Crítica | Red: Crescer É Uma Fera – Liberte os sentimentos que habitam em você

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Todos nós sabemos que o período da puberdade não é lá nossa melhor fase da vida. Com os hormônios aflorados e as responsabilidades de não ser mais uma criança batendo em nossa porta, não é fácil sair ileso desse caos. Mas será que algo tão intocável assim pode ser transferido para uma animação infantil? Bom, pelas mãos da Pixar, não há nada complexo demais que não possa ser transformado em uma metáfora poderosa. E, nesse caso, com um enorme (e fofo!) panda vermelho. Em Red: Crescer É Uma Fera (Turning Red), o estúdio responsável pelo maior número de lágrimas extraídas de adultos toca em feridas pulsantes e entrega novamente uma obra destemida, profunda e, sem dúvida, que celebra os altos e baixos da feminilidade com muito afeto e sensibilidade.

A trama e o elenco

“As pessoas têm vários lados. E alguns lados são barulhentos. A ideia não é afastar as coisas ruins, e sim, abrir espaço para elas, conviver com elas…”, diz o pai de Mei Lee, uma garota de 13 anos dividida entre continuar sendo uma filha obediente e o caos da adolescência. Como se as mudanças em seus interesses, relações e em seu corpo não bastassem, sempre que passa por fortes emoções (o que acontece praticamente sempre), ela se transforma em um panda vermelho gigante. Através desse sutil e doce diálogo – mais um impecável da Pixar – percebe-se onde a trama deseja chegar.

Red não é sobre fugir dos conflitos de ser uma jovem mulher num mundo complexo, mas sim, sobre abraçar as peculiaridades e sair ainda mais forte depois da tempestade. Mei gosta de seu panda e não o vê como uma maldição, muito pelo contrário, ela percebe que o animal nada mais é do que sua verdadeira face, seu lado mais sincero e, como tal, seu eu interior.

Porém, as mulheres de sua família – retraídas por um legado de tradições que as ensinaram a aprisionar sua verdadeira personalidade para se encaixar no mundo machista – não gostam que Mei tenha essa ligação forte com sua Fera interior e fazem o possível para moldar a jovem ao olhar ultrapassado de uma geração que não existe mais.

Dessa premissa, que navega entre tradicionalismo e contemporaneidade, experimentamos uma aventura encantadora, rica em temas como sororidade, liberdade e que ainda encontra espaço para tratar questões como menstruação e desejo sexual.

Sim, tudo isso dentro de uma animação voltada para crianças. Essa é a magia da Pixar. Como se não bastasse, fora dos temas profundos, há aventuras coloridas, humor inteligente e uma direção espetacular para conduzir a aventura. No elenco de vozes, Sandra Oh (Killing Eve) – que vive a mãe de Mei – é a cerejinha desse bolo saboroso.

A direção

Se tem algo brilhante nas produções de Domee Shi (vencedora do Oscar pelo curta Bao) – além de seu gigante talento para criar personagens impecáveis – sem dúvida é a forma como consegue extrair todos os pontos de debate da cultura chinesa. Ao mesmo tempo que reverencia sua beleza, diversidade e culinária, também alfineta as tradições que entram em conflito com o século 21.

Nada em seus filmes é de graça. Cada mínimo detalhe tem sua importância, seja para contextualizar a ambientação ou mesmo para colocar o espectador dentro de sua própria cabeça criativa, onde o ocidente e o oriente estão em guerra constantemente. Dessa vez, com Red, sua condução é animadíssima, bem-humorada e o ritmo funciona plenamente, muito por conta também das ótimas canções de boy bands e momentos musicais.

Conclusão

Dizer que a Pixar acertou mais uma vez é praticamente redundante, mas Red: Crescer É Uma Fera, além de ser uma verdadeira explosão de sentimentos reprimidos e uma bela história de fantasia de amadurecimento, também fornece a quantidade necessária de entretenimento e significado. Qualquer um que já tenha passado (e sobrevivido!) pela puberdade consegue se identificar com essa aventura destemida e doce do estúdio. O olhar atento da direção e o roteiro impecável celebram o agridoce despertar da feminilidade e brincam com metáforas para fazer os pais lembrar que ser adolescente não é absolutamente fácil.

Talvez, uma mistura perfeita entre o senso de reflexão da Disney e com as personagens femininas fortes e a ambientação reconfortante do Studio Ghibli, Red: Crescer É Uma Fera arranca risos e lágrimas com facilidade. Sem dúvida temos mais uma animação pulsante, sincera e inteligente para o mural de obras singulares do maior estúdio de animação de todos os tempos.

Não é um clássico, fato, mas é uma adição sólida. Afinal, quantos filmes você conhece que ensinam as crianças a serem elas mesmas? A não deixar que seus medos e dúvidas as oprimam? Exatamente por isso que devemos derrubar o muro, libertar a fera aprisionada dentro de nós e celebrar nossas imperfeições e defeitos. Você só é você mesmo se você for 100% você. E a Pixar cresceu com a gente, não adianta esconder, ela sabe disso melhor do que ninguém.

NOTA: 9/10

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