Crítica | O Bingo Macabro – Uma sátira peculiar que desperdiça seu potencial

Está aberta a temporada de terror no Amazon Prime Video que, em parceria com a produtora Blumhouse, lança a 2ª edição do Festival Welcome to the Blumhouse – focado em filmes de horror de baixo orçamento e com ampla liberdade criativa aos seus realizadores. Mas, apesar de ser sim boa vitrine de cineastas anônimos para o mundo, não foge também de ser uma espécie de descarte no streaming de obras sem força alguma para chegar aos cinemas. Talvez por conta disso a estranheza de O Bingo Macabro (Bingo Hell) tenha sua parcela agridoce. Com uma ótima sequência de abertura e uma premissa divertida à ser explorada, o terror se esgota apressadamente e mergulha na previsibilidade para sustentar uma trama pouco engenhosa e muito cafona.

A trama e o elenco

Mesmo com um começo promissor e estranhamente peculiar, o roteiro de O Bingo Macabro possui dificuldade de sair da zona de conforto do gênero, cuja a trama se passa na pequena cidade de Oak Springs, que está em vias de ser extinta. A maioria dos moradores já se mudou, os comércios estão fechando as portas, e apenas os moradores idosos resistem à extinção do local onde sempre viveram. Quando um magnata misterioso, chamado Mr. Big (Richard Brake está medonho como o vilão), abre um bingo gigantesco na cidade, Lupita (Adriana Barraza dá vida à uma heroína carismática e bastante improvável) e seus amigos desconfiam da iniciativa, mas logo os altos prêmios atraem os habitantes em dificuldade financeira. Eles mal desconfiam que a generosidade do empresário esconde objetivos muito mais sombrios e – para nossa sorte como espectador de uma obra gore – violentos.

Dessa premissa – que acerta em colocar pessoas com mais de 60 anos nos holofotes do protagonismo, uma vez que o gênero geralmente foca nos mais jovens – o baixo orçamento acaba por pesar negativamente.

A fotografia precisa de polimento e a edição é desregulada, confusa e caótica em diversos momentos. Por vezes, o longa mais parece um corte bruto, uma versão não finalizada do que poderia ter sido. No entanto, o design de produção da sala de bingo, somado à trilha sonora e à estética particular com ares da cultura latina, acabam por funcionar e movimentar a narrativa pra frente.

Esses elementos trazem impulso para o filme, isso é fato, mas, por outro lado, o enredo perde força e relaxa gradativamente. Nem mesmo o sangue jorrando e os efeitos especiais inusitados salvam o clímax do caos.

A condução da cineasta Gigi Saul Guerrero (Culture Shock), por sua vez, é coerente e talvez seja um dos pontos altos da produção. Ainda que haja dificuldade de fazer algo sofisticado, a diretora equilibra o tom do terror com a comédia desajeitada e faz o possível dentro das limitações, algo semelhante ao que o diretor Sam Raimi fez no começo de sua carreira e que o consagrou como um bom exemplo de cinema trash. Guerrero não fica atrás disso e, com sorte, vai ganhar os holofotes que tanto merece.

Conclusão

Dessa forma, o fato é que a premissa de O Bingo Macabro é tão inovadora, divertida e violenta, que poderia ter funcionado se tivesse um orçamento maior e mais apreço dos roteiristas em abraçar o trash sem medo da cafonice, aos moldes de obras como Uma Noite Alucinante ou Arraste-Me para o Inferno. Com isso, sobra apenas um filme apressado, mal acabado, previsível e que se transforma uma uma comédia involuntária, mesmo com o potencial de ser uma sátira inteligente e incisiva.

Nota: 5/10


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