Crítica | Ghostbusters: Mais Além – A sobrevida que a franquia merece

Ao vasculhar as ruínas envelhecidas de um dos maiores clássicos do cinema de fantasia, Ghostbusters: Mais Além (Ghostbusters: Afterlife) – nova produção que segue a moda de dar sequência ao filme original enquanto ignora a existência dos seguintes – definitivamente faz jus ao título nacional e atinge novo nível ao sacodir a poeira e descobrir que ainda há ectoplasma o suficiente para render uma história com o carisma e a essência “sessão da tarde” do filme de 1984, sem falhar, inclusive, com o mais primordial: passar o bastão para a nova geração. Um duplo acerto que poucos conseguem realizar.

De fato, assim como todos os grandes clássicos dos anos 80, os Caça-Fantasmas hoje só serve para assombrar as videolocadoras e, após a morte de Harold Ramis em 2014 e o filme derivado de 2016 – que sofreu um triste boicote por parte dos fãs que não aceitaram ver seus heróis da infância serem substituídos por mulheres, um exemplo clássico de fandom misógino – a franquia parece ter perdido seu prumo e desanimado em resgatar a aventura ao mesmo tempo que dá a ela uma nova roupagem. No entanto, para nosso prazer, a nova tentativa captura o fantasma que ficou após a vibe ruim do falecimento do astro, assopra para bem longe a poeira e entrega uma comédia deliciosamente inteligente.

A trama e o elenco

O roteiro astuto de Ghostbusters: Mais Além contorna as divergências com maestria e a morte de Harold Ramis é o ponto de ignição desse novo filme, uma vez que a trama acompanha a família de Egon Spengler – que também falece na história – durante uma jornada para redescobrir a existência de fantasmas no mundo após a fatídica luta dos Caça-Fantasmas contra as forças do mal em um terraço de Nova York, em 1984.

Agora, em 2021, o grupo é apenas uma lenda urbana, perdida em vídeos antigos do YouTube. No entanto, os demônios estão retornando, ao mesmo tempo em que os jovens Phoebe (Mckenna Grace) e Trevor (Finn Wolfhard) – netos de Spengler – juntamente com sua mãe Callie (Carrie Coon) e o professor Mr. Grooberson (Paul Rudd), começam a mergulhar nos segredos sombrios deixados pelo membro original do quarteto.

Assim como a franquia, a trama se desdobra em uma cidade pequena do interior dos EUA, esquecida no tempo e que parece ainda viver a liberdade de outras épocas. Tudo é enferrujado, defeituoso e antigo demais para ter qualquer valor hoje, mas a família unida percebe que a essência está onde menos se espera. Guiada pelo fantasma de Egon, Phoebe coloca o Ghostbusters de volta à ativa na luta contra a mesma ameaça (o demônio Gozer) que haviam enfrentado anos antes.

Dessa premissa divertida, o roteiro constrói uma história doce sobre legado e luto, mas que não deixa a nostalgia de participações especiais (sim, eles estão todos de volta!) e frases icônicas tomarem as rédeas, uma vez que os novos personagens possuem carisma o suficiente para sustentar a aventura sozinhos – fora as cenas de ação empolgantes com o famoso Cadillac Ecto, o carro dos heróis.

Mckenna Grace (The Handmaid’s Tale) é a alma de Ghostbusters: Mais Além e a atriz, extremamente competente, entrega uma protagonista que carrega consigo o empoderamento e a representatividade que tanto era necessário, agora, feito de uma forma mais sutil, natural e infinitamente mais impactante que o filme de 2016.

Rudd e Coon estão fantásticos juntos e a química funciona que é uma beleza para criar o senso de humor ágil da obra, mas é o jovem Logan Kim que rouba a cena e se torna um dos mais divertidos alívios cômicos do ano. De modo geral, todo o elenco está excepcional.

Os diálogos são naturais e coerentes, assim como a relação dos personagens. Por vezes, o roteiro quebra arquétipos e brinca com estereótipos enquanto subverte o “habitual”. Por exemplo, Phoebe é uma nerd “estranha”, mas que sabe muito bem se comunicar e que não se abala por ser realmente introvertida, assim como a relação com Callie, sempre preocupada da filha sofrer bullying, mas carregada de amor, na construção de uma família sustentada por uma mãe solo com traumas provocados pela ausência de seu pai (o Egon) durante a vida.

A direção

Jason Reitman (Juno) – filho de Ivan Reitman, diretor do filme original – assume a cadeira da direção e conduz a aventura com o mesmo estilo visual e senso de humor ácido do clássico ao nos proporcionar uma degustação saborosa de tudo que há de melhor no universo da franquia.

Além de monstros criados através de uma mistura de efeitos especiais e animatrônicos (que lembra demais a energia dos anos 80), a identidade dos fantasmas segue intacta e propositalmente cafona e infantil, como era no passado. Absolutamente tudo está presente, desde easter eggs, até pontas soltas, que ganham desfechos após mais de 30 anos (especialmente nas duas empolgantes cenas pós-créditos), fora, é claro, a homenagem à Ramis – agora figura central do grupo – que não poderia faltar e que rende uma cena emocionante no desfecho.

Ver Dan Aykroyd, Ernie Hudson e Bill Murray de volta – de uniforme completo e com o mesmo carisma de sempre – torna o clímax da trama algo feito com coração, respeito e a compreensão de que a franquia precisa sim seguir para novos rumos e agregar o público jovem, mas que isso pode ser realizado dentro de uma comédia que possui algo a dizer além de apenas fisgar o espectador pelo saudosismo, como anda acontecendo em outras sagas atuais.

E Reitman sabe muito bem disso, uma vez que equilibra o conflito de gerações com a ritmo desenfreado de ação contemporânea no processo de, basicamente, replicar o mesmíssimo plot do filme de 1984 – incluindo o confronto final e o próprio vilão em si. Por esse lado, o longa peca pela falta de engenhosidade. Enquanto resgata as partes mortas do clássico na tumba, acaba por copiar sua fórmula junto com a essência, que está também embrenhada de temas que estavam em alta na época – como mistérios da arqueologia e estudo de fenômenos parapsíquicos – mas que, hoje em dia, não fazem mais tanto sentido assim.

Conclusão

Em resumo, Ghostbusters: Mais Além acerta o tom entre a repaginada e o tributo, abraça suas peculiaridades e entrega uma nostálgica carta de amor à franquia. O divertido passatempo usa personagens carismáticos, easter eggs e uma trama espirituosa para fazer a ressurreição de um dos maiores clássicos do cinema ser especial à altura. Mesmo sendo mais infantil que o original, há substância e senso de humor dentro de um roteiro criativo e compromissado em dar a sobrevida que a franquia tanto merece nos cinemas.

Nota: 9/10


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