Crítica | O Predador: A Caçada – Uma história tensa, envolvente e engenhosa

Revitalizar uma franquia cinematográfica já tão desgastada pelo tempo não é tarefa fácil, ainda mais quando esse tempo não foi lá tão bom assim para a saga. E recapturar a mesma magia que fez o primeiro lançamento (nos anos 80) ser um sucesso, é ainda mais difícil. Mas, felizmente, uma vez ou outra o cinema acerta o tom e surpreende, especialmente quando ninguém está colocando expectativa nenhuma em cima, como é o caso do impremeditado O Predador: A Caçada (Prey).

Escondido nos confins do Star+, o novo capítulo da franquia de ação que nasceu com Arnold Schwarzenegger serve como prelúdio – uma vez que se passa quase 300 anos antes do original – e foca sua trama em algo totalmente novo desde então: fazer uma história realmente boa, tendo o alienígena aniquilador como plano de fundo. E o acerto é tão grande, que esse novo filme não apenas brilha sozinho, como também renova a história e constrói um novo público para ela. O risco de recauchutar o terreno narrativo funciona e quebra a fórmula surrada pelos anos.

A trama e o elenco

Depois de um primeiro filme ótimo em 1987, seguido por bombas terríveis desde então – que inclui duas incursões no mundo de Alien – dessa vez a franquia deixa de ser linear e retorna ao começo de tudo para contar uma história contida, simples e eficiente dentro da essência captada no passado. E, diferente da temática guerra de antes, agora a ambientação é em território indígena e tem como centro uma protagonista forte, engenhosa e que nivela a inteligência com o monstro. Por vezes, a trama nos faz questionar qual de nossos protagonistas realmente assumiu o papel do Predador.

Naru, vivida pela hipnotizante Amber Midthunder (Missão Resgate) é uma jovem guerreira que precisa provar para sua tribo Comanche que está pronta para tal título. E nada melhor do que caçar um alienígena sanguinário para isso, não é mesmo? Quando o vilão Predador entra em seu mundinho limitado – e traz consigo uma tecnologia nunca antes vista – ela e seus amigos precisam derrotar a ameaça antes que o monstro aniquile tudo e todos pelo caminho.

Enquanto o filme é uma espécie de história de origem para seu alienígena titular, também funciona como uma instigante jornada de amadurecimento para sua heroína, que procura desafiar a posição em que foi colocada como coletora por padrão de seu gênero. E criar final girls boas é algo que o diretor Dan Trachtenberg faz muito bem, como podemos comprovar em sua outra obra excepcional, Rua Cloverfield, 10, um dos melhores filmes de suspense dos últimos anos.

Acima de todas as dinâmicas envolventes de O Predador: A Caçada, no entanto, este foi feito para Midthunder brilhar e para carregar em seus ombros, e ela se mostra muito mais do que adepta de ser não apenas nossa janela para este mundo de sobrevivência cruel, mas também uma liderança digna da nossa torcida até o final, muito por conta de sua inteligência, determinação e capacidade de fazer a criatura desejar nunca ter aterrissado na Terra, afinal, ela é nativa e sabe muito bem as armadilhas do lugar. Para um filme sem grandes astros e com rostos praticamente desconhecidos, o trabalho de magnetismo com as personagens é louvável e faz muito com o pouco que tinha em mãos.

A direção e o roteiro

Enquanto os demais filmes da franquia focam na ação explosiva e desenfreada, Dan Trachtenberg subverte e faz algo mais centralizado em mostrar a essência do vilão e sua caçada em território hostil, uma vez que explora todas as artimanhas da floresta e como o ciclo da vida funciona. Há diversas homenagens e referências ao filme original, como frases, por exemplo, além do visual do monstro e suas armas letais, mas o cineasta ainda encontra espaço para fazer terror e construir o suspense em torno dessa luta brutal pela sobrevivência. A atmosfera de horror é sensacional.

O Predador, diferente dos demais, dessa vez mete medo exatamente por ser uma espécie de animal selvagem, movido por seu instinto de matar. Ele está interessado apenas em derrubar o que ele vê como competição. Além de um roteiro que nos permite um vislumbre ainda mais profundo do código moral do antagonista, O Predador: A Caçada é um filme que usa todas as partes de seu ambiente natural para criar visuais impressionantes, renderizados pela direção de fotografia que cativa. Há sequências de lutas empolgantes e bem realizadas por Trachtenberg, que capta toda a energia da ação e eleva o nível de brutalidade, violência e sangue jorrando.

Conclusão

Surpreendentemente, O Predador: A Caçada prova que nem toda franquia de longa data está perdida. Ao se afastar da ação sem cérebro, brilha dentro da simplicidade de uma história tensa, envolvente e engenhosa, ou seja, menos explosões e mais um retorno ao básico, mas o básico essencial e brutal que fez Predador ser um clássico do cinema.

Mas isso não significa que este filme economiza na ação – longe disso – mas também é uma constatação do quão boas podem ser as histórias feitas em menor escala e com a supervisão de uma direção habilidosa, criativa e apaixonada pelo que faz. O único grande defeito é ver um filme tão divertido assim ser lançado direto no streaming, especialmente em um ano tão carente de boas obras. Esta caçada não apenas ressuscita a franquia do limbo, como se torna facilmente um dos melhores filmes de ação de 2022.

NOTA: 9/10

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