Crítica | Uncharted: Fora do Mapa não explora território desconhecido, mas empolga na ação padrão

Será que cinema e videogame serão eternamente água e óleo? Isso é uma questão interessante a se pensar, uma vez que os jogos estão cada vez mais “cinematográficos” e ricos em histórias complexas. Sendo assim, por qual motivo exatamente transportar um game para as telonas tem sido uma tarefa tão árdua? Quer dizer, por mais densa que possa ser a trama de um jogo – como vemos em The Last of Us, por exemplo – sua narrativa está longe de ser inadaptável, especialmente para uma mídia que já fez ótimos trabalhos com livros maiores e mais intricados, como o cinema. Dito isso, é importante saber que Uncharted: Fora do Mapa (Uncharted: Drake’s Fortune) investe em replicar a energia do game cuja trama se baseia, mas ainda está longe de ser satisfatório como poderia.

Portanto, acho que a grande e óbvia resposta para a pergunta inicial está em desconectar as mídias – ainda que seja impossível que não haja comparações, afinal, é um produto popular – e avaliar cada obra dentro de sua plataforma.

Se isso foi feito, o filme da Sony Pictures, estrelado pelo “aposta certa” Tom Holland, é divertido nível Velozes e Furiosos e envolvente estilo Indiana Jones, O Código Da Vinci, Piratas do Caribe e muitos outros filmes de aventura que envolve uma caça ao tesouro. Porém, pega seu produto de origem, extrai o plot central e alguns fan services e o descarta na lixeira mais próxima.

A trama e o elenco

Agora, se afastando do game e partindo para uma análise apenas sobre o produto da telona, Uncharted acerta em diversos pontos que ainda são difíceis para alguns filmes recheados de ação desenfreada, como por exemplo, no desenvolvimento de suas personagens, em especial, do protagonista Nathan Drake – na realidade, uma versão mais jovem do que a que conhecemos.

Não que seu passado seja amplamente colocado na trama ou mesmo que tenha alguma profundidade nível drama de Oscar, mas o roteiro trabalha muito bem para criar a sensação de empatia por seus conflitos e entrega – sem grande esforço – um condutor agradável, doce e com bons princípios, fruto também de uma performance divertida de Tom Holland (Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa), sustentada por seu carisma habitual. Veja bem, o ator não inventa a roda, mas está cada vez mais perto de se tornar o Tom Cruise de sua geração por entregar cenas de ação realmente boas e dedicadas.

Posto isso, o enredo de Uncharted – com um toque Spielbergiano – segue o feijãozinho com arroz convencional da jornada do herói – que sai de sua zona de conforto para uma aventura além do que poderia imaginar – e, dentro disso, cria bons momentos de ação – ainda que surpreendentemente poucos – e segue o caminho trilhado por obras como Tomb Raider.

Haja suspensão da descrença para ignorar os furos na história, as bobagens no roteiro para facilitar a vida de seus personagens e os “deus ex machina” para salvar o dia, mesmo quando tudo parecia estar perdido na aventura de Nate em busca de um lendário tesouro desaparecido desde a época das navegações de Fernão de Magalhães ao redor do mundo.

Unido com o trambiqueiro Sully (vivido por um Mark Wahlberg que não se esforça nunca para fazer algo minimamente novo), a dupla vai de encontro à fortuna e enfrenta alguns vilões estereotipados pelo caminho, como o espanhol Moncada (Sim, Antonio Banderas topou fazer isso!). Sem grandes ápices, a qualidade está mesmo na dinâmica cômica entre o elenco e nas espetaculares cenas aéreas de ação.

A direção

Se tem alguém em Hollywood que mais faz seus filmes tendo como base outras fortes influências, esse alguém é Ruben Fleischer, e isso está tudo bem, desde que faça jus ao reverenciado. Depois de dois bons Zumbilândia e um contestável Venom pelo caminho, o cineasta parece ter acertado um pouco mais dessa vez, ao menos no ritmo, ainda que seus filmes sofram constantemente dessa síndrome do impostor. A sensação é de que suas obras estão sempre na metade do caminho, não sendo horripilantes, mas também nunca indo além do seguro, da zona de conforto, do básico.

É um diretor perfeito para tapar buracos e é isso que faz em Uncharted. Sua condução é boa, ainda que o roteiro gaste tempo demais desvendando puzzles (é sério, são muitos), Fleischer foca no humor e ação para ofuscar os defeitos mais evidentes e dar a sensação de que a trama avança, mesmo que para praticamente lugar algum.

Porém, é no absurdo 3º ato que o filme cresce e mostra suas verdadeiras qualidades em uma sequência de ação no melhor estilo Jack Sparrow (algumas são retiradas diretamente dos jogos), algo que deve fisgar quem cochilou durante a última hora. A fotografia está adequada e os efeitos especiais são ótimos, uma vez que há bastante Tom Holland digital para as cenas mais, digamos, impossíveis. Outro destaque vai também para a trilha épica que cresce de forma constante, é animada e envolvente.

Conclusão

Com a promessa de “sair do mapa”, a aventura de Uncharted não explora nenhum território desconhecido para os fãs do gênero e se mantém na segurança do blockbuster convencional, mas, isso não significa que a adaptação dos games seja terrível, muito pelo contrário, ao abraçar a liberdade criativa de estar em uma outra mídia, o longa entrega ação surreal, comédia e um passeio agradável, que vai de Indiana Jones à O Código Da Vinci.

Tom Holland é um acerto – apesar de isso não ser grande surpresa – e, mesmo com enredo feijão com arroz esquecível, os personagens são bem trabalhados, a química é boa e a façanha entretém. Para os amantes do jogo, a fidelidade deve ser um problema a ser superado, mas, para quem deseja uma diversão sem culpa, há coisas boas te aguardando. Não é preciso nenhum mapa para saber que uma nova franquia acabou de nascer.  

NOTA: 7/10

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