Crítica | Mais maduro, Sonic 2 acelera para superar seu antecessor

Sorrateiro na arte de driblar o público que torce o nariz para as adaptações de games pro cinema, o ouriço azul Sonic conquistou um divertido e bastante surpreendente filme de estreia em 2020 – sendo um dos últimos lançamentos antes do mundo afundar na pandemia. Agora, dois anos depois, o desafio da Paramount Pictures é, no mínimo, manter o nível da aventura com sua apressada sequência, Sonic 2. Felizmente, a ação avança e – com mais confiança na franquia que está sendo estabelecida – o estúdio aposta alto, sem medo de abraçar a galhofa. E esse desprendimento costuma ser o segredo do sucesso.

Não é exagero dizer que Sonic 2 amadureceu no conceito e aposta tudo no “quanto maior, melhor”, não apenas para justificar a existência dessa continuação, como também para aprofundar a fantasia e o universo rico de personagens que existe a partir dos jogos da SEGA. O live-action, ainda que com atores, desde o começo estabeleceu que há uma mitologia fantástica e alienígena que serve de base para as origens dessas criaturinhas na Terra e esse mundo tem se mantido como a carta na manga dos realizadores, afinal, dele pode ser tirado todas as boas aventuras que a franquia necessita. Dessa forma, o retorno ao mundo do velocista mantém o nível de diversão, foca bem mais nos personagens animados por computação (já que os humanos são meros coadjuvantes) e sobe o nível da ação para competir com os blockbusters atuais.

A trama e o elenco

A sequência começa exatamente de onde o anterior parou, com o vilão megalomaníaco Doutor Eggman (ou Robotnik) preso no Planeta Cogumelo e buscando uma maneira de sair de lá, retornar à Terra e colocar seu plano de vingança contra o ouriço azul em prática. Porém, ao utilizar um espinho do nosso herói, ele acaba por atrair algumas presenças indesejadas para o local – incluindo o explosivo Knuckles (dublado por Idris Elba).

Essa união de vilões faz com que a vidinha simples e pacata de Sonic em nosso planeta tenha algumas reviravoltas, especialmente quando Tails – outra criaturinha mágica alienígena – aparece para alertar o protagonista de que algo poderoso está por vir. E desse enredo simplista, descomplicado e direto ao ponto, a narrativa brinca com alguns gêneros como aventura (em especial Batman e Indiana Jones), ficção científica e até mesmo terror, na busca por entregar o máximo de entretenimento possível sem precisar pensar muito.

O roteiro fácil e repleto de artifícios para facilitar a jornada do protagonista não tenta reinventar a roda e se diverte fazendo o básico, porém – dessa vez com um orçamento mais apetitoso – arrisca em explorar novos cenários e até mesmo efeitos especiais mais elaborados (estão bem melhores em relação ao primeiro), como o confronto com um robô gigante no clímax. O vilão quer uma esmeralda para ser ainda mais poderoso, o herói precisa deter esse plano maligno e, ao mesmo tempo, descobrir o real significado da amizade e da família, uma vez que seus humanos estão de férias longe de casa e ele precisa se virar sozinho.

Sonic (Ben Schwartz) está mais maduro, mas segue ingênuo, piadista e sarcástico, algo que complementa sua amizade doce com Tails e vai contra a brutalidade de Knuckles – que por sinal foi uma ótima adição à franquia. Agora, no elenco humano, com exceção de Jim Carrey sempre exagerado e excêntrico, nada realmente funciona. Se no original a dinâmica com James Marsden era boa, nesse, todas as cenas – especialmente uma de um casamento – são anticlimáticas.

E olha que Natasha Rothwell se esforça para que seu senso de humor se sobressaia aos demais, mas nem mesmo isso funciona. No meio dessa perda de ritmo e imersão, só nos resta sobreviver às presepadas com os astros e voltar a se entreter com a jornada dos bichos digitais, especialmente quando os três aliens unem seus poderes contra o mal maior.

A direção

Desde o primeiro filme, as piadas são um problema desastroso para o roteiro e nesse temos a sensação de que nem mesmo a direção sabe o que fazer com Carrey e sua performance caricata. O humor sobe para um nível de desconforto e confronta as sequências de ação. Esse desequilíbrio faz com que o perigo iminente do vilão não seja, de fato, perigoso para nenhum dos personagens, uma vez que os momentos mais densos não são levados à sério e, mesmo dentro de uma aventura infantil despretensiosa, isso faz a diferença.

O trabalho de Jeff Fowler é colocar mais elementos e mais reviravoltas para deixar a história grandiosa em relação ao anterior, mas não há de fato alguma evolução significativa na sua condução, especialmente por conta da quebra constante de ritmo e por ter cerca de 20 minutos a mais que o outro. Esse tempo extra pesa os olhos do espectador e muitas subtramas desnecessárias poderiam ser reduzidas ou mesmo cortadas em prol do dinamismo.

Conclusão

Com mais um passeio animado pela nostalgia, Sonic 2 é uma continuação madura, que adapta as excentricidades dos games, eleva a intensidade da ação e acelera desenfreado para superar seu antecessor. De um lado, a aventura cresce, do outro, os problemas também. Ironicamente, é o ritmo corrido que faz Sonic perder o fôlego. Apesar disso, há mais personagens carismáticos em jogo para dar protagonismo às verdadeiras atrações dessa partida: as criaturas digitais.

A julgar pela cena dos créditos, o mundo de Sonic é rico o suficiente para render aventuras sólidas nos cinemas pelos próximos anos, mas o desespero de ser maior e mais insano que o anterior sem dúvida faz a simplicidade de algo que marcou nossas vidas se tornar apenas mais um caça-níquel sem coração. Enquanto o herói busca suas singelas esmeraldas do poder, o estúdio quer mesmo é extrair o máximo possível desse universo, nem que, para isso, tenha que eletrocutar as boas ideias.

NOTA: 7/10

PS: Sonic 2 possui uma cena no meio dos créditos!


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