa no interior buscando superar a perda e recomeçar a vida. Um lugar tão silencioso e solitário, que nos perguntamos como é capaz de esquecer algo estando ali. Mas Ok. E para completar a receita clássica, temos no centro desse enredo “copie e cole” de outros tantos uma mãe desesperada, que não consegue aceitar a morte de um de seus filhos e que sofre constante gaslighting do marido. Bom, pelo menos é assim que tudo começa, já que o desfecho abraça o cafona e clichê e torna tudo ainda mais incoerente com seu plot twist – perdão a sinceridade – patético.

Com trechos de lendas antigas finlandesas e algumas escolhas dramáticas que até tentam subverter o óbvio, aos poucos descobrimos que, assim como em A Órfã, há algo errado com o menino Elliot (Tristan Ruggeri), especialmente quando ele pede ao diabo (?) para que seu falecido irmão gêmeo Nathan retorne dos mortos e divida o corpo junto com ele. Acreditando que, na realidade, outra coisa muito mais maligna assumiu o corpo de seu filho, Rachel (Teresa Palmer certamente tem boletos para pagar!) entra na convencional jornada cansativa para provar que está falando a verdade e – alerta de spoilers – fracassa. Entre uma espécie de sonho lúcido, com imagens de seitas pagãs, e outro, a trama nos leva por caminhos inexistente e testa a inteligência do público através de pistas falsas.

Após o roteiro esgotar toda sua criatividade em pequenos detalhes, que passam despercebidos, Gêmeo Maligno mergulha num drama tediosamente construído ao fogo baixo. Não sustenta suas sequências de susto (já que depende de jump scares estridentes) e ainda, vergonhosamente, se mantém de pé apenas pelas inúmeras alusões que faz a outros filmes, como a paranoia da mãe de O Bebê de Rosemary, o fato de seu filho estar possivelmente possuído pelo satã, como em A Profecia, e o cenário escandinavo – com comportamento ritualístico, incluindo um balanço de casamento e uma coroa de trigo -, que evocam imagens folclóricas exploradas em Midsommar.

Ainda assim, recorrer ao material que já existe não é o suficiente para se fazer um bom filme. E nunca vai ser. Infelizmente, Gêmeo Maligno parece não saber disso, já que continua tão ocupado pulando de uma ideia vagamente familiar para outra, que seus personagens nunca funcionam por completo. Teresa Palmer (Quando as Luzes se Apagam) é uma boa atriz e seu desempenho é relativamente bom, apesar de exagerado. A atriz segura o filme nas costas e entrega muito mais no drama do que no pavor, já que os sustos são previsíveis ao extremo.

E para piorar essa ladeira que só desce, o desfecho – com aquela reviravolta – ainda que tenha pistas divertidas por toda a trama, rouba do filme qualquer credibilidade. O roteiro simplesmente gasta tanto tempo criando falsas explicações, que se esquece de transformar Rachel e seu marido Anthony em personagens dimensionais para que o final seja realmente convincente.

A direção e a fotografia

O terror marca a estreia do cineasta finlandês Taneli Mustonen no cinema norte-americano. E, apesar de fazer um trabalho competente de atmosfera, inspirado em outros, parece desconhecer as regras básicas para se construir um bom susto. Por outro lado, a direção de fotografia é deslumbrante.

Com tons frios e alaranjados, somados aos cenários belíssimos do lugar, nasce um filme que faz você querer se enrolar em um cobertor e beber um café quente. Todos vestem suéteres quentes e cores em tons terrosos, e as lareiras, a decoração acolhedora e a beleza natural da paisagem contrastam com o horror psicológico.

Conclusão

Enfim, apesar da atmosfera melancólica, Gêmeo Maligno é decepção em dobro. O filme depende tanto das homenagens que faz a outros filmes de terror que se esquece de criar algo emocionalmente honesto. Tudo soa familiar, a trama é requentada e a reviravolta causa revolta, nada funciona. Muito mais um produto genérico de tudo que já conhecemos, batido sem sabor no liquidificador de Hollywood, e muito menos algo que veio da mente criativa de alguém.

Lento e chato, dá a sensação de já assistimos esse filme mil vezes antes. Com exceção de performances decentes e sua áurea gótica, pouco se salva. Os únicos gêmeos, nesse caso, são o tédio e o sono. E o terror aqui é se manter imerso na história até o final.

NOTA: 3/10

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