Crítica | O Projeto Adam – Diversão decente com viagem no tempo incompetente

Para começo de conversa, se você busca novidade, sinto muito em informar que O Projeto Adam (The Adam Project) não irá satisfazê-lo plenamente. A ficção científica, recheada de astros da Marvel, cumpre a cartilha básica das grandes produções da Netflix atualmente e entrega um sopão de elementos reciclados, retirados de diversos outros filmes e séries de sucesso.

Porém, se sua busca é por diversão descompromissada, sem precisar refletir sobre o que está assistindo, talvez essa obra tenha sido feita por um algoritmo do streaming pensada em você, especialmente se é um adorador daqueles clássicos “Reynoldsismos” do astro de Deadpool, ou seja, respostas curtas e rápidas com o senso de humor de uma criança de 8 anos.

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A trama e o elenco

Quase tudo sobre O Projeto Adam, do diretor Shawn Levy (do ótimo Free Guy), parece forçado e antinatural. Em certo ponto, as regras básicas da viagem no tempo no cinema são jogadas na lata do lixo para que algo completamente desprendido possa ser realizado e, bom, por mais que o roteiro seja regado de incoerências e furos vergonhosos, o fator entretenimento – talvez o mais importante nesse caso – se destaca por boa parte da narrativa, muito por conta do carisma convencional de Ryan Reynolds, preso nos mesmos maneirismos de todos os seus papeis.

Ao deixar a ciência em segundo plano (no melhor estilo: quanto menos perguntar sobre, melhor), a aventura e a ação ocupam um espaço significativo e dão ao público o que se era prometido desde o início. E, com o aumento do preço da Netflix (a mais cara do mercado atualmente), qualquer grande produção bem realizada faz valer o custo. Será?

No enredo, Reynolds interpreta Adam Reed, um piloto experiente que viaja do ano 2050 para o passado, na tentativa de salvar o mundo e corrigir erros que havia cometido na sua juventude. Ele desembarca acidentalmente em 2022 e encontra sua versão com 12 anos, vivido pelo hilário Walker Scobell.

É um pouco sem lógica que, ao apertar o botão em 2050 ele tenha vindo parar exatamente no terreno de sua casa? Sim, mas vamos prosseguir pois as coincidências apenas deixam o roteiro ainda mais pobre. Depois desse encontro, ambos seguem para o ano de 2018, para encontrar seu pai (Mark Ruffalo) e destruir o tal acelerador de partículas que, no futuro, seria capaz de produzir viagens no tempo.

Carregado de reflexões sobre a morte e o limite de tempo que possuímos na vida – no melhor estilo Click, do Adam Sandler – a trama constrói uma jornada animada, com bastante senso de humor, sobre os caminhos tortuosos que o destino nos reserva. Fora isso, Zoe Saldaña (Avatar) e Jennifer Garner (De Repente 30) possuem pouco destaque, mas emprestam grande magnetismo.

A direção e o roteiro

Já o roteiro, por sua vez, é definitivamente o ponto mais fraco e falha em estruturar todas as ambições da histórias. Não há fluxo natural e sua progressão soa apressada, por vezes repetitiva e sem lógica. E isso sem considerar os tropos padrão do gênero: as brigas típicas de pai e filho, vilão corporativo malvado, mãe triste, homem de luto pela perda de sua esposa, clichês de viagem, sacrifico altruísta… por aí vai. A dinâmica familiar é aquele feijão com arroz de sempre. Emociona quando força, mas não há nada fora do comum. Destaque apenas para a química inusitada entre Scobell e Reynolds.

Como prova de que ninguém é perfeito, Shawn Levy é sim um excelente cineasta e sabe – como poucos – mesclar comédia pastelão com a ação desenfreada, porém, dessa vez parece plenamente satisfeito em replicar um filme que nós já cansamos de ver antes com um trabalho pouquíssimo engenhoso e uma condução bagunçada.

Conclusão

Mesmo com roteiro repleto de inconsistências, O Projeto Adam captura o espirito dos filmes de ficção científica dos anos 80 e funciona como uma diversão decente, mas não há nada que já não tenhamos visto antes e, sem dúvida, feito de forma muito mais satisfatória. Um puro mashup de tudo que o algoritmo da Netflix recomenda.

A fantasia – ótima na química entre o elenco e no senso de humor infantilizado de Ryan Reynolds – se perde mesmo é na ambição de tentar ser algo muito mais inteligente do que é de fato. Como um filme de ação, realmente funciona e entretém, mas como uma obra de viagem no tempo, é difícil de engolir suas incoerências. O tempo perdido não volta, não importa quantas viagens você faça.

NOTA: 7/10


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